28 Junho 2017
Dom Jean Zerbo chegou à capital italiana no sábado, 24 de junho, mas a Conferência Episcopal de Mali confirmava (incluindo ao Vaticano) a sua ausência no consistório desta quarta-feira, 28, por causa de graves condições de saúde. O arcebispo se envolveu no caso “Swissleaks” devido à existência de contas de 12 milhões de dólares na Suíça.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada no sítio Vatican Insider, 27-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Ele chegou a Roma na manhã do sábado, 24 de junho, reside no Instituto dos Missionários da África (Padres Brancos) perto do Vaticano e está se recuperando depois de ter tido alguns problemas de saúde. Ao contrário do que vazou nessa segunda-feira, 26, da Santa Sé e de alguns sites que citavam como fonte a Diocese de Bamako e a Conferência Episcopal de Mali, o arcebispo Jean Zerbo já chegou há dois dias na capital italiana para participar do consistório desta quarta-feira, 28 de junho, durante o qual receberá a púrpura do Papa Francisco, junto com outros quatro bispos.
O novo cardeal – confirmam fontes da Embaixada de Mali na Itália ao Vatican Insider – aterrissou no aeroporto de Roma-Fiumicino há dois dias, acolhido pelo embaixador Gaoussou Drabo. Nessa segunda-feira, 26, ele foi visitado por uma delegação da Conferência Episcopal composta por bispos, religiosos e leigos, que vieram para lhe prestar homenagem; cerca de 30 pessoas no total, que nesta terça-feira, 27, em torno das 11h30, encontraram-se privadamente com o purpurado no instituto religioso da Via Aurelia. Todos, junto com dois ministros do país africano, estarão presentes nesta quarta-feira à tarde, na basílica vaticana, para a cerimônia presidida pelo pontífice.
As notícias dessa segunda-feira, 26, diziam que Dom Zerbo estava gravemente doente, a ponto de ser impedido de viajar. E essa mesma informação havia sido comunicada à Secretaria de Estado vaticana. Um pequeno suspense. As fontes consultadas pelo Vatican Insider, por sua vez, explicam que o prelado, na realidade, teve sérios problemas no estômago (pensava-se em um tumor), que o havia levado a Paris, na França, para uma internação de cerca de uma semana, que colocou em risco a sua partida. Agora, porém, o prelado está em Roma, convalescente, e “não quer ser incomodado”, como diz o secretário do purpurado, que, no entanto, confirma as boas condições de saúde.
A sua ausência no consistório ordinário público causou polêmica e embaraço nos Sagrados Palácios, pois o prelado acabou recentemente no centro de um grande escândalo financeiro que surgiu a partir de uma investigação do jornal francês Le Monde. Zerbo havia sido acusado – com base em alguns documentos apelidados de “Swissleaks” – de ser o titular de contas bancárias na Suíça que somavam 12 milhões de dólares, junto com outros dois importantes bispos, Dom Jean-Gabriel Diarra, bispo de San, e Cyprien Dakouo, o então secretário-geral do episcopado de Mali.
Os fundos estavam guardados no HSBC Private Bank de Genebra e subdivididos em sete contas-correntes, a cujas senhas o próprio Dom Zebo, ex-“tesoureiro” da Conferência Episcopal, tinha acesso.
As acusações foram rejeitadas totalmente pelos bispos de Mali, que reivindicaram “total transparência” na gestão das finanças e contestaram a suspeita de que “alguns bispos teriam se apropriado indevidamente dos fundos dos fiéis católicos”. Os bispos também destacaram o momento suspeito da investigação dos dois jornalistas do Le Monde (que declararam que precisaram de escolta depois da publicação da investigação e que receberam telefonemas anônimos ameaçadores), cujas investigações duraram meses.
“Os autores do artigo tendencioso visam a um objetivo não confessado que não seja o de trazer informações construtivas para a opinião pública? Esse ato cometido em um momento em que esta Igreja é honrada pela nomeação do seu primeiro cardeal visa apenas a sujar a sua imagem e a desestabilizá-la?”, questionava uma nota da Conferência Episcopal.
De sua parte, o papa, depois do furo jornalístico do jornal francês, não mostrou nenhum sinal de repensamento sobre a sua nomeação cardinalícia do pastor de Bamako, que se distinguiu no passado pelo seu forte compromisso em favor do diálogo e da pacificação no seu país marcado por uma sangrenta guerra civil.
Dom Zerbo, portanto, será o primeiro a receber o barrete vermelho nesta quarta-feira à tarde, sendo o primeiro nome na lista lida pelo Papa Francisco no último dia 21 de maio, na conclusão do Ângelus (motivo pelo qual, segundo a tradição, ele deverá dirigir ao papa “um discurso de homenagem e gratidão” em nome de todas as novas púrpuras).
No entanto, permanece em aberto o motivo pelo qual, em Mali, nessa segunda-feira, foram comunicadas – também oficialmente no Vaticano – essas notícias sobre a ausência do bispo.
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Novo cardeal de Mali já está em Roma: nenhum recuo depois do escândalo financeiro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU