03 Mai 2018
As ocupações de imóveis vazios, que tanto aterrorizam os grandes proprietários de imóveis abandonados por aqui, são comuns na Europa, onde o direito à moradia é tão importante quanto o direito à propriedade.
Amarildo de Souza está com Julio Renato Lancellotti e Agripino Magalhães.
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.
Veruska Donato está impressionada com os ratos. A repórter da Globo acaba de relatar essa percepção, na abertura de matéria sobre o prédio que desabou. Quinta-feira, pouco depois da meia-noite em São Paulo, um dia após a tragédia que comoveu o país. "O que impressiona são os ratos, enormes", disse ela, diretamente do Largo do Paissandu.
Eu ouvi, com estes ouvidos que a terra há de comer. Não os mortos e desaparecidos, que vieram depois dos ratos (e da cena com escavadeira, fumaça), não as pessoas que perderam tudo, os destinos incertos, os jogos políticos de empurra-empurra. "Os ratos", declarou a repórter, uma repórter no olho do furacão.
Pouco antes o Profissão Repórter (com todos os defeitos do Profissão Repórter) fizera uma reportagem digna sobre ocupações em São Paulo. Eles passaram um ano ouvindo moradores. Humanizando-os. Faltou muita coisa? Sim, até pelo tempo disponível. Mas foi uma reportagem humanizadora. Não é pouco, em meio a esse jornalismo sob escombros.
Mas voltemos para Veruska, Veruska mal conseguiu conter a cara de nojo ao relatar ratos no Largo do Paissandu, ali, ao lado da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (onde os negros podiam rezar, igreja construída por trabalhadores negros, ali do lado do incêndio), onde negros vítimas do incêndio passaram a madrugada, o dia.
Uma repórter cercada de informações e história do Brasil por todos os lados. Chocada, estupefata: ratos, observa ela, há ratos surgindo no meio do asfalto. Eles são grandes, eles são ratazanas. Uma repórter do telejornalismo global (dirigido por um sujeito que escreveu livro para demonstrar que os brasileiros não são racistas) captou o lead, a informação essencial: ela está impressionada com os ratos.
Veio-me à cabeça um conto maravilhoso de Cortázar, "Satarsa", um conto baseado em um palíndromo, "atar a la rata", a mesma frase lida de trás para a frente, os moradores da aldeia precisavam caçar as ratazanas, elas eram de fato enormes, gigantescas, uma delas tinha arrancado o braço de um bebê e a líder das ratazanas se chamava Satarsa
Veruska enxerga no Largo do Paissandu um protagonismo das ratazanas. Chega a falar dos bebês que dormem ao relento (pois, não nos esqueçamos, o prédio onde eles moravam pegou fogo), ela busca transportar sua estupefação para a sociedade, Veruska tem preocupação social: a de que ratos - ratazanas enormes, Satarsa - ataquem as crianças.
Continua o Jornal da Globo. E o jornalismo brasileiro volta ao normal. A profissão imaginada por Caco Barcellos (em um de seus bons momentos) para o porvir de seus repórteres não ganhará continuidade nos telejornais ordinários da Globo. Esses serão ocupados por Veruskas, Veruska Donato está no Largo do Paissandu e ali temos um tema, não exatamente a história brasileira da exclusão e da desigualdade, ela viu algumas ratazanas e essas ratazanas são assustadoras.
"Nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos". (Papa Francisco)
Existem cidades para serem construídas para pessoas que não tem casa. Em países decentes elas foram construídas de fato. Não há mais nenhuma responsabilidade ou interesse em nada de comum e social no Brasil?
Escandalizam-se com as ocupações, mas não com os auxílios-moradias dos juízes!
Onde dormirão os pobres?
Pessoal, olho vivo.
Está sendo postada uma foto do 1º de Maio em Havana, com uma imensidão de pessoas, como sendo de Curitiba, pela libertação do Lula.
Vamos deixar esse tipo de artifício para a direita.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU