04 Julho 2017
A canonização do beato Romero – “amigo, irmão, modelo e intercessor” do novo cardeal salvadorenho Gregorio Rosa Chávez –, “certamente vai acontecer”, segundo revelou o próprio cardeal. Mas tudo no seu devido tempo, para que “o povo se prepare para esta graça”. Enquanto isso, indica Rosa Chávez, “devemos reforçar o esforço de ser povo que caminha” com o mártir: “para que o mundo seja o que Romero sonhou e pelo qual ele deu a vida”.
A entrevista é publicada por Religión Digital, 03-07-2017. A tradução é de André Langer.
No domingo à tarde, 02 de julho, o cardeal bispo auxiliar de San Salvador tomou posse do título do Santíssimo Sacramento a Tor de Schiavi, como informou a Secretaria das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontífice.
Durante a semana passada, Rosa Chávez compartilhou diversas celebrações com os fiéis presentes em Roma. Uma delas foi, na manhã da sexta-feira, 30 de junho, a Santa Missa de Ação de Graças na qual presidiu a Santa Missa. Após a mesma, dispensou saudações e posou para fotografias com cada um dos fiéis que se aproximaram para lhe demonstrar seu afeto e alegria, muitos deles provenientes de El Salvador, mas também de outras partes da América Latina e da comunidade salvadorenha de Roma.
Após a Santa Missa na igreja do Santo Espírito em Sassia, o cardeal concedeu algumas palavras à Rádio do Papa.
Em primeiro lugar, lhe perguntamos sobre o escudo cardinalício, como a decisão e o que significa.
Demorei uma semana para pensar no lema do meu episcopado antes de ser ordenado bispo e escolhi Cristo é nossa paz. Quando me disseram que tinha que fazer o escudo, em 15 minutos tinha claro o que queria dizer: Nossa Senhora, a palma do martírio, a opção pelos pobres e dom Romero. O escudo foi feito pelo professor Poleti, que é um especialista no tema; ficou muito bonito. É um programa de vida e também a memória do que foi a minha experiência em El Salvador.
Por que acredita que o Papa pensou em você como cardeal? Ele lhe disse alguma coisa sobre isso?
Está muito claro que Romero está por trás de tudo isso, e depois há um elemento pessoal. Tenho 35 anos como bispo, um caminho longo que o Papa conhece. Tem a ver com isso também: fiquei sabendo disso nestes dias em que já pude ver as coisas de perto. Ele tem muita confiança e está contente com o que fez. Disse-me: “coragem e em frente”.
Quais são as prioridades no coração do cardeal Gregorio Rosa Chávez?
As mesmas de antes, só que com mais intensidade e uma perspectiva mais ampla, já que agora meus compromissos não se restringem ao meu país, e o Papa insinuou isso de várias maneiras. Já a estou sentindo (a perspectiva, ndr.), porque recebi uma nota da Coreia de um encontro sobre as duas Coreias que estão divididas e o que a Igreja pode contribuir a partir da sua experiência de mediação e de conflitos. Isso já é um sinal do que é ter um panorama mais amplo, e contribuir com o que se viveu como experiência e como reflexão sobre esses temas capitais do mundo de hoje, que são a comunhão, a solidariedade, a tolerância, o encontro e a paz que nasce do coração novo.
Você vai continuar como presidente da Cáritas?
Eu sou presidente apenas do país agora; fui presidente da Cáritas do continente durante oito anos. Continuo com a Cáritas em El Salvador, continuo também como pároco e como bispo auxiliar.
Não haverá mudanças nesse sentido...
Há uma questão canônica complicada em relação ao que o Papa fez, porque nunca houve um caso como este. É preciso ver o que dizem os canonistas. No momento eu retorno à vida ordinária de antes com muita esperança e muito desejo de fazer as coisas como tem que fazer.
Pode dar uma mensagem para a audiência?
Que nunca nos cansemos de esperar, que as coisas impossíveis se tornam possíveis quando Deus está conosco e se nós somos colaboradores com Ele, com toda a confiança e também com toda decisão. O Papa disse isso na homilia de ontem: devemos caminhar, Jesus vai na nossa frente. E seguir um homem que tem os pés ensanguentados pressupõe estar disposto a tudo. Foi o que os mártires fizeram.
Para quando podemos esperar a canonização de dom Romero?
Certamente isso vai acontecer. Queremos fazer as coisas com calma; queremos que o povo se prepare para esta graça. Que não seja uma coisa que se faz de maneira superficial, mas profunda. Por isso, o povo está se colocando a caminho rumo a Romero, para o seu berço, sua sepultura, o lugar do seu martírio, os lugares santos. Isso é algo que apenas estamos começando, devemos prosseguir nesse esforço de ser povo que caminha, com Romero e para Romero, para que o mundo seja o que Romero sonhou e pelo qual ele deu a vida, como o fez também Jesus.
Como reza a Romero, o que pede neste novo caminho?
Sempre que incenso sua imagem, penso em quando conversávamos. Penso nos momentos duríssimos que vivemos juntos. Em como ele enfrentou com estoicismo uma perseguição sistemática, inclusive dentro da sua própria Igreja. E também penso nele como alguém que confiou em mim, e que em momentos difíceis me procurou para que estivesse ao seu lado e juntos procurávamos ver como se respondia a Roma sobre os ataques que vinham contra ele; assim que o vejo como um amigo, como um irmão, como um modelo e como um intercessor.
A última pergunta é: pensa estar presente na Colômbia quando o Papa visitar o país?
Ainda não recebi o convite. Mas é uma pergunta boa. Irei com muito gosto, com ou sem convite.
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“Vejo Romero como amigo, irmão, modelo e intercessor”. Entrevista com o cardeal Rosa Chávez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU