01 Março 2017
Partes do Sudão do Sul enfrentam a fome devido à guerra civil, ao colapso da lei e da ordem e à seca. William Okot de Toby é o diretor-geral de uma diocese Cáritas, a Cáritas Torit, no sudeste do país. Ele respondeu às nossas perguntas. A Cáritas continuará ajudando a área afetada à medida que houver mais fundos de emergência.
A informação é publicada por Cáritas Internationalis, 27-02-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Qual é a situação humanitária em Torit?
A situação humanitária em Torit está tornando-se catastrófica. A fome é regra e espera-se o pior.
Menina internada por desnutrição no hospital St. Theresa Mission. Crédito: Cáritas Torit
Quais são as condições de saúde das pessoas que vêm para a Cáritas para receber ajuda nutricional?
Há sinais de fome nos rostos e corpos cansados das pessoas, principalmente do homem comum, que não tem nada para sobreviver. Não há alimentos no mercado e as pessoas comuns não podem pagar pelo pouco que está disponível. Os preços são extremamente elevados. O número de crianças desnutridas está aumentando.
Quais são as causas da insegurança pelo alimento?
As causas são o conflito atual e a seca. Até certo ponto, faltam sementes e outros insumos agrícolas. Algumas áreas isoladas conseguiram cultivar, mas o fogo queimou a produção nos campos. Se a situação permanecer assim, provavelmente não haverá cultivo este ano, levando a mais escassez de alimentos.
Dono de um campo de sorgo queimado, perguntando-se o que fazer. Crédito: Cáritas Torit
O que a Cáritas pode fazer para ajudar?
A Cáritas Torit distribuiu alimentos fornecidos pela Cáritas nacional, a Cáritas Sudão do Sul. As necessidades são enormes. A Cáritas pode comprar e distribuir mais alimento e outros subsídios, mas não tem fundos.
Comparando com crises já vividas, qual é o gravidade da situação atual?
A situação atual é pior do que as do passado. Tanto a guerra quanto a falta de alimentos têm um profundo impacto. Antes, pelo menos as pessoas tinham mecanismos de defesa, mas desta vez não há nada. Muitos saíram para buscar refúgio nos países vizinhos, mas a situação nos campos obrigou alguns deles a voltar com uma sensação de que é melhor morrer em casa do que em terras estrangeiras.
Pessoas de Lotuhoyaha, no condado de Ikwoto, morando em cavernas depois que suas aldeias foram destruídas. Crédito: Cáritas Torit
O que vai acontecer se a ajuda não chegar?
Muitos vão perecer. Espero que o que aconteceu na Somália (260.000 pessoas morreram de fome em 2011) não aconteça no Sudão do Sul. Escrevo, com lágrimas nos olhos, sobre uma mulher com três filhos, o mais novo com dois anos. Ela foi buscar lenha no mato e deixou as crianças sozinhas. Quando voltou, a mãe encontrou-as mortas. E então tirou a própria vida. As pessoas supuseram que as crianças possam ter comido alguma comida selvagem ou venenosa ou que morreram de fome depois de ficar sem comida por dias.
Há muitas histórias semelhantes sobre a situação de fome aqui e o pior ainda está por vir.
É o início da época de escassez. O que vai acontecer nos próximos meses?
Nas aldeias, as pessoas estão se preparando para o cultivo, mas devido à situação de fome talvez eles não tenham força suficiente. Além disso, as sementes são escassas. Todos os anos, durante esse período, há fome. Mas este ano é esperado que a fome seja severa e muitos sejam afetados. Nas cidades, as pessoas estão com muito medo de ir para as suas fazendas devido ao conflito.
Beneficiários recebendo porções de ração por família em Lotuhoyaha, no condado de Ikwoto. Crédito: Cáritas Torit
O que a comunidade internacional pode fazer para ajudar?
A comunidade internacional é a única esperança. A situação chegou a um estágio de "SOS". A comunidade internacional não deve esperar ver corpos de pessoas mortas de fome para intervir. É preciso fazê-lo agora. A comunidade internacional precisa agir ou muitas pessoas vão perecer
A fome vai continuar até a próxima colheita ou até mais. A Cáritas e outros parceiros estão prontos para levar o apoio da comunidade internacional a quem necessita.
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Fome no Sudão do Sul: escrevo com lágrimas nos olhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU