24 Novembro 2017
"A publicidade estimula comportamentos centrados no consumo obsessivo dos produtos das grandes corporações, criando uma população desinformada e assustada, mas obcecada pelo consumo. Além disto se faz a promoção das visões mais retrógradas e fomenta-se o clima de ódio social" escreve Manfredo Araújo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Uma pergunta fundamental para a compreensão de nossa vida coletiva hoje é: quem exerce realmente o poder? Beluzzo e Galípoli articulam numa frase a compreensão da transformação que nos marca: “Hoje é a lógica da finança globalizada que delimita o território ocupado pelas opções de política democrática”. Na mesma direção vai o colega filósofo M. Abdala: “O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial com dimensões globais e conformações específicas locais. Os donos do poder não são os políticos”.
Nos Estados Unidos, com a composição das bancadas corporativas formadas através do financiamento das campanhas, diz-se que lá se tem “o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar”. O Brasil é um espetáculo: temos a bancada ruralista (cf. a portaria sobre a fiscalização do trabalho escravo, instrumento de compra de votos de parlamentares no caso da denúncia contra Temer), a bancada da grande mídia, a das empreiteiras, dos bancos, das montadoras. A pergunta que se impõe é: quem de fato representa os cidadãos? Não significa isto uma profunda deformação do sistema político? Neste contexto por acaso é estranho que se aprove o congelamento dos gastos públicos com profundas consequências sociais, a liberalização do sistema financeiro, a mutilação do Código Florestal, o bloqueio da taxação das transações financeiras e das grandes fortunas?
L. Dowbor procura mostrar que isto atinge também os outros poderes da República: “O poder corporativo tornou-se sistêmico, capturando uma a uma as diversas dimensões de expressão e exercício do poder e gerando...uma nova arquitetônica do poder realmente existente”. Capturou, por exemplo, a área jurídica. Vejam-se os acordos feitos para que as corporações paguem uma multa, mas não precisem reconhecer a culpa de modo que os administradores sejam criminalmente responsabilizados. “A desresponsabilização é hoje generalizada e abre uma porta paralela de financiamento de governos graças às ilegalidades”.
Outra esfera fundamental de captura do espaço político ocorre através do controle organizado da informação para a construção, como diz Chomsky, de “fábrica de consensos”. Exemplos claros: o alcance hoje planetário dos meios de comunicação e a difusão de gigantes corporativos de produção de consensos tornaram possível que se atrasasse em décadas a compreensão da relação entre o fumo e o câncer, que se barrasse nos Estados Unidos a expansão do sistema público de saúde, que se vendesse ao mundo a guerra pelo controle do petróleo como luta para libertar a população iraquiana da ditadura e para proteger o mundo das armas de destruição em massa, o travamento da mudança da matriz energética com a ideia de que há muitas controvérsias. No Brasil, 97% dos domicílios possuem televisão o que significa um incessante bombardeio das pessoas controlando nossa visão de mundo por quatro grandes grupos privados. A publicidade estimula comportamentos centrados no consumo obsessivo dos produtos das grandes corporações, criando uma população desinformada e assustada, mas obcecada pelo consumo. Além disto se faz a promoção das visões mais retrógradas e fomenta-se o clima de ódio social.
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Nova Dinastia. Artigo de Manfredo de Oliveira - Instituto Humanitas Unisinos - IHU