Por: Viviane Aparecida Ferreira de Lara Matos | 15 Setembro 2017
Não dá para conversarmos sobre educação popular sem vivermos e experimentarmos seus princípios e sua metodologia. É na vivência coletiva e no enfrentamento da realidade cotidiana que construímos uma nova prática social e profissional. Estas reflexões embasaram as oficinas oferecidas pela assistente social Gisele Carneiro, nos dias 29 de agosto e 12 de setembro de 2017, durante o ciclo de estudos e debates Trabalhadoras(es) do SUAS, com o tema Educação popular e transformação social. A atividade é promovida pelo CEPAT e conta com o apoio do IHU.
Gisele Carneiro apresentou as categorias e os princípios da educação popular, a partir da perspectiva crítica de Paulo Freire, desencadeando uma ação dialógica com o grupo sobre a situação sociopolítica e econômica do Brasil e do mundo. A cada tema levantado, a partir dos dados trabalhados durante as oficinas, foi se descortinando a profunda desigualdade de recursos e de poder na sociedade.
Gisele Carneiro dialogando com os participantes do ciclo de estudos e debates Trabalhadoras(es) do SUAS (Foto: Ana Paula Abranoski)
A partir da tradicional imagem da pirâmide social, Carneiro problematizou a formação da base desta, composta pela grande maioria da população, desprovida de condições dignas de vida e também impedida de interferir na dinâmica social, sem participar das decisões que lhes dizem respeito. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, o Brasil, neste ano de 2017, é o décimo país mais desigual do mundo, ao mesmo tempo em que é a nona maior economia.
Em determinado momento dos debates, resgatou-se o papel do Estado à luz dos filósofos Karl Marx e Louis Althusser. Em seguida, como exercício de reflexão, solicitou-se que os participantes respondessem as três questões propostas na última Conferência de Assistência Social, em relação ao eixo Controle Social e Participação Cidadã, sendo elas:
1. Quais os grandes obstáculos para o exercício do controle social em uma perspectiva de defesa e garantia de direitos?
2. Quais os caminhos para se estimular e ampliar a participação dos usuários nos conselhos e em outros espaços de participação popular e do exercício do controle social?
3. Como o CRAS, CREAS, PEMSE, Centro Pop e entidades socioassistenciais podem contribuir para a consolidação de um paradigma de gestão democrática e participativa?
A reflexão proposta por Carneiro contribuiu para que as(os) trabalhadoras(es) do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) pudessem avaliar o desenvolvimento dos processos de trabalho das(os) profissionais e a possibilidade de refazer o planejamento das ações sociais, para redimensionar o tempo dedicado aos atendimentos individuais e para a organização de trabalhos coletivos, com demandas comuns e organização da comunidade.
Na avaliação de Solange Fernandes (PUCPR), parceira nestes debates, é urgente a retomada das estratégias coletivas, de forma dialógica, com a população usuária da Política da Assistência Social e as lideranças sociais dos territórios, para que se criem condições de reação ao desmonte dos direitos sociais e do SUAS pelo Governo Temer. De um modo geral, “os profissionais da área social não possuem resposta para tudo, mas possuem um profundo compromisso com a população”, ressaltou Fernandes.
Gisele Carneiro concluiu o ciclo de oficinas destacando a importância de se construir espaços de contraposição ao capitalismo, valorizando o diálogo e a participação, com iniciativas simples, mas eficazes, como as rodas de conversa, por exemplo. É necessário despertar nas pessoas o sentimento de pertença à comunidade, para que se possa concretizar uma maior atuação nos espaços de controle social, com protagonismo político.
Em tempos de desmonte dos diretos sociais e do furacão neoliberal, é necessário contar com a organização popular.
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Trabalhadoras(es) do SUAS. O diálogo como princípio transformador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU