04 Outubro 2017
"Dá-me esse dom de romper muros, divisões e barreiras, começando por buscar a ti que não cansas de bater à porta" escreve Alfredo J. Gonçalves, padre carlista e assessor das Pastorais Sociais.
Sei que todos os dias bates à minha porta,
queres entrar, sentar à mesa, falar comigo;
sou eu que não sei o que fazer, ou melhor,
tenho medo de teu olhar límpido e transparente.
Deves insistir sobre esse convite ao encontro,
ensinar-me a superar o temor e tremor:
tenho urgente necessidade de tua presença,
e tu tudo fazes para encontrar-me e salvar-me;
se for necessário, libera um vendaval,
para superar essa porta que nos separa;
Sim, esqueço-me que jamais usas a força:
até as últimas consequências e implicações,
respeitas o dom da liberdade que nos destes;
tomas a iniciativa de vir à minha casa, é verdade,
mas sou eu que devo decidir em receber tua visita.
Dá-me esse dom de romper muros, divisões e barreiras,
começando por buscar a ti que não cansas de bater à porta:
“tu estavas em mim e eu estava fora de ti”, dizia Sto. Agostinho;
superado esse primeiro obstáculo, outros serão destruídos,
e poderei receber, além de ti, meus irmãos e irmãs.
Mas é preciso que me ajudes nesse processo,
não basta entrar em casa, deves ajudar-me a prepará-la:
teu olhar de luz deve iluminar seus cantos sombrios;
teu perdão deve desfazer a rede de teias de aranha,
que se infiltraram em minhas relações com os demais;
tua água viva deve limpar a sujeira oculta debaixo do tapete;
teu sorriso luminoso, como uma janela aberta,
deve renovar o oxigênio dos quartos, sala, cozinha...
Então, sim, podemos sentar à mesa da refeição,
e encontrar-nos, apesar da diferença abissal, insuperável:
a mesa logo se tornará altar, festa, banquete, eucaristia;
enquanto tua palavra alimenta meu espírito ressequido,
teu corpo eucarístico nutre e reforça minha fraqueza e debilidade.
Terei, assim, encontrado um farol e um porto seguro,
um refúgio, um abrigo, uma nova casa – uma pátria!
Poderei errar pelas estradas do êxodo, do deserto e do exílio,
pois disponho de uma bússola, um ponto de referência,
um sentido último para minha peregrinação sobre a face da terra.
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