23 Outubro 2018
"A injustiça social e todas as formas de exploração são apenas eufemismos do assassinato."
E. LEVINAS
Pai, professor. Orientei 18 mestres, publiquei dezenas de artigos. Sou um dos "bandidos" vermelhos que ele quer "varrer do País".
Os apoios de Mendonça Filho, Sérgio Sá Leitão, Onyz Lorenzoni e outros desse naipe provam algo óbvio.
O arco de alianças em torno de Bolsonaro não tem quadros para tocar o governo e vai precisar, se eleito, de quem sempre esteve aí.
Ao mesmo tempo, a direita alimenta a esperança de que consegue cavalgar esse governo, a partir da inexperiência do idiota do Bolsonaro.
Daí que o festival de adesões está apenas começando.
A suposta ida de Marcos Pontes para o Ministério da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro seria mais um tapa na cara do petismo.
O sujeito tinha concluído seu treinamento para astronauta na NASA, mas estava encostado, sem nenhuma perspectiva de ir ao espaço.
Numa tentativa de se promover, o governo Lula tirou-o do programa espacial dos Estados Unidos e pagou uma baba para que ele fosse ao espaço em um foguete russo.
A missão teve pouquíssima importância para a ciência e tecnologia brasileiras, mas serviu para promover o tenente coronel Pontes, que voltou já abrindo uma empresa para faturar com a fama, até que foi passado para a reserva. Os resultados das consultorias foram bem menores do que o esperado, mas agora ele está aí, aproveitando a fama para virar ministro.
Em uma eleição de dois turnos na qual o primeiro colocado foi um fascista e o segundo é um democrata que ficou bem longe, 17 pontos atrás, o papel deste último é congregar apoios e formar uma frente democrática. E fazê-lo pianinho, na humildade, sem impor condições e sem esperar que os outros tomem a iniciativa. Procurando todo mundo, bem humilde, ouvindo e pedindo. Afinal, o interesse de vencer é dele. Isso não foi feito, nem de longe. A primeira ação de Haddad no segundo turno foi visitar seu padrinho em Curitiba.
Mesmo assim, Marina Silva entregou o seu apoio, grátis, sem receber concessão programática, promessa de cargo ou sequer um pedido de desculpas pelo massacre difamatório que sofreu nas eleições passadas em mãos, não de Haddad, mas de seu partido. A crítica feita por alguns petistas ontem e hoje, de que o apoio chegou “tarde demais” e é “oportunista”, é risível. O apoio de Marina a Haddad pode ser qualquer coisa, menos oportunista. Ela está sendo atacada pelos dois lados – por bolsonaristas e por petistas. E não está ganhando nada.
É preciso entender que Marina Silva e Ciro Gomes não têm absolutamente nada a ganhar apoiando o petismo. Ciro Gomes perde eleitores antipetistas e enfraquece sua possibilidade de liderar a oposição a um eventual governo Bolsonaro. Marina também perde. Entrega à centro-direita, onde ela tem eleitores, o argumento de que ela é mesmo uma “melancia” (verde por fora, vermelha por dentro) e, na base parapetista, não ganha nada, pois ali ela está tão queimada pela difamação que mesmo a subserviência mais absoluta será sempre lida como não absoluta o suficiente.
Nada disso foi obstáculo para Marina, que provavelmente não quis ter em sua biografia a mancha da neutralidade em uma eleição na qual concorria um fascista. É mais do que fez Ciro Gomes que, não sem razões, está na Europa e auto-alijado do processo. Essa é a desgraçada situação em que a estratégia do “gênio político” que está preso em Curitiba nos colocou. "Ah, mas eles têm que pensar no país". Pois é, só eles? O petismo pensou, quando passou o primeiro turno inteiro sem atacar Bolsonaro, para inflá-lo e levá-lo ao segundo turno? Lula pensou, quando montou essa estapafúrdia chicana?
De todas formas, o que nós, cabos eleitorais de Haddad, precisávamos de Marina, ela já ofereceu. Sua área de influência é sabidamente muito maior que o 1% de votos que recebeu na eleição. O resto é conosco. É hora de usar essas citações com o primo marinista, com o amigo ambientalista que ia votar nulo, com o vizinho liberal de centro-direita que gosta de Marina mas odeia o PT. O apoio dela vale muito mesmo. E veio, é sempre bom lembrar, sem bônus nenhum pra ela.
Valeu, Marina.
Pois vivemos - triste constatar - um tempo de desvalia da inteligência. A sociedade administrada conquistou, a saber, uma de suas metas, no objetivo maior de nivelar todas as culturas e sociedades em seu mais baixo nível para poder vender o que ninguém necessita: transformar a argúcia em capricho malvisto. A inteligência é ofensiva, só sua pretensão - ou seja, sua paródia - é admirada. Ocorre a grande interdição não dita, típica de toda idolatria: não pensar (pensar é perigoso), não criticar (criticar é destrutivo).
Ao ser perguntado no RodaViva sobre seu livro preferido, Fernando Haddad mencionou o incrível Memórias Póstumas de Brás Cubas do gênio da literatura de língua portuguesa, Machado de Assis. No mesmo programa, ao responder a mesma pergunta, Bolsonaro citou um livro de Brilhante Ustra, torturador contumaz que humilhava mulheres na frente de seus filhos pequenos.
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