22 Agosto 2018
"Oferecer suas renúncias seria um primeiro passo razoável, seguido por um compromisso de aumentar o papel das mulheres na governança da igreja e uma série de outras reformas focadas no que realmente importa" escreve Bill Mitchell, membro do conselho pastoral do Centro Paulista de Boston, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 21-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Durante uma sessão após a missa das 18h00 no domingo, nosso pastor, o padre Michael McGarry ofereceu o que parecia ser uma sugestão bastante radical.
Listando várias possíveis reações que os católicos podem ter aos ultrajes mais recentes de escândalo de abuso sexual do clero, disse que ficaria com o coração especialmente partido se as pessoas se sentissem tão repelidas pela instituição que perdessem o foco nos ensinamentos de Jesus.
"Siga sua consciência", nos encorajou. Se você sente que não quer mais nada com a Igreja Católica, disse, por favor, encontre alguma maneira de ficar ligado a uma reunião de seguidores de Jesus.
Se isso significa se unir as fileiras de uma igreja episcopal, luterana, metodista, evangélica ou outra igreja cristã, ele nos convidou a seguirmos em frente. "Sentiríamos sua falta por aqui", ele acrescentou, "mas não desista de seguir a Jesus".
Ele levantou essa ideia não como "ame ou largue", mas como uma alternativa genuína para os católicos descontentes tentados a se afastar da participação em uma igreja de qualquer tipo.
O pensamento passou pela minha cabeça e aprecio o foco de Mike no que realmente importa.
Mas, em vez disso, me vejo alinhado com a conclusão que minha esposa, Carol, articulou ao voltarmos para casa após a sessão de uma hora.
"Eu sou muito teimosa para sair", disse ela. "Eu não vou deixar que eles levem a minha igreja para longe de mim."
Por "eles", é claro, ela estava se referindo aos líderes da Igreja Católica nos Estados Unidos, os 456 bispos ativos e aposentados que falharam totalmente em se responsabilizar pelo escândalo que pôs a igreja de joelhos.
Nós aparecemos na sessão no dia seguinte à assinatura do comunicado apresentado pela Daily Theology* pedindo a todos os bispos dos EUA que apresentem suas renúncias ao Papa Francisco, assim como todos os 34 bispos do Chile fizeram.
Em circunstâncias diferentes, pedir a renúncia de todos os bispos poderia ser rejeitado como um golpe provocativo por uma série de teólogos ativistas.
No despertar do relatório do grande júri da Pensilvânia, documentando o abuso sexual de mais de mil jovens por centenas de padres, o desafio parece mais um convite respeitoso.
É um convite, principalmente, para os próprios bispos.
Ninguém sabe quantas renúncias Francisco aceitaria (até agora, ele aceitou apenas cinco das 34 demissões chilenas).
Como a declaração da Daily Theology aponta, entretanto, oferecer sua renúncia daria aos bispos americanos a chance de demonstrar através de atitudes o nível de remorso que reivindicam com suas palavras.
"Como um corpo coletivo, os bispos deram aos fiéis uma pequena indicação de que eles reconhecem e assumem a responsabilidade pela magnitude de tirar o fôlego da violência e do engano que continua sob sua liderança", afirma a declaração.
"Assim, pedimos a eles que sigam o exemplo de Cristo ao oferecer ao povo uma abdicação voluntária do status terreno. Esse é um ato público de penitência e tristeza, sem o qual nenhum processo genuíno de cura e reforma pode começar."
Depois da Comunhão no domingo à noite, McGarry leu um comunicado do cardeal de Boston, Sean O'Malley, que como chefe da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores serve como o principal conselheiro do papa sobre abusos sexuais.
"Enquanto muitos criminosos foram responsabilizados de uma maneira ou de outra por seus crimes", disse o cardeal, "ainda precisamos estabelecer sistemas claros e transparentes de responsabilidade e consequência para a liderança da Igreja cujos fracassos permitiram que esses crimes ocorressem".
Essa é uma declaração impressionante e que O'Malley também entregou ao papa, cara a cara, em 23 de julho. Bom para ele por assumir isso. Mas palavras sozinhas não movem montanhas.
O'Malley e seus colegas bispos tiveram 16 anos desde que a Carta para a Proteção de Crianças e Jovens (comumente chamada de "Carta de Dallas") criou "sistemas claros e transparentes de responsabilidade e consequência para os líderes da Igreja. "Embora a carta tenha sido revisada há dois meses, seus 17 artigos ainda não incluem nenhum remédio para um problema central na crise desde o início: o encobrimento e a má gestão dos bispos nos casos de abuso cometidos pelos padres sob seus comandos.
A nível paroquial, isso é difícil de aceitar. Funcionários da Arquidiocese encontram tempo para nos incomodar sobre pregadores leigos que não oferecem "homilias", mas apenas "reflexões" depois do Evangelho. Quando nosso pão da Comunhão é um pouco doce demais, somos aconselhados a usar apenas a receita aprovada. Ouvimos sobre isso quando um participante de nosso programa preparatório para o matrimônio reclama com a arquidiocese sobre algo que dizemos que eles consideram insuficientemente ortodoxo.
Por favor. Os bispos - incluindo o nosso - precisam esclarecer suas prioridades.
Oferecer suas renúncias seria um primeiro passo razoável, seguido por um compromisso de aumentar o papel das mulheres na governança da igreja e uma série de outras reformas focadas no que realmente importa. Mas a oferta de se demitir demonstraria, finalmente, que o apego ao seu "status terreno" é menos importante do que apoiar suas palavras com ação. Ainda há tempo para eles assinarem este documento que suas falhas tornaram necessário.
* O Daily Theology não é o autor da declaração; o site está somente hospedando a declaração.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
EUA. Por que os bispos devem acolher o convite para renunciar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU