Diaconisas: e agora? Artigo de Phyllis Zagano

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

12 Agosto 2016

"Em 2016, o ministério do discernimento sobre as mulheres no diaconato foi entregue a 12 estudiosos, sob a presidência de outro estudioso, um professor jesuíta de teologia dogmática, que também é secretário da congregação doutrinal. E, assim, a comissão vai se reunir, discernir e, espera-se, decidir sobre uma recomendação."

A opinião é da teóloga estadunidense Phyllis Zagano, da Universidade de Hofstra, de Nova York, autora, dentre outros, de Women Deacons: Past, Present, Future; Women Deacons? Essays with Answers e In the Image of Christ: Essays on Being Catholic and Female.

O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 10-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

O Papa Francisco nomeou apenas uma mulher do hemisfério ocidental para a sua comissão sobre as diaconisas.

Esta seria eu.

Então, o que acontece a seguir? O fato é: eu não sei. Presumo que, em algum momento em um futuro não muito distante, vou receber um convite para ir a Roma para me encontrar com os outros membros da comissão. O nosso mandato é estudar as mulheres no diaconato.

Quando falou com os membros da União Internacional das Superioras Gerais, em Roma, no dia 12 de maio, o Santo Padre disse que estava especialmente interessado nas diaconisas da Igreja primitiva. Ele disse que iria perguntar à Congregação para a Doutrina da Fé o que ela tinha sobre o assunto e, sim, a pedido das irmãs, ele formaria uma comissão.

Eu me pergunto o que a congregação doutrinal lhe enviou. Pergunto-me se ela lhe enviou o relatório da Comissão Teológica Internacional de 1997, que não encontrou nenhuma barreira para as diaconisas. Eu entendo que o relatório foi impresso, numerado e finalizado para a assinatura do presidente da Comissão Teológica Internacional, mas ele se recusou a assiná-lo. E não foi publicado.

Na época, o presidente da Comissão Teológica Internacional e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé era o cardeal Joseph Ratzinger.

Eu não acho que devemos nos queixar muito. Na realidade, eu me pergunto se, 19 anos atrás, havia sabedoria na decisão do cardeal Ratzinger. O diaconato, restaurado como uma vocação permanente, tinha apenas 30 anos de idade na época, ainda quase em seus estágios experimentais e exploratórios.

Levou um bom tempo para que muitas Conferências Episcopais respondessem ao chamado do Concílio Vaticano II a restaurar o diaconato como uma vocação permanente. Enquanto muitos bispos estadunidenses começaram a ordenar homens casados como diáconos quase tão rapidamente quanto podiam, outros não deram esse salto velozmente.

Por exemplo, demorou quase 40 anos para que dioceses no Reino Unido e na Irlanda começassem a formar diáconos. Mesmo assim, o diaconato cresceu. Existem agora mais de 42.000 diáconos em todo o mundo, em grande parte concentrados na Europa ocidental e nos Estados Unidos.

A teoria sobre o diaconato também cresceu, de acordo com a sua disseminação em todo o mundo. A editora Paulist Press abriu o caminho nos Estados Unidos com muitos livros de e sobre diáconos. Frequentemente eu levantei a minha mão e voz para perguntar sobre a restauração das mulheres ao ministério diaconal.

Em 2002, um novo comitê da Comissão Teológica Internacional, dirigido por um ex-aluno de pós-graduação de Ratzinger, finalizou um documento de estudo concluindo que "o ministério do discernimento, que o Senhor deixou à Sua Igreja", deveria decidir sobre a questão das diaconisas.

O estudo da Comissão Teológica Internacional de 2002 depende fortemente do trabalho de um estudioso, Aimé Georges Martimort (1911-2000), que se opôs fortemente voltando ao retorno das mulheres ao diaconato no seu livro de 1982 (traduzido ao inglês em 1986), Deaconesses: An Historical Study.

Em 2002, a Comissão Teológica Internacional pareceu concordar com Martimort, mas incluiu a sua determinação de que a questão das mulheres no diaconato não estava resolvida.

Nos anos seguintes, outros estudiosos olharam para a questão, retraduziram estudos e documentos originais, e questionaram por que apenas metade do diaconato tinha se rejuvenescido até então.

Agora, em 2016, o ministério do discernimento sobre as mulheres no diaconato foi entregue a 12 estudiosos, sob a presidência de outro estudioso, um professor jesuíta de teologia dogmática, que também é secretário da congregação doutrinal. E, assim, a comissão vai se reunir, discernir e, espera-se, decidir sobre uma recomendação.

Fora das reuniões da comissão, o ministério do discernimento mais amplo já está se movendo. Os suspeitos de costume estão criticando o papa e a sua comissão, e um deles está até blogando sobre "diaconetes" [deaconettes], enquanto fomenta a insurreição, senão o cisma. Outros até levantam falsas esperanças sobre sacerdotisas ou lutam contra o "tigre de papel" que tal sugestão representa.

Apesar do desgaste da conversa, eu acho que é importante para a Igreja – toda a Igreja – pensar e rezar sobre as diaconisas. Elas eram ordenadas em cerimônias idênticas às usadas para os homens? Sim. Esse sempre foi o caso? Quem sabe? As suas cerimônias de ordenação incluíam a epiclese – a invocação da descida do Espírito Santo – e a imposição das mãos? Sim. Elas tinham as mesmas tarefas e obrigações dos diáconos homens? Não. Elas tinham alguns. Mas os diáconos homens também não partilhavam as suas tarefas e obrigações, incluindo a unção das mulheres doentes e das recém-batizadas. A história sozinha não pode decidir isso. Espera-se que o Espírito Santo esteja nos detalhes.

Eu não posso lhes dizer como as coisas vão ser resolvidas, ou quando. Eu só posso dizer que parece que o Papa Francisco vai tomar uma decisão. Eu genuinamente acredito que a sua decisão, qualquer que seja, será a certa.