03 Abril 2018
“Bolton já fez muito para prejudicar a política externa dos EUA”, afirma editorial de National Catholic Reporter, 02-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A presença de John Bolton na Casa Branca nos assusta. A manchete do The Huffington Post, The White House's New Warmonger (O novo belicista da Casa Branca, tradução livre), apresenta relatório sobre a nomeação de Bolton pelo presidente Donald Trump para o cargo de conselheiro de segurança nacional. E segue: "Para Trump, ele é 'osso duro de roer'. Mas para o mundo, John Bolton é uma nomeação [à Casa Branca] muito perigosa".
Bolton é uma criatura do pântano de Washington de que Trump queria fazer uso. Ele passou a vida inteira na direita da política conservadora e foi, ainda jovem, vice-presidente do American Enterprise Institute e depois atuou em cargos de nível médio nos governos de Reagan e George H.W. Bush.
Seu ápice foi durante o governo Bush. Ele era subsecretário de estado para o controle de armas, mas estava em sintonia com o antigo vice-presidente Dick Cheney e o antigo Secretário de Defesa Donald Rumsfeld, defendendo com vigor a guerra do Iraque e manipulando a inteligência para justificá-la. Uma das suas frases mais célebres da época foi: "temos convicção de que Saddam Hussein tem armas de destruição em massa escondidas". Hoje sabemos que não era verdade.
Ele carrega o título de "ex-embaixador das Nações Unidas", mas é importante lembrar que ele foi nomeado pelo segundo presidente Bush, pois Bolton não teria conseguido a confirmação de um senado de maioria republicana. Várias pessoas testemunharam sobre o comportamento abusivo de Bolton aos seus subordinados e a retaliação contra os profissionais da inteligência que desafiavam suas posições políticas.
Bolton teve sorte mais uma vez: o conselheiro de segurança nacional é uma das nomeações de alto nível da Casa Branca que não exige confirmação pelo Senado.
Ele utilizou sua visão bélica em empregos com alta remuneração na função de comentarista político, e foi a partir dessa plataforma que chamou a atenção de Trump. Ele defende um ataque preventivo contra as armas nucleares da Coreia do Norte e dizem que considera as negociações com a Coreia do Norte inúteis. Ele também chamou o bombardeamento do Irã e argumenta que os Estados Unidos deveriam retirar o acordo nuclear com o país até maio. No site Vox.com, segundo Zack Beauchamp, "a política externa estadunidense em breve pode ser estruturada por alguém que parece realmente acreditar que a guerra é a resposta para os problemas mundiais mais urgentes".
Beauchamp também relata que Bolton e Mike Pompeo, escolhido por Trump para ser o próximo Secretário de Estado, têm "laços profundos e abrangentes com um grupo organizado de escritores e ativistas antimuçulmanos... membros do movimento chamado ‘contra-Jihad’". Em outras palavras, Bolton já fez muito para prejudicar a política externa dos EUA.
O que realmente assusta, no entanto, é que com a saída do Tenente-General H.R. McMaster do gabinete de segurança nacional, de Rex Tillerson do Departamento de Estado e de outras pessoas de altos cargos, foram-se embora os "adultos na sala" que estavam, para citar Michele Goldberg no The New York Times, "observando os piores instintos de Donald Trump e seus caprichos mais instáveis". Trump publicou disparates em tweets sobre o líder norte-coreano Kim Jong Un e fez julgamentos apressados sobre questões como a embaixada em Jerusalém e as taxas sobre o aço e o alumínio, o que demonstra que ele não tem objetivos de uma política real e concreta nem princípios norteadores. Ele age por impulso, muitas vezes de acordo com a última pessoa que ouviu na televisão ou com quem conversou.
Mais adiante, essa "última" pessoa vai ser o osso duro de roer Bolton, o que é realmente assustador.
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John Bolton na Casa Branca é mesmo assustador, afirma editorial de revista americana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU