02 Novembro 2016
Paolo Ricca, teólogo protestante e um dos principais especialistas na Itália do pensamento de Lutero, acolhe com satisfação o gesto e as declarações de Bergoglio. Embora advirta: "Ainda há passos a serem dados no campo do reconhecimento recíproco das Igrejas".
A reportagem é de Paolo Griseri, publicada no jornal La Repubblica, 01-11-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor Ricca, o papa de Roma diz que "a doutrina da justificação expressa a essência da existência humana diante de Deus". Uma afirmação reconfortante?
É sempre bom e positivo quando nos reconhecemos reciprocamente. O pensamento de Lutero sobre a justificação é um aspecto importante da doutrina cristã. Embora não seja o único.
No sentido de que, aplainada a divergência sobre esse ponto, ainda há outros?
Precisamente. Estamos no meio de um caminho que ainda deve ser feito completamente.
Quais são as divergências que dizem respeito ao tema da relação entre o homem e Deus?
Sobre o ponto da justificação, eu diria que, substancialmente, as principais diferenças foram superadas, e que hoje católicos e protestantes têm um ponto de vista comum.
O que ainda os divide?
As tomadas de posição sobre a ética e a concepção do ministério.
O ministério mais controverso é o do papa?
Certamente é um ponto importante. O papa é simplesmente o bispo de Roma.
Esse, historicamente, foi um nó decisivo, um dos pivôs da divisão cultural e social da Europa. É possível costurá-lo novamente hoje?
Eu acho que é importante, em um momento como este, fazer gestos de reunificação. Justamente porque esses gestos têm significado não só religioso, mas também um significado que vai além em um momento de divisões.
Qual é o próximo passo a ser dado?
Eu acho que o próximo ponto a ser resolvido é o do reconhecimento, da parte católica, das Igrejas reformadas como verdadeiras Igrejas de Cristo.
Hoje não é assim?
Hoje, há uma assimetria. A Igreja Católica considera as Igrejas reformadas não como Igrejas, mas como simples comunidades.
Se eles considerassem vocês como Igreja, deveriam renunciar ao primado do bispo de Roma.
De fato, esse é um ponto delicado. Mas é o único caminho para superar a assimetria e nos reconhecermos reciprocamente.
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"O ministério do pontífice ainda nos separa." Entrevista com Paolo Ricca - Instituto Humanitas Unisinos - IHU