A midiatização e a evolução das tecnologias de comunicação

Foto: João Flores da Cunha

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Por: João Flores da Cunha | 15 Dezembro 2016

Um olhar sobre a midiatização a partir dos meios e dos dispositivos. Esse foi o foco do painel do dia 14-12 no I Seminário Internacional de Pesquisas em Midiatização e Processos Sociais. A mesa foi composta por Oscar Traversa, professor da Universidade de Buenos Aires – UBA, Giovandro Ferreira, da Universidade Federal da Bahia – UFBA e Jairo Ferreira, da Unisinos.

O professor Traversa afirmou que, embora às vezes se fale da midiatização como algo dado, como “uma aparição”, trata-se de um tema que não é fácil, mas complexo. Ele relatou que, quando passou a frequentar a Universidade, há 50 anos, os meios de comunicação de massa sequer eram abordados, quanto mais a midiatização.

Segundo Traversa, ao longo do desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, estudiosos perceberam que havia algo dentro da escritura: traços de oralidade na linguagem de rádio, uma flexão no idioma que produzia um espaço particular de produção de sentido que era diferente da produção da escrita. Aos poucos, foi-se compreendendo que o que um meio produzia era diferente do outro: o rádio e o jornal tinham uma escritura distinta.

Para o professor, existem três características estruturais da midiatização: a existência da possibilidade de exteriorização da mente, através de um registro permanente, como no ciclo da escritura; o fato de que, se esse registro está fora de uma mente, já não pertence apenas a ela; e a regra de acesso à tecnologia, ou seja, o fato de que alguns podem usá-la, outros não, e as utilizações serão diversas.

Traversa citou um exemplo do que definiu como evidências da exteriorização da mente: utensílios e ferramentas de milhares de anos de idade e que hoje podem ser vistos em museus etnográficos ou de ciências naturais. Ele afirmou que esses utensílios operam associados à anatomia do corpo, e que também podem ser compreendidos como parte do processo de midiatização. Ou seja, essa não se dá exclusivamente com o uso de tecnologias avançadas, como um computador.

Oscar Traversa (E) e Giovandro Ferreira (Foto: João Flores da Cunha)

O professor Giovandro centrou sua apresentação no campo das teorias da comunicação. Para ele, “há algo que precisamos repensar” nos estudos de comunicação. Refletindo sobre a questão “qual o itinerário que fazemos nos manuais de comunicação?”, ele notou que a comunicação toma de empréstimo teorias de outras áreas, como sociologia e psicologia. De acordo com o professor, “importamos mais conceitos do que exportamos”.

Para ele, a midiatização surge de uma articulação, de uma busca conceitual. Trata-se de uma “problemática comunicacional, mas necessariamente multidisciplinar”, em sua visão. Nesse sentido, o desafio, em sua perspectiva, é: como levantar o problema da comunicação em meio ao fenômeno da midiatização, que é multidisciplinar?

Ele sugeriu o estabelecimento de relações com a História e com a escritura – por exemplo, a partir da questão “o que mudou após Gutemberg?”. Também mencionou o estudo do que chamou de “raízes esquecidas da comunicação”, ou seja, obras e autores que foram importantes para o campo, mas que, atualmente, não são valorizados. Um exemplo seria o pensamento do filósofo Edgar Morin, que nos anos 1960 escreveu textos que contribuíram para a reflexão sobre a comunicação.

Ao abordar as questões de circulação e acesso, Giovandro citou uma expressão que dá conta de que “nos focamos na represa, mas não na tempestade que vem por aí”. Ele notou que, conforme a Internet avança e se desenvolve, a noção de democracia que acompanhava a rede em sua origem vai sendo cada vez mais esquecida. “Quem tem o poder sobre as redes, nas redes e de criar redes?”, questionou.

Jairo Ferreira (E) e os demais integrantes da mesa (Foto: João Flores da Cunha)

O professor Jairo abordou as perspectivas dos acessos, usos, práticas e apropriações. Ele afirmou ter interesse nas narrativas, que vêm da cultura, e em como ela são registradas e como são transformadas por esse registro. “Quais são minhas possibilidades semióticas e discursivas dentro do dispositivo?”, questionou.

Em sua visão, “antes da escritura, começa a midiatização”, por meio da ritualística e de religiões. Referindo-se à tábua dos dez mandamentos, disse que “mais do que objetivar, trata-se da constituição de uma referência totêmica exterior ao corpo”.

Ao abordar uma articulação entre material e simbólico, técnica e tecnologia, o professor afirmou que o ponto central é a apropriação da linguagem. Para ele, “a esfera dos usos é uma esfera de experimentação social”, e “os usos podem questionar as práticas dominantes e refundá-las”.

Jairo mencionou que, em sua dissertação de mestrado, da década de 1990, defendeu a ideia de que a inteligência artificial jamais chegaria ao nível da interação face-a-face entre humanos. “Hoje eu já tenho dúvidas sobre isso”, afirmou.

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