Pro Pope Francis: por que eu assinei o abaixo-assinado. Artigo de Martin M. Lindner

Foto: Jeon Han - Republic of Korea/Flickr

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25 Outubro 2017

“Eu assinei a carta de apoio a Francisco porque estou convencido de que a práxis pastoral do papa corresponde plenamente ao Evangelho e que, justamente por esse motivo, ela nos ajuda a entender melhor o Evangelho e a doutrina da Igreja.”

A opinião é do padre servita Martin M. Lindner, OSM, professor de Teologia Moral do Studio Teologico Accademico di Bressanone, na Itália, e presidente da Associação Internacional de Teologia Moral e Ética Social. O artigo foi publicado por Vatican Insider, 23-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O promotor da iniciativa Pro Pope Francis é o tcheco Tomáš Halík, filósofo da religião e teólogo em Praga, que, posteriormente, envolveu Paul M. Zulehner, de Viena, para aderir à iniciativa. Halík se fez a pergunta sobre como poderia expressar a sua fidelidade e lealdade ao papa, já que Bergoglio, especialmente em alguns sites da internet, é continuamente criticado e até difamado.

Na realidade, trata-se de vozes esporádicas que, por assim dizer, gritam forte e são repetidas frequentemente, traduzidas, copiadas, coladas de um blog ao outro. Desse modo, são amplificadas sem medida e acabam dando a impressão de um peso muito maior do que elas realmente têm.

Outro motivo: pensemos na carta com as "dubia" de quatro cardeais, carta que certamente merece uma séria discussão em nível teológico. No que diz respeito aos conteúdos, muitos teólogos e até mesmo bispos e cardeais já responderam de maneira muito diferenciada, mas, na web, fala-se dessa carta como se fosse uma questão aberta e não resolvida porque o próprio Santo Padre não respondeu pessoalmente, embora seja preciso lembrar que, em uma entrevista, ele reagiu diretamente.

De todos os modos, passa-se a ideia de que a maioria dos cardeais, bispos, teólogos e fiéis foram deixados na incerteza e, acima de tudo, estão descontentes em relação ao documento Amoris laetitia, o que, de fato, não corresponde à realidade.
 
Por fim, também foi publicada a Correctio filialis – também este objeto de grande atenção nos sites da internet – que chega até a sugerir que o papa defendeu posições heréticas.
 
Agora, Halík simplesmente quis tornar mais visível que a grande maioria da comunidade da Igreja não compartilha essas críticas, nem os ataques pessoais ao papa, mas que precisamente a grande maioria do povo de Deus, ao contrário, apoia decisivamente o papa e a sua virada pastoral.
 
Certamente, pode-se perguntar se o papa precisa desse apoio. Do ponto de vista eclesiológico, isso poderia até parecer problemático e errôneo. Explico-me: ser católico significa confessar que se crê na “Igreja, una, santa, católica e apostólica”, isto é, a Igreja unida “cum Petro e sub Petro”, com e sob Pedro e os seus sucessores.

E, por último, não se trata de ser pró ou contra o papa, mas sim de uma expressão de fidelidade a Cristo e à sua Igreja. Não esqueçamos o que São Paulo diz em 1Coríntios: “Quando alguém declara: ‘Eu sou de Paulo’, e outro diz: ‘Eu sou de Apolo’, não estarão vocês se comportando como qualquer um? Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais vocês foram levados à fé; cada um deles agiu conforme os dons que o Senhor lhe concedeu. Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer. Aquele que planta e aquele que rega são iguais; e cada um vai receber o seu próprio salário, segundo a medida do seu trabalho. Nós trabalhamos juntos na obra de Deus, mas o campo e a construção de Deus são vocês” (1Cor 3, 4-9) [trad. Bíblia Pastoral].
 
Justamente, não teria sentido ser “pró” ou “contra” o papa. No entanto, recordemos que, no passado, houve ocasiões em que os fiéis, bispos e até mesmo cardeais expressaram a sua fidelidade, lealdade e adesão filial ao papa: não só em tempos normais, mas especialmente quando ele foi objeto de duras críticas ou de ataques verbais. Portanto, a iniciativa atual, de fato, não é uma novidade.

Eu mesmo não tive dúvidas de ser um dos primeiros a assinar essa carta. Foi também por causa da minha experiência pessoal, já que muitos fiéis me perguntaram: “Como ninguém responde às críticas ao papa? Por que os teólogos e os bispos não o apoiam com maior fervor?”.

Ao responder a tais perguntas, referi-me às muitas conferências e congressos teológicos, um pouco por todas as partes do mundo, que estudam e aprofundam as questões relativas à Amoris laetitia, encontros dos quais participam também bispos e cardeais. No entanto, essas discussões, bastante diferenciadas e complexas das questões teológicas, não encontram, depois, aquela comprovação ampla no fórum público da internet.

Nesse âmbito, ao contrário, em vez de uma discussão teológica séria, muitas vezes, deparamo-nos com contribuições, infelizmente, de tom agressivo e polêmico, até mesmo com “golpes baixos”. Repetem-se alguns conceitos que circulam na internet, mas realmente não se vai ao fundo das coisas, lendo e estudando os textos originais e entrando em um debate argumentativo.
 
Ora, a discussão teológica é legítima ou, melhor, necessária. Discussões teológicas sempre ocorreram: pensemos na Humanae vitae ou na Veritatis splendor. O problema hoje, na minha opinião, está na polarização emocional e nas críticas pessoais à pessoa do papa e a teólogos com cujas posições não se compartilha. Noto uma falta de compromisso sincero em buscar, acima de tudo, entender o que o outro diz e, depois, entrar em um debate teológico sobre argumentos e conteúdos.
 
Se lermos todo o texto da Amoris laetitia, não só o capítulo VIII, e as atas dos dois Sínodos dos bispos de 2014 e 2015, dos quais a Amoris laetitia é um fruto fiel – e com um pouco de boa vontade para entender o estilo pastoral do Papa Francisco e o seu objetivo muito importante, ou seja, superar a tensão ou quase a divisão entre “verdade doutrinal”, por um lado, e “práxis pastoral”, por outro, fundindo-as na única verdade do Evangelho –, então, certas críticas e certos ataques ao papa simplesmente não teriam fundamento. São equivocados e injustos.
 
Eu também assinei a carta por este motivo: estou convencido de que a práxis pastoral do papa corresponde plenamente ao Evangelho e que, justamente por esse motivo, ela nos ajuda a entender melhor o Evangelho e a doutrina da Igreja.

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