13 Março 2018
Quando publiquei a entrevista com Wagner Schwartz, a primeira que ele deu depois de ser atacado como “pedófilo” após uma performance realizada no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, acompanhei bem de perto os comentários de leitores. Um grande número de intervenções admitia que ele não era um pedófilo, mas afirmava ser inaceitável que um homem nu fosse tocado por uma criança, mesmo acompanhada da mãe, mesmo em público e mesmo no contexto artístico. O uso político e possivelmente planejado do episódio pelas milícias de ódio da internet já é bem conhecido. Mas por que milhões de pessoas aderiram ao linchamento digital de Wagner, mais de uma centena ameaçando-o de morte? O que perturbou tanto essas pessoas, homens e mulheres que encontramos o tempo todo no elevador ou no supermercado e que tudo indica não serem particularmente más?
A reportagem é de Eliane Brum, escritora, repórter e documentarista, publicada por El País, 12-03-2018.
Tornou-se claro que aquilo que os perturbava era o corpo nu de um homem e o toque de uma criança. Não há justificativa para a violência. Os ataques são inaceitáveis e deixaram sequelas. Mas é necessário compreender o que é tão insuportável para essas pessoas, as que não são robôs nem membros das milícias de ódio, a ponto de se transformarem em linchadoras.
Entre as várias reações à publicação da entrevista, uma chama a atenção: “Era só ter colocado uma bermuda!”.
O que se resolveria ali, não no palco, mas na cabeça da pessoa que fez esse comentário, assim como na de tantas outras, com uma bermuda? Sim, a bermuda esconderia que um homem tem pinto. Ou esconderia o pinto do homem. E, para essas pessoas, um corpo de homem nu, portanto com um pinto, seria ameaçador para uma criança mesmo que não existisse nada de ameaçador naquele contexto.
Mas o quê, de fato, o corpo nu de um homem, no mesmo espaço de uma criança, está ameaçando?
Talvez uma ideia de infância. Ou o conceito do que é uma criança hoje. Como é sabido, a infância não é algo que tenha existido desde sempre. Crianças sempre existiram, obviamente, mas o que entendemos por infância é um conceito recente em termos históricos. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalhavam na roça desde cedo e que se casavam aos 12, 13 anos. E só não se casavam antes porque o ato de casar estava ligado ao ato de engravidar. Assim, era necessário esperar a primeira menstruação não da menina, mas da mulher.
É comum pessoas que visitam povos indígenas ou comunidades ribeirinhas da Amazônia se espantarem com a diferença do que é ser uma criança para esses povos e comunidades. O primeiro espanto costuma ser o fato de que meninos e meninas mexem com facas, em geral bem grandes, no cotidiano. Fazem quase tudo o que um adulto faz. Nadam sozinhas no rio, escalam árvores altas, sabem fazer fogo e cozinhar, caçam e pescam. Aprendem com os adultos e com as crianças mais velhas.
Não é que não se tenha cuidado com as crianças, mas o cuidado tem outras expressões e significados, obedece a outro entendimento da vida, variando de povo a povo. Dias atrás um amigo estava numa aldeia indígena e viu um menino pequeno ligando um motor de barco. Ele de imediato avisou ao pai que o filho estava mexendo com algo que poderia ser perigoso. O pai limitou-se a dizer, devolvendo o espanto: “Mas este é o motor dele”.
É possível concluir que, nesta aldeia, para este povo, assim como para outras comunidades que vivem uma experiência diversa de ser e de estar no mundo, ser criança é outra coisa. O que quero sublinhar aqui é que nada é dado e determinado no campo da cultura. A infância foi inventada pela sociedade ocidental e continua sendo inventada dia após dia. Não existe nenhuma determinação acima da experiência de uma sociedade – e dos vários conflitos e interesses que determinam essa experiência – sobre o que é ser uma criança.
Nesta época, na sociedade ocidental, a criança deve ser protegida de tudo. Mas não só. Há um esforço de apagamento de que a criança tem um corpo. Não um corpo para o sexo. Mas um corpo erotizado, no sentido de que meninos e meninas têm prazer com seu próprio corpo, têm um corpo que se experimenta.
Esse apagamento do corpo da criança se entranha na vida cotidiana e também na linguagem. Eu mesma costumava escrever nos meus textos: “homens, mulheres e crianças fizeram tal coisa ou estão sofrendo tal coisa” ou qualquer outro verbo. Até que uma amiga me chamou a atenção de que crianças têm sexo, e eu as estava castrando no meu texto. Então, passei a escrever: “homens e mulheres, adultos e crianças...”. Conto isso apenas para mostrar que rapidamente internalizamos uma percepção geral como se fosse um dado da natureza e, na medida que a assumimos como fato, paramos de questioná-la.
Quando os adultos tentam apagar o corpo das crianças, criam um grande problema para as crianças. E para si mesmos. É um fato que as crianças têm sexualidade. Não é uma escolha ideológica. Essa experiência é parte da nossa espécie e de várias outras.
Qualquer pessoa que tenha filhos saudáveis ou acompanhe crianças pequenas próximas sabe que elas se tocam, se masturbam, fazem brincadeiras com os amigos, descobrem que seus pequenos corpos podem lhes dar prazer. E esta já se mostrou uma experiência fundamental para uma vida adulta responsável e prazerosa no campo da sexualidade, que respeite o corpo e o desejo do outro, assim como o próprio corpo e o próprio desejo.
Qualquer adulto que não recalcou sua memória destas experiências com o corpo vai lembrar delas se for honesto consigo mesmo. Quem tem corpo tem sexualidade. O que não pode ter é violência contra esses corpos.
Por que então o corpo nu do artista se tornou ameaçador não para a mãe e para a filha que o tocaram, não para vários outros participantes da performance, mas para quem apenas viu essa cena em um vídeo na internet e a identificou como uma violência – e não qualquer violência, mas aquela que é decodificada como a mais monstruosa de todas, que é a da pedofilia?
Poderíamos pensar no óbvio. A infância é idealizada. Os adultos de hoje parecem precisar manter a criança como um ideal de pureza, protegida dos males do mundo. Essa é uma construção que faz sentido, embora o tempo todo as crianças estejam lidando com filmes, séries e jogos com muita violência, e aqui não estou fazendo juízo de valor se isso é bom ou não. Apenas pontuando que parece não ser de tudo que os adultos entendem que a criança deve ser protegida. Elas podem ir para a escola em carros blindados, do muro do condomínio para o muro da escola, na atual vida entre muros. Mas, ao mesmo tempo, sem colocar seus corpos em risco, arriscar-se em jogos perigosos nos tablets e celulares. A questão, portanto, está na ordem dos corpos.
Aqui, vale apontar algo importante. Nem todas as crianças devem ser protegidas: apenas as crianças que são “nossas”. As crianças dos “outros” podem, por exemplo, ficar no sinal pedindo esmola ou fazendo malabarismos com bolas sem que isso cause suficiente incômodo. Podemos lembrar de um episódio ocorrido no ano passado no Shopping Higienópolis, em São Paulo, no qual um homem branco com uma criança negra numa mesa de café foi abordado pela segurança, também negra: “Senhor, este menino está lhe incomodando?”. Ela tinha ordens de não deixar “pedintes” perturbarem os clientes.
O menino era filho daquele homem, mas mesmo estando com o uniforme da escola, foi visto como a criança indesejada por conta da sua cor. Ou visto como a não criança, se pensarmos no modelo de idealização. Aquela criança poderia simplesmente ser posta na rua, no lado de fora do shopping, se estivesse incomodando o homem branco. E sempre penso nessa segurança, que também era negra, e em como deve ter sido duro para ela e para a criança que ela foi, assim como para a adulta que se tornou, pressionada a cumprir esse tipo de ordem contra si mesma.
Também penso no que aconteceria se fosse o oposto: um homem negro com uma criança branca com o uniforme de um dos colégios mais caros de São Paulo. Talvez a segurança fosse instada a pensar que o homem negro tinha sequestrado ou estava abusando do menino. E ainda precisamos pensar em como é possível achar legítimo que “pedintes” não possam dividir o espaço de um shopping. Como se o problema fosse apenas de engano, pelo fato de que aquele menino não era pedinte. Em resumo: o olhar sobre os corpos é determinado pela política dos corpos.
Há crianças que, por sua raça e classe, não são crianças para aqueles que detêm o poder e os privilégios. Para elas, a infância ainda não foi inventada. Ou só foi inventada em leis como o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que a bancada da bala e da bíblia do Congresso faz um esforço persistente para derrubar. Há crianças, como os episódios no Rio de Janeiro são pródigos em demonstrar, que podem ter a cabeça explodida por uma bala “perdida” da polícia. Podemos concluir que, no senso comum, a infância não foi inventada para todas as crianças.
É evidente que a menina que, junto com sua mãe, participou da performance no museu, sabia que aquele corpo era de um homem nu. Se não soubesse, aí sim seria preciso se preocupar com a criança, porque ela estaria deixando de reconhecer a realidade do corpo do outro. Ao brincar com o corpo do artista, ali convertido num dos “bichos” da obra consagrada de Lygia Clark, a criança não temeu ser atacada por ele. Não só ela estava em segurança, como um corpo de homem nu não era sinônimo de violência ou de ameaça de estupro para ela. E não porque a menina era tão pura que não percebeu a nudez do homem – ou porque era tão pura que não tem vagina, mas porque ela não faz a sinapse maluca de que um corpo nu é sinônimo de violência.
Sem contar que estava em público e acompanhada de sua mãe. Se para aquela menina o corpo nu de um homem fosse de imediato um alerta de que ela seria estuprada, então seria preciso se preocupar – e muito – com a saúde mental daquela menina.
Conheço crianças que teriam um sobressalto com o corpo nu de um homem. E conheço crianças que teriam tido um sobressalto também com o corpo nu de uma mulher. Ou que ficariam paralisadas. São crianças que foram abusadas e violentadas por adultos. Em geral seus pais, tios e padrastos, mas também mães e tias. Com bem menos frequência, estranhos. A maioria dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, como é comprovado, são casos de incesto. E acontece dentro do que a bancada da bíblia defende ser uma família “como deus criou” e, portanto, a única aceitável: a de homem com mulher. Não é um juízo de valor, é um dado estatístico. Em todas as classes sociais.
A menina que participou da performance com sua mãe não sofreu violência sexual. A violência que sofreu foi a de ter sido exposta na internet como vítima de pedofilia. Esta possivelmente a marcará de alguma forma. Assim como marcou o artista e a mãe da menina. Há uma outra pergunta, também bastante óbvia, mas nem por isso menos importante. As pessoas que se chocaram e, em seguida, atacaram o artista, acham que elas mesmas, caso estejam nuas com uma criança, são capazes de violar essa criança? É isso que temem? É o medo do que ronda nos seus interiores que as transforma em linchadoras? É de si mesmas que querem proteger as crianças?
É necessário perceber o quanto é absurda – ou mesmo violenta – a ideia de que um corpo nu de homem seja sinônimo de violência sexual. Bastaria então um homem estar nu, para de imediato atacar a criança que estiver perto dele, como se essa fosse a condição de todo homem? Caso isso fosse verdade, seria uma bermuda ou qualquer outra roupa que impediria a violência? Alguma vez alguma violência foi impedida porque alguém não conseguiu exercê-la por causa da roupa? Não são justamente as roupas um grande objeto de fetiche sexual na sociedade de consumo?
Todas essas me parecem perguntas importantes, que exigem respostas honestas e investigativas. Mas há algo mais. A psicanalista Ilana Katz, que tem uma larga experiência clínica com crianças, fez uma reflexão muito precisa no programa Café Filosófico, da TV Cultura (que reprisa no próximo dia 18 de março, às 21h). Ela apontou que podemos estar num momento de transformação da ideia de infância. A famosa frase de Freud – “Sua majestade, o bebê” – pode já não dar conta de uma transformação mais recente. A frase expressa a ideia do filho como centro do investimento da família, o que vai prender a criança na posição de objeto de realização do desejo do pai e da mãe. Algo do tipo: “Meu filho vai ser tudo o que eu não sou”.
Nesta posição, a criança determina todo o investimento emocional e financeiro da família, o que a coloca num lugar bastante insuportável, porque pesado demais: o de bancar o desejo dos pais ou a realização dos pais. É muito não só para um pequeno corpo, mas para qualquer corpo. E, assim, as crianças sofrem bastante, a começar pelo peso de uma agenda cheia de aulas para que tenham habilidades que as tornem melhores do que as outras – ou as tornem o que seus pais não puderam ser. Ou, melhor dito, se tornem o impossível. Algo expresso numa frase seguidamente ouvida da boca de muitos pais: “Só quero que meu filho seja feliz”.
Só?
Com a mudança trazida pela internet e por todos os brinquedos tecnológicos que se seguiram a ela, porém, uma nova relação se estabelece. Não é que a criança como objeto narcísico tenha deixado de existir, pelo contrário. Basta olhar ao redor para compreender que ela é uma ideia ainda bastante ativa. Mas há uma outra relação que se colocou em movimento com a transformação tecnológica.
É frequente que pai ou mãe estejam no mesmo espaço físico que a criança, mas cada um brincando com seu tablet ou celular ou qualquer outra coisa. Ali, mas falando com outras pessoas. “Transmitimos algo a nossas crianças quando estamos de corpo presente e cabeça ausente ao seu lado. Estamos ali, mas gozamos em outro lugar”, diz Katz.
Neste lugar, o das conversas digitais, estão também pessoas que valorizamos. Mas nem nós estamos lá com nossos corpos, nem elas estão lá com seus corpos. “A ideia de que estejamos ali, do lado de nossas criancinhas, de corpo presente e gozando em outro lugar – vai vendo seu filminho enquanto eu estou aqui fazendo de conta que converso sobre ele com você e respondo aos oito e-mails que sobraram de meu dia de trabalho –, vai tecendo uma maneira de estar com o outro para cada um de nós, e para criança também”, assinala a psicanalista. “O que a gente transmite sobre estar com o outro para essa criança? O que é para ela estar com o outro? Qual é o lugar do corpo?”
A partir dessa observação, passo a me perguntar o que aconteceu no museu e fora do museu. Aquela mãe e aquela filha estavam lá com seus corpos. Elas compartilhavam uma experiência, a de participar de uma performance artística. Havia lá um outro corpo, o do artista, que também estava presente. É isso, afinal, uma performance. Algo que acontece com os corpos presentes.
Mas havia alguém, a pessoa que fez o vídeo, que talvez não tenha suportado estar com seu corpo ali, tanto que precisou colocar uma câmera entre o seu corpo e os outros corpos. Fez então a “denúncia”, ao lançar o vídeo na internet. Mas lançar o vídeo na internet não mais como aquilo que era, uma experiência de corpo presente, uma experiência de compartilhamento do espaço, mas sim lançá-lo como o que não era, o recorte de um vídeo, uma imagem de corpos, mas sem os corpos.
O que essa pessoa estaria denunciando? O que a horrorizou tanto? Talvez o fato de que ainda é possível estar com nossos corpos presentes e compartilhar uma experiência, sem que essa experiência seja uma violência.
Ou talvez a descoberta de que, sim, há corpos. Era preciso destruir o corpo que teve a ousadia de se dar ao outro como objeto lúdico. Era preciso destruir o artista e também culpar a mãe por acreditar que é possível ter uma experiência de corpo presente.
Assim como tornar vítima uma criança que não era vítima.
Diante do espanto com a possibilidade dos corpos presentes sem violência, era preciso converter o acontecimento em violência, fazendo a denúncia de uma violência que nunca houve. E então, sim, violentar os corpos.
Esta é uma parte. Há outras. Talvez a mais interessante seja a de que começamos a ter uma dificuldade de outra ordem com nossos corpos e, portanto, também com a sexualidade e com o erotismo, que é o que nos leva ao contato com o outro. É claro que podemos contar a história da humanidade também como uma história da sexualidade ou uma história do controle sobre os corpos. Há algo novo, porém, que é a possibilidade de estar com o corpo num lugar e a cabeça no outro.
No mundo dos sem corpos, no mundo em que se goza cada vez mais sem a experiência do compartilhamento com os corpos, o corpo do outro talvez tenha se tornado uma ameaça. O corpo do outro nos ameaça com o toque, que não é o do aviso de mensagem no WhatsApp. E, assim, qualquer possibilidade de encontro entre corpos não é encontro, mas violência. E então, como aconteceu no episódio do museu, colocamos nossos corpos na rua, mas só para destruir os outros corpos. Os corpos como um contra, não um junto.
Nessa deformação, há um esforço também para eliminar pênis e vaginas da representação dos corpos nos livros didáticos e também em qualquer representação da infância. Como se as possibilidade tecnológicas que permitem manipular e retocar as imagens servissem também para isso. No campo da educação, é a escola sem pinto. Também como representação, temos amputado e mutilado os corpos humanos. E logo as crianças terão talvez apenas fantasmagorias para dizer de si. Não é por acaso que tantas crianças e adolescentes se sentem sem contornos, a experiência de ter corpo como algo insuportável. E insustentável.
São duas categorias. Uma é dada pelas relações de prazer da criança com seus corpos durante a infância. Outra, inteiramente distinta, é fazer da criança um objeto sexual para adultos. Parece que muitos confundem uma coisa com outra, tomando o diferente como o mesmo. Deletar da concepção de infância o corpo das crianças parece ser uma nova modalidade de violência.
Aqueles que que violentaram a performance do museu sabem que as crianças têm corpo. E que os corpos infantis sentem prazer também erótico. E isso é natural. Cabe aos adultos encontrar limites diante dessa realidade.
O que deve nos preocupar é outro fato: o de que os adultos atuais se sentem tão frágeis, tão incapazes de se colocar limites diante dessa percepção, que precisam eliminar a dimensão erótica do corpo das crianças para que não se sintam compelidos a atacá-las. Neste sentido, a possibilidade tecnológica de viver uma vida sem corpos com nossos brinquedos digitais acirrou um nó que é bem mais enraizado. Exatamente porque a vida humana sem corpo é só uma fantasia. E uma fantasia bastante desesperada, como o acontecimento do museu demonstra.
É também por isso, por causa do medo dos corpos, que o debate está interditado. Ensinar a ter medo do corpo do outro, ensinar que a experiência com o corpo do outro é sempre uma violência, ensinar a punir quem tenta romper o muro entre os corpos, são as lições que temos dado às crianças. E com a desculpa perversa de protegê-las.
Ao inventar uma infância sem corpo, ou com medo do corpo, os adultos de hoje são péssimos criadores de futuro.
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A invenção da infância sem corpo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU