15 Novembro 2017
“Bergoglio é um gênio da comunicação política. Porque, na realidade, muito diferente da ficção televisiva, ele não é um vovô, mas um chefe de Estado e o monarca absoluto de uma organização com centenas de milhares de empregados e uma imensidão de hierarcas, interesses econômicos e políticos gigantescos, relações diplomáticas cotidianas com chefes de Estado e de governo.”
A opinião é do sociólogo italiano Marco Marzano, professor da Universidade de Bérgamo, em artigo publicado no jornal Il Fatto Quotidiano, 13-11-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Aconselho calidamente que os políticos italianos vejam o novo programa do canal Tv2000, Padre Nostro, em particular os primeiros minutos de cada episódio, dedicados à entrevista que o apresentador, padre Marco Pozza, realizou, de tempos em tempos, com o Papa Francisco.
A audiência seria útil para os políticos, porque finalmente poderiam aprender as enormes vantagens estratégicas que derivam do “estilo terno” que o Papa Francisco difunde há anos e que foi, imediatamente, a principal razão da sua imensa popularidade.
A entrevista é uma obra-prima da estratégia comunicativa: acima de tudo, os dois dialogam em uma sala despojada, com um belo tapete, mas quase sem mobiliário, sugerindo a simplicidade e a frugalidade da vida de quem a ocupa naquele momento.
O Pe. Marco e o pontífice, além disso, estão muito perto e colocados um em frente ao outro, no mesmo nível e sem nenhum objeto que os separe. A única diferença está na forma da cadeira, porque a de Francisco tem braços, enquanto a do Pe. Marco não os tem.
O jovem sacerdote não está vestido como padre, mas como um “garotão” de 30 anos: jeans, jaqueta branca com manchas, tênis esportivo elegante. E, acima de tudo, conversa com o papa informalmente. Como se estivessem em família, como se aquele homem idoso vestido de branco sentado à sua frente fosse um familiar dele, digamos um avô de autoridade, com tantas coisas para contar ao netinho que olha para ele encantado e seduzido pela sua sabedoria.
No mérito, naqueles 10 minutos inaugurais de cada episódio de Padre Nostro, Francisco pronuncia frases de uma desconcertante banalidade, puro bom senso, um sermãozinho que ficaria bem na boca de um pároco do interior: nenhuma revelação teológica surpreendente, nenhum pensamento filosófico profundo, nada que realmente coloque o cérebro em movimento. Apenas palavras simples, conceitos pobres e sucintos, perfeitos para a comunicação na TV. E com o acréscimo de um elemento que um pároco do interior nunca usaria, mas que, na comunicação de um divo midiático como o papa argentino, nunca pode e nunca deve faltar: o relato autobiográfico, a narração narcisista de algum episódio edificante da própria vida. A volta para casa com o pai depois da operação nas amígdalas quando criança, o fato de adormecer durante a oração ou o encontro com uma fiel na Argentina.
Todos eventos insignificantes e comuns, se não fizessem parte da vida de uma estrela. E se não fossem narrados com aquele tom muito doce, com aquela voz tão calorosa, por um homem que, ao vê-lo, é a encarnação da mansidão e da bonomia latina, alegre e otimista, mas, ao mesmo tempo, determinado e perspicaz. É o avô que todos gostaríamos de ter, pelo qual gostaríamos de ser abraçados, ninados, escutados. O vovozinho que, talvez pensando mais em si mesmo do que em Deus, nos fala da importância de ter um pai que nos ama e que nos acolhe sempre, um senhor idoso cujas palavras nos fariam transportar para mundos distantes no tempo e no espaço.
Bergoglio é um gênio da comunicação política. Porque, na realidade, muito diferente da ficção televisiva, ele não é um vovô, mas um chefe de Estado e o monarca absoluto de uma organização com centenas de milhares de empregados e uma imensidão de hierarcas, interesses econômicos e políticos gigantescos, relações diplomáticas cotidianas com chefes de Estado e de governo.
Pouco antes de usar as vestes do avô inocente, Francisco, talvez, terá expressado o seu apoio a uma das tantas ditaduras africanas, das quais a sua organização é defensora e cúmplice, ou dialogado com os amigos de Putin sobre a melhor maneira de proteger os cristãos do Oriente Médio. Todas atividades comuns para um líder político, mas que, no caso de Bergoglio, não obscurecem a extraordinária eficácia da sua comunicação, tão afetuosa e terna.
Os políticos deveriam aprender a lição, porque a sua popularidade é muito mais consistente e estável do que a de todos os líderes “musculares”, de todos os imitadores do itálico e virilíssimo destruidor de rins, dos demolidores, dos asfaltadores, dos elogiadores do “vai se f...”, em suma, de todos aqueles que, na política, recorrem a uma retórica violenta e metaforicamente sanguinária.
O único que, pelo menos em uma fase do seu infinito caso político, parecia ter compreendido o valor comunicativo da mansidão e da bondade foi o Berlusconi filósofo do amor.
É claro, para um homem político, é mais difícil manter escondidos os conteúdos reais do seu trabalho e, portanto, é mais complicado, por exemplo, precarizar o trabalho dos jovens e, um minuto depois, ir à TV para recitar a parte do bom vovô. E a juventude certamente não ajuda. Uma solução poderia ser dividir os papéis: as coisas de verdade, as decisões estratégicas são tomadas pelo neto malvado, mas ao abrigo de olhares indiscretos, enquanto, na TV, aparece o vovô bom, que sabe como conquistar os votos. Pensem nisso.
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A lição do papa aos políticos: o estilo ''soft'' para seduzir na TV. Artigo de Marco Marzano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU