22 Julho 2017
Morreu, na noite da última quinta-feira (20), o catador e morador de rua Gilvan Artur Leal, conhecido como Piauí, por conta de um AVC (acidente vascular cerebral) que, segundo uma nota da associação de moradores de Pinheiros, estaria relacionado à exposição prolongada a um quadro grave de hipertensão.
Catador Gilvan Artur Leal, conhecido como Piauí, no dia da morte do amigo Ricardo Nascimento. Foto: Julia Dolce/Brasil de Fato
A reportagem é publicado por Brasil de Fato, 21-07-2017.
Piauí, que morava nas ruas de Pinheiros com o também catador Ricardo Nascimento, executado pela Polícia Militar na quarta-feira (12), foi uma das testemunhas da morte do amigo. Segundo relatos de moradores que presenciaram a execução, durante a ação Piauí foi ameaçado e chegou a ter os dedos da mão pisoteados pelos policiais.
Piauí foi levado ao pronto socorro para receber atendimento da lesão na mão e depois encaminhado, por iniciativa dos próprios moradores da região, a um albergue, já que temia pela vida, permanecendo na rua.
Na quarta-feira (19), dia em que foi celebrada uma missa de sétimo dia para o catador Ricardo Nascimento, na Catedral da Sé, região central da cidade, a assistente social do abrigo onde Piauí estava hospedado, disse que o morador de rua havia acordado bem, “mas achou melhor ele não comparecer e não saber da missa, pois ainda estava muito abalado”, diz uma nota divulgada pela associação de moradores de Pinheiros.
Ainda segundo a nota, “perto do horário da missa, ele começou a ter convulsões e foi levado para a Santa Casa. Teve novas convulsões e foi entubado. Os resultados da tomografia diagnosticaram um AVC isquêmico”. A morte de Piauí foi confirmada às 19h desta quinta.
Piauí vinha se queixando aos moradores da região de que poderia ser “o próximo”, já que havia testemunhado a execução do amigo. Ricardo Nascimento foi executado na esquina das ruas Mourato Coelho e Navarro de Andrade, às 18h, horário de grande fluxo de pessoas.
De acordo com relatos, Nascimento estava parado com um pedaço de pau em uma das mãos, quando um policial militar atirou em seu peito, após ter gritado para ele largar o objeto. Logo em seguida, foram feitos mais dois disparos na cabeça do carroceiro.
Segundo o registro do Boletim de Ocorrência realizado pela PM, o militar atirou "para se defender", mas as testemunhas afirmam que o carroceiro não representava ameaça à vida do policial, o que também foi comprovado por imagens de câmeras de seguranças no local.
Piauí chegou a contar para as pessoas que se aglomeravam no local após a execução, que Ricardo gritou: "Piauí, me ajuda, irmão, me machucaram". Quando se aproximou, teve os dedos da mão pisoteados e recebeu a ameaça, que se não se afastasse, “sobraria para ele”, afirmam moradores.
O também carroceiro, Jessé Rodrigo da Silva, amigo de Nascimento e que atribui a ele um acolhimento fraterno quando decidiu morar na rua, aponta que o catador Ricardo Nascimento já havia lhe confidenciado estar sendo perseguido e que os moradores de rua que transitam pela região, são constantemente ameaçados por policiais.
O velório do morador de rua Piauí está programado para acontecer amanhã, sábado (22), no cemitério da Vila Alpina. Para custear os valores da celebração e do enterro (R$ 1.400), os familiares estão arrecadando dinheiro.
Moradores do bairro de Pinheiros organizaram a coleta solidária dos valores para garantir a realização do velório e enterro e conseguiram, em poucas horas, juntar o valor.
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Morre testemunha da execução do catador Ricardo Nascimento pela PM - Instituto Humanitas Unisinos - IHU