30 Agosto 2018
"Uma destruição total, tanto da natureza como do sossego das pessoas que vivem ali”, relata Pedro Sérgio dos Santos se referindo à instalação de um parque eólico na vizinhança da sua comunidade. O jovem, nascido e criado na Taquara, localizada no município de Morro do Chapéu (BA), conta com tristeza as mudanças que ocorreram no local após a chegada do empreendimento há pouco mais de um ano.
A reportagem é publicada por Comissão Pastoral da Terra - CPT, 20-08-2018.
Entre as transformações nas paisagens e no cotidiano, os impactos nas relações de pertencimento e culturais é o que mais chama a atenção na fala de Pedro. “A gente ia se divertir nos rios, cachoeiras, cavernas e hoje a gente perdeu tudo isso e eles proíbem passar lá, a gente que mora vizinho tem que se identificar. E não tem mais graça ir na serra, você vai ver o que lá? Torre? Não se vê mais uma planta, bicho…”, afirma.
Relatos como o de Pedro Sérgio foram ouvidos durante o “Seminário das Comunidades Ameaçadas e Impactadas pelos Projetos do Capital: Exploração Mineral e Parques Eólicos na Região Centro-Norte da Bahia”. A atividade, organizada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), aconteceu nos dias 7 e 8 de agosto em Jacobina e contou com participantes dos territórios das Dioceses de Juazeiro, Bonfim, Ruy Barbosa e Irecê.
No primeiro dia do Seminário, uma mesa formada pela professora de Direito da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Tatiana Dias, o gestor ambiental Almacks Luiz e o integrante do Movimento Popular pela Soberania na Mineração (MAM) Vinícius Montalvão, debateu os processos de apropriação dos territórios para expansão dos empreendimentos do capital.
A professora da UFBA, que também integra a Associação dos Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais (AATR) e a CPT Bahia, abordou o momento atual que estamos vivenciando, denominado por alguns estudiosos como “ultraneoliberalismo”. De acordo com a advogada, há uma aliança entre “o estrangulamento orçamentário com todos os grupos opositores, setores do patronato rural que não querem ver esses direitos [sociais] reconhecidos porque significa que a lucratividade vai diminuir, porque vão perder essas áreas que estão sendo utilizadas como fronteira para a agropecuária mono exportadora, setor mineral, energético”.
Os cortes no orçamento público em áreas sociais como saúde, educação, segurança já estão afetando de forma incisiva a população, principalmente, as classes mais pobres. No reconhecimento de direitos territoriais dos indígenas e comunidades tradicionais, como quilombolas e fundo e fecho de pasto, o ajuste fiscal também já é sentido, devido à restrição orçamentária para estas ações.
O gestor ambiental Almacks Luiz destacou uma série de impactos negativos provocados a partir da instalação de parques eólicos na região. A destruição de estradas devido ao peso das carretas que transportam as torres eólicas, perda de biodiversidade da fauna e a redução da qualidade e quantidade das fontes de água foram alguns dos citados. “A gente chamava atenção desde as audiências públicas que um estudo que você tenta minimizar isso é o estudo de impacto de vizinhança e isso não foi dado atenção. É necessário catalogar todos esses impactos para tomar uma providência e tentar minimizar isso”, comenta.
Durante o Seminário foi realizado um estudo sobre o Bem Viver, conceito inspirado nos saberes tradicionais dos povos andinos, como parte das atividades do Dia Nacional de Formação da CPT. O agente pastoral Cláudio Dourado conduziu a formação trazendo elementos do livro “O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos”, de autoria do equatoriano Alberto Acosta, e da sua experiência na Bolívia, através de uma parceria da CPT com o Movimiento Por La Tierra e Território.
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Trabalhadoras e trabalhadores debatem impactos da mineração e parques eólicos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU