01 Dezembro 2017
(Foto: Maringas Maciel, em SP)
Pietá nas ruas !
No aeroporto de Congonhas, em São Paulo, sou bombardeado por uma propaganda enganosa do governo federal sobre as mudanças na Previdência.
Entre outras coisas, é repetido a cada instante que para os trabalhadores rurais nada muda.
Ora, até agora a pessoa tinha que comprovar tempo de trabalho. Isso mudou: passa a ter que comprovar tempo de contribuição para o INSS.
Com a informalidade no trabalho imperando no campo, são pouquíssimos os trabalhadores que poderão comprovar o tempo de contribuição exigido.
Assim, a situação muda - e muito - para os trabalhadores rurais.
A afirmação da propaganda é, portanto, mentirosa.
O Rio Xingu, que já está sofrendo com a construção da hidrelétrica de Belo Monte, vive agora com a ameaça iminente da instalação da mineradora canadense Belo Sun, que pretende extrair milhões de toneladas de ouro das reservas existentes na Volta Grande. O seminário “As veias abertas da Volta Grande do Xingu” visava apresentar estudos que discorrem sobre os efeitos da instalação da mineração num rio já afetado por uma grande hidrelétrica. A abertura do evento estava marcada para às 15h. Por volta de 14h30min, as pessoas começaram a se deslocar para o auditório. Uma comitiva com cerca de 40 pessoas, liderada pelo prefeito de Senador José Porfírio, Dirceu Biancardi (PSDB), chegou gritando palavras de ordem em favor da instalação da Belo Sun e acusando os organizadores do evento de não tê-los chamado para a “audiência pública”. Mas não era audiência pública, era um seminário, que apresentaria pesquisas que estavam sendo realizadas dentro de uma universidade pública, a UFPA. Vale ressaltar que a Belo Sun, maior interessada na autorização da mineração no Xingu, estava presente com cinegrafista para registrar todo o ocorrido, gravando depoimentos em favor da empresa dentro do auditório.
A professora Rosa Acevedo, que iria coordenar os trabalhos, achou que, por uma questão de segurança, era necessário cancelar o evento, pois as pessoas, devidamente incitadas pelo prefeito, estavam bastante alteradas e o risco de violência física era evidente. As pessoas do Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que organizou esse evento em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e o projeto Nova Cartografia Social da Amazônia da UFPA, coordenado pela professora Rosa, tiveram seu direito à manifestação cerceado pelo risco de serem agredidas de fato.
Ao informar no auditório que o evento estava cancelado, a professora Rosa foi atacada pelo grupo aos gritos, pegaram-na pelo braço e exigiram que o evento fosse mantido porque eles estavam ali para defender a Belo Sun. Atacaram, sempre aos gritos, a UFPA, como se não fosse papel da universidade questionar a mineração. A professora Rosa tomou a decisão de cancelar o evento diante dos ânimos belicosos e violentos, a falta de segurança era evidente e o grau de hostilidade era muito alto para correr o risco. Mas a tentativa da professora de evitar a violência acabou fazendo com que ela fosse violentamente atacada e as pessoas que estavam presentes foram simplesmente TRANCADAS no auditório, e mantidas em cárcere privado pelo prefeito e seus apoiadores. Ninguém saía, ninguém entrava.
Dentro do auditório, o prefeito Dirceu Biancardi estabeleceu as próprias regras e se colocou na mesa para falar, dando ele próprio início ao evento que a professora Rosa havia acabado de cancelar. Ou seja, os participantes foram forçados a permanecer para escutar o prefeito. A defensora pública que estava presente tentou conduzir os trabalhos e acalmar os ânimos, mas o prefeito se abancou na mesa ao lado dela e o evento ocorreu assim, com todos coagidos. Logo depois, o deputado estadual Fernando Coimbra (PSD) também chegou ao auditório, sentando-se lado de Dirceu Biancardi, ambos em apoio à Belo Sun.
A professora Rosa sentou-se na plateia e mal voltou a falar. Ela foi violentamente silenciada dentro de um espaço em que nós, pesquisadores da UFPA, julgávamos ter alguma autonomia. Por sua vez, o prefeito assumiu seu belo posto à força, da forma mais arbitrária que podemos imaginar. Arbitrário como os projetos que ele defende. A porta do auditório só foi reaberta quando uma equipe de tv chegou. Quando eu saí para procurar a segurança do campus, fui achincalhada no caminho, até a porta, com pessoas falando maldosamente que aqueles pesquisadores deveriam ser levados pra tomar ferrada de pium no garimpo pra que a gente parasse com essa tolice de atrapalhar o desenvolvimento dos outros. Nunca respirei tão fundo na minha vida inteira. Eu já levei muita ferrada de pium, evidente que não como eles. Mas eu presumo que, se mil piuns é ruim, um milhão de piuns é muito pior. E é o que vai acontecer quando as águas do Xingu apodrecerem com a mineração e a hidrelétrica. Os peixes já estão morrendo em poças d’água podre que são resultado do barramento do rio por belo monte. Ontem me relataram que as pessoas rezam pra chover e dar uma enxurrada que leve os peixes, para que eles parem de agonizar. Já vi pescador largo chorando que nem criança porque os peixes estavam morrendo daquela forma no Xingu.
A programação prevista não ocorreu. O clima de tensão era muito forte e o prefeito transformou o espaço no seu palanque próprio. No fim, os grupos saíram separadamente, pois o medo estava instalado naquele auditório. Todos os que estavam ali ficaram simplesmente em estado de choque. Demoramos a absorver a pancada, e, eu ressalto que tudo o que aconteceu serve para revelar os mecanismos escusos que estão por trás desses grandes projetos. Empresas e governos jogam com a vida das pessoas e de outros seres vivos, incluindo nossos encantados e tudo significa a Amazônia pra nós. Foi como disse Geovani Krenak no outro evento que estava acontecendo na UFPA ontem: - as empresas acham que ainda está difícil conseguir instalar esses projetos, elas querem que fique mais fácil-. E talvez isso inclua poder calar e matar todos aqueles que se opõem aos crimes contra a vida perpetrados com a construção de um grande projeto. Precisamos REXISTIR.
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