28 Fevereiro 2018
A Globo News, repito, a Globo News
Disse que a economia está melhorando porque aumentou em 22% o gasto de brasileiros no exterior
Sabem o que isso significa?
A sensação é que o PT está se dividindo em dois grupos em relação às eleições de outubro.
Um grupo mais coerente, liderado pelo José Dirceu, quer extrair as consequências concretas da denúncia de "golpe", "fraude", eleições viciadas, supressão da democracia, etc.
Ora, se estamos vivendo tudo isso, não dá para concorrer naturalmente nas eleições de outubro. Ao contrário, é preciso usar o processo eleitoral para denunciar a fraude. Seria algo parecido com a anti-candidatura de 1974.
O outro grupo, hoje majoritário, é composto por quem tem ou quer ter cargo eletivo (e por quem vive dos mandatos). Esse pessoal usa os mesmo argumentos (golpe, fraude, etc), mas é só da boca pra fora. Na prática já estão pensando o pós-Lula e os planos B, C, D... Essas pessoas não arriscarão suas carreiras políticas em torno da denúncia do processo eleitoral.
Lula terá 73 anos e será sua última eleição. Os demais continuam por aí e têm ambições para 2022, 2026...
Toda vez que eu chamo o Partido Novo de startup política de banqueiros algumas pessoas acham que estou sendo injusto.
Vou dar apenas um exemplo do porquê faço essa provocação. Dos atuais seis membros da executiva nacional do partido, pelo menos cinco são egressos do sistema financeiro.
Tá todo mundo falando do tal Tiago Leifert, sem se atentar para o fato de que ele trabalha sob a Direção Geral de Jornalismo e Esporte da Globo. O "e" é fundamental para entender que ele está apenas cumprindo um papel.
Para a Globo, esporte não é jornalismo. Esporte é entretenimento e, portanto, não segue as mesmas regras do jornalismo.
E, aliás, a Globo também está sendo coerente. Quem paga milhões pelos direitos de televisionamento não pode se dar ao luxo de fazer jornalismo sobre o objeto dos seus direitos. A lógica é a da promoção do espetáculo.
O tal Tiago Leifert é só uma peça da engrenagem.
(Foto: Tânia Rêgo/ Agência Brasil).
Fazer comparações em redes sociais é sempre temerário porque por mais que você isole quais são os termos da comparação, vai ter gente te acusando de igualar coisas que você não igualou. Mas, como desentendimento é mesmo o nome do jogo, vamos lá.
O apoio da maioria dos liberais à ocupação do Exército no Rio de Janeiro é o equivalente moral do apoio da maioria da esquerda à ditadura venezuelana.
Vamos primeiro desbastar os desentendimentos: não estou comparando o Rio de Janeiro com a Venezuela. Não estou igualando a situação do Rio com a da Venezuela. Estou dizendo que a RELAÇÃO que a maioria dos liberais estabeleceu com essa intervenção é moralmente comparável à RELAÇÃO que a maioria da esquerda estabeleceu com a ditadura venezuelana.
É igualmente incoerente, para quem se reivindica socialista democrático, apoiar uma tirania como a de Maduro como para quem se reivindica liberal apoiar uma intervenção como essa do Exército no Rio.
Não, não é necessário me dar aulas acerca da compatibilidade entre liberalismo e assunção federal de tarefas de segurança pública. Verdade, não são princípios incompatíveis. Mas ESTA intervenção, tal como está colocada, eleitoreira, fazendo um uso do Exército que não é aquele para o qual ele é preparado, condenada por quase todos os especialistas independentes em segurança pública, baseada em exibição grotesca de força, ancorada no fichamento de moradores da comunidade como se criminosos fossem e incluindo uma humilhação diária para aqueles que estão submetidos a ela é coisa que não deveria ser apoiada por nenhum liberal digno do nome.
No caso da esquerda, também não é necessário me dar aulas sobre as dificuldades que atravessa todo regime de transição ao socialismo. Sim, mudar a natureza do Estado sempre acarretará crises. Mas ESTA situação na Venezuela, com fome generalizada, caça a opositores, câmaras de tortura, constantes mudanças da regra do jogo, esvaziamento de parlamento, brutal repressão nas ruas, aposentadorias compulsórias de juízes e disseminação da corrupção armada é coisa que não deveria ser apoiada por nenhum socialista digno do nome.
Há algumas poucas vozes na esquerda brasileira que denunciam o que ocorre na Venezuela: o PSTU, por exemplo. Há alguns poucos liberais da minha TL - o Ivanildo Santos Terceiro é um deles - que denunciam a intervenção no Rio. Mas em ambos os casos, o apoio tem sido a regra. Nos dois contextos, as justificativas costumam recorrer a falácias lógicas: "o imperialismo", no caso da Venezuela e, no caso do Rio, o famoso "tem que fazer alguma coisa", sempre desacompanhado de algum argumento que demonstre o que ESSA COISA que está sendo feita conseguirá realizar.
Nos dois casos, desconsidera-se o principal, o enorme sofrimento das populações envolvidas. Parabéns aos poucos liberais que mantiveram sua coerência e se recusaram a apoiar mais uma extensão do braço armado e repressor do Estado. Parabéns aos poucos socialistas que não estão se calando ante a situação venezuelana. Estar em minoria aqui é mérito.
A intervenção m-i-l-i-t-a-r no Rio (tomam-nos por completos idiotas ao insistirem na definição de intervenção "federal", coincidentemente comandada por militares) ganha a contribuição ridícula - ainda que não exatamente uma novidade histórica - dos donos dos meios de comunicação e de jornalistas fracos, cúmplices, indignos da condição de defensores da democracia e dos direitos elementares.
A falsa entrevista coletiva no Rio coroou esse movimento do qual participam editores covardes e repórteres abobados. Coletiva com perguntas no papelzinho, filtradas pelos militares, evidentemente não é uma coletiva. É um escárnio. Os interventores escolheram as perguntas da Globo e do Estadão - veículos mais dóceis. Folha ficou de fora, imprensa estrangeira ficou de fora.
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Temos, portanto, também uma intervenção na imprensa. Onde não vemos a mesma reação que tiveram os professores universitários ao rechaçarem o autoritarismo folgado do ministro Mendoncinha, da Educação. Os jornalistas brasileiros foram adestrados nas duas últimas décadas a ser cada vez mais pamonhas, acríticos em relação às arbitrariedades das chefias. E por isso se calam até diante de truculências verde-oliva.
O papel do jornalismo, mais do que o de ser "oposição", como dizia o Millôr, é o de resistência. O resto é armazém de secos e molhados. Conivência, celebração dos poderes políticos e econômicos mais sórdidos, injustos e assassinos. Para cada bala "perdida" no Rio haverá um editor suficientemente idiota a disparar a próxima matéria chapa-branca. Para cada simulacro de ação pública há um repórter ingênuo na outra ponta do fuzil.
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Quero saber, portanto, se os sindicatos - lembro-me, vagamente, da existência de sindicatos de jornalistas - e a Federação Nacional dos Jornalistas se pronunciarão com a contundência necessária. Se a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (que tem meio que aproveitado o vácuo da omissão sindical) ficará indignada com o que constitui uma evidente agressão à imprensa por esses usurpadores.
Durante a ditadura militar tínhamos muitos resistentes nos jornais e na imprensa alternativa. Ao lado, claro, de completos canalhas, de gente que não se importava com a tortura e com o sequestro do país. Em 2018, com as novas formas de captura da democracia, temos essa curiosa novidade: quase todos os coleguinhas fazem de conta que o problema não é também com eles.
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Como se fosse possível vivermos golpes sem o aval de Marinhos e Mervais, de Mesquitas e repórteres (editores, redatores) medíocres. Dispostos a participar como eternas marionetes da história brasileira do jornalismo infame. Desse jornalismo com perguntas "de papelzinho", sujeitas à aprovação de chacais. Desse rascunho
Que cada jornalista presente na "coletiva" e tenha se manifestado tenha o nosso respeito. Aos demais, os que participam mais ou menos conscientemente dessa pantomina, dessa farsa, dessa farra, desse rapto, devemos manifestar nosso mais completo desprezo.
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Jornalismo é outra coisa. Vocês estudaram (quanto estudaram) exatamente para quê?
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