A desregulação proposta por Trump é perigosa

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22 Março 2017

“Agora vemos que política e economia são ruas de mão dupla. Temos de enfrentar a complexidade dos riscos políticos”, escreve Antonio Delfim Netto, economista, em artigo publicado por CartaCapital, 22-03-2017.

Segundo ele, “a pergunta não respondida é quem, afinal, produziu tudo isso? A resposta é simples: foi o incesto entre sapiens economicis e o mercado financeiro para livrar-se da regulação rooseveltiana que lhe foi imposta em respostas às patifarias que fizeram e produziram à crise de 1929”.

E continua:

“Construiu-se, ad hoc, uma “teoria” de que os mercados financeiros eram não apenas “perfeitos”, mas possuídos pelo “imperativo categórico” de Kant. Argumento: a regulação financeira era muito forte, comprometia a eficiência do sistema financeiro e constrangia o desenvolvimento econômico, o que era apenas meia verdade”.

“No fundo, bem no fundo, - conclui o economista - a desregulamentação geral será a continuação da construção de uma imensa pirâmide Ponzi que, quando for revelada, poderá levar consigo a economia de mercado e a democracia...”

Eis o artigo.

O Fundo Monetário Internacional publica trimestralmente uma leve e interessante revista, Finance & Development. O seu mais recente número, de dezembro de 2016, é dedicado à globalização. É um bálsamo para os que estão inquietos com a extrema separação entre a realidade factual e as “teorias” nas quais não há nem o tempo, nem o espaço, nem gentes, e cujas “comprovações empíricas” deixam muito a desejar.

Num excelente artigo, Sebastian Mallaby historia a globalização e a importância do movimento da mão de obra pelas migrações. Termina com a seguinte afirmação: “O progresso da globalização depende de duas forças: a tecnologia, que facilita as viagens e as comunicações, e a política, que sustenta um mundo aberto”.

Numa página, o instigante e provocador Paul Krugman argumenta que “sempre tem havido uma dissonância entre o compromisso retórico dos economistas e das elites a favor do livre-comércio e as mensagens que emergem dos modelos econômicos. Sim, os livros-textos dizem que o comércio internacional faz os países mais ricos e que restringi-lo os fará mais pobres.

Mas eles também sugerem que há custos modestos quando as restrições não são extremamente protecionistas e que o comércio pode ter efeitos importantes na distribuição de renda dentro das nações, criando “perdedores” e “ganhadores”... E conclui que, “dada essa realidade, é surpreendente que o combate à globalização demorou tanto tempo para manifestar-se e que seus efeitos até agora tenham sido tão pequenos”.

Maurice Obstfeld, em um artigo didático e muito instrutivo sobre as vantagens e os custos da globalização, conclui: “O consenso político que inspirou o aumento do comércio depois da Segunda Guerra Mundial se dissipará se não houver políticas claras que distribuam os riscos que ele implica. É preciso assegurar maior flexibilidade ao mercado de trabalho, melhorar o funcionamento do sistema financeiro e promover a igualdade na distribuição de renda”.

Finalmente, David Lipton, do FMI, traz a “nova” mensagem: “Agora vemos que política e economia são ruas de mão dupla. Temos de enfrentar a complexidade dos riscos políticos”.

A pergunta não respondida é quem, afinal, produziu tudo isso? A resposta é simples: foi o incesto entre sapiens economicis e o mercado financeiro para livrar-se da regulação rooseveltiana que lhe foi imposta em respostas às patifarias que fizeram e produziram à crise de 1929.

Construiu-se, ad hoc, uma “teoria” de que os mercados financeiros eram não apenas “perfeitos”, mas possuídos pelo “imperativo categórico” de Kant. Argumento: a regulação financeira era muito forte, comprometia a eficiência do sistema financeiro e constrangia o desenvolvimento econômico, o que era apenas meia verdade.

A velha ideia de que um setor financeiro eficiente é capaz de coordenar as poupanças e dirigi-las aos investimentos em bens de capital continua válida. O problema é que, para boa parte do mercado financeiro de hoje, ele é apenas um jogo que usa as poupanças em “fundos” (cuja comissão os enriquece) para mantê-las em um estado vaporoso, em lugar de dirigi-las para a expansão do investimento em fatores de produção.

Os primeiros atos do presidente Trump mostraram que está disposto a acabar com a Lei Dodd-Frank de Obama, que contém mesmo alguns excessos regulatórios. É preciso lembrar que Trump é parte (até então olhado com desprezo por seus pares) do mesmo esquema financeiro que, a partir do presidente Ronald Reagan (1982), se apropriou da economia real americana e que é simbolizado por “Wall Street”.

Olhada de perto, toda essa falsa riqueza representada em papéis e derivativos de toda ordem tem, na sua origem, só uma coisa sólida, um parafuso real! Para entender o sentido da desregulação proposta por Trump, basta ver quem escolheu para seu secretário do Tesouro, o senhor Steven Mnuchin.

No fundo, bem no fundo, a desregulamentação geral será a continuação da construção de uma imensa pirâmide Ponzi que, quando for revelada, poderá levar consigo a economia de mercado e a democracia...

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