35 mil

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03 Julho 2017

“Talvez os 35 mil do Loures fiquem apenas como uma nota cômica de pé de página na história destes dias. Ou talvez lembremos destes dias como uma época em que o país esteve entregue a patetas e patéticos, e a revolta se dissolveu na melancolia”, escreve Luís Fernando Verissimo, escritor, em crônica publicada por Zero Hora, 03-07-2017.

Eis o texto.

“Patético”, diz o dicionário, é o que desperta em nós um sentimento de piedade ou tristeza. O que é patético não nos revolta, necessariamente, mas nos constrange. “Patético” não tem nada a ver com “pateta”, embora o humor dos palhaços, que são patetas profissionais, muitas vezes provoque melancolia junto com o riso. Na história recente do Brasil, não foram poucas as vezes em que o patético desandou de um ato de patetice. Quando é que a patetice se torna patética? Tome-se o exemplo do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures.

Loures, o amigo para todas as tarefas do presidente Temer, foi flagrado correndo em meio ao trânsito de São Paulo com uma mala contendo – soube-se depois – 500 mil reais. Ou eram 500 mil dólares? Enfim, eram 500 mil. Loures parecia um pateta na sua pressa nervosa, e com razão. Experimente andar numa calçada de São Paulo à noite com 500 mil de qualquer denominação na mala, vendo um assaltante potencial em cada poste!

Ainda não se sabe ao certo para quem era o dinheiro. O Janot não tem dúvida de que era para o Temer, o Temer alega que foi Deus quem o botou ali, para fins ignorados. Sozinho com a mala cheia depois de sobreviver a sua passagem temerária pela noite de São Paulo, Loures fez o seguinte: abriu a mala e pegou 35 mil pelo seu serviço, confiando que ninguém notaria a falta de 35 dos 500.

Entende? Loures pegou 35 mil só para ele. Concluiu que, em meio a nossa atual confusão política e jurídica, com uma crise institucional inédita à vista, 35 mil a mais ou a menos na mala não fariam diferença na história do país. Foi o momento em que um ato pateta se transformou num ato patético, o que de certa maneira o redimiu. Nos enchemos de piedade, tristeza e constrangimento diante da fraqueza do Loures, que afinal é apenas fraqueza humana. E deve ser dito, em seu favor, que Loures já devolveu os 35 mil.

Talvez os 35 mil do Loures fiquem apenas como uma nota cômica de pé de página na história destes dias. Ou talvez lembremos destes dias como uma época em que o país esteve entregue a patetas e patéticos, e a revolta se dissolveu na melancolia.

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