12 Agosto 2016
"Em 2016, o ministério do discernimento sobre as mulheres no diaconato foi entregue a 12 estudiosos, sob a presidência de outro estudioso, um professor jesuíta de teologia dogmática, que também é secretário da congregação doutrinal. E, assim, a comissão vai se reunir, discernir e, espera-se, decidir sobre uma recomendação."
A opinião é da teóloga estadunidense Phyllis Zagano, da Universidade de Hofstra, de Nova York, autora, dentre outros, de Women Deacons: Past, Present, Future; Women Deacons? Essays with Answers e In the Image of Christ: Essays on Being Catholic and Female.
O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 10-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o artigo.
O Papa Francisco nomeou apenas uma mulher do hemisfério ocidental para a sua comissão sobre as diaconisas.
Esta seria eu.
Então, o que acontece a seguir? O fato é: eu não sei. Presumo que, em algum momento em um futuro não muito distante, vou receber um convite para ir a Roma para me encontrar com os outros membros da comissão. O nosso mandato é estudar as mulheres no diaconato.
Quando falou com os membros da União Internacional das Superioras Gerais, em Roma, no dia 12 de maio, o Santo Padre disse que estava especialmente interessado nas diaconisas da Igreja primitiva. Ele disse que iria perguntar à Congregação para a Doutrina da Fé o que ela tinha sobre o assunto e, sim, a pedido das irmãs, ele formaria uma comissão.
Eu me pergunto o que a congregação doutrinal lhe enviou. Pergunto-me se ela lhe enviou o relatório da Comissão Teológica Internacional de 1997, que não encontrou nenhuma barreira para as diaconisas. Eu entendo que o relatório foi impresso, numerado e finalizado para a assinatura do presidente da Comissão Teológica Internacional, mas ele se recusou a assiná-lo. E não foi publicado.
Na época, o presidente da Comissão Teológica Internacional e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé era o cardeal Joseph Ratzinger.
Eu não acho que devemos nos queixar muito. Na realidade, eu me pergunto se, 19 anos atrás, havia sabedoria na decisão do cardeal Ratzinger. O diaconato, restaurado como uma vocação permanente, tinha apenas 30 anos de idade na época, ainda quase em seus estágios experimentais e exploratórios.
Levou um bom tempo para que muitas Conferências Episcopais respondessem ao chamado do Concílio Vaticano II a restaurar o diaconato como uma vocação permanente. Enquanto muitos bispos estadunidenses começaram a ordenar homens casados como diáconos quase tão rapidamente quanto podiam, outros não deram esse salto velozmente.
Por exemplo, demorou quase 40 anos para que dioceses no Reino Unido e na Irlanda começassem a formar diáconos. Mesmo assim, o diaconato cresceu. Existem agora mais de 42.000 diáconos em todo o mundo, em grande parte concentrados na Europa ocidental e nos Estados Unidos.
A teoria sobre o diaconato também cresceu, de acordo com a sua disseminação em todo o mundo. A editora Paulist Press abriu o caminho nos Estados Unidos com muitos livros de e sobre diáconos. Frequentemente eu levantei a minha mão e voz para perguntar sobre a restauração das mulheres ao ministério diaconal.
Em 2002, um novo comitê da Comissão Teológica Internacional, dirigido por um ex-aluno de pós-graduação de Ratzinger, finalizou um documento de estudo concluindo que "o ministério do discernimento, que o Senhor deixou à Sua Igreja", deveria decidir sobre a questão das diaconisas.
O estudo da Comissão Teológica Internacional de 2002 depende fortemente do trabalho de um estudioso, Aimé Georges Martimort (1911-2000), que se opôs fortemente voltando ao retorno das mulheres ao diaconato no seu livro de 1982 (traduzido ao inglês em 1986), Deaconesses: An Historical Study.
Em 2002, a Comissão Teológica Internacional pareceu concordar com Martimort, mas incluiu a sua determinação de que a questão das mulheres no diaconato não estava resolvida.
Nos anos seguintes, outros estudiosos olharam para a questão, retraduziram estudos e documentos originais, e questionaram por que apenas metade do diaconato tinha se rejuvenescido até então.
Agora, em 2016, o ministério do discernimento sobre as mulheres no diaconato foi entregue a 12 estudiosos, sob a presidência de outro estudioso, um professor jesuíta de teologia dogmática, que também é secretário da congregação doutrinal. E, assim, a comissão vai se reunir, discernir e, espera-se, decidir sobre uma recomendação.
Fora das reuniões da comissão, o ministério do discernimento mais amplo já está se movendo. Os suspeitos de costume estão criticando o papa e a sua comissão, e um deles está até blogando sobre "diaconetes" [deaconettes], enquanto fomenta a insurreição, senão o cisma. Outros até levantam falsas esperanças sobre sacerdotisas ou lutam contra o "tigre de papel" que tal sugestão representa.
Apesar do desgaste da conversa, eu acho que é importante para a Igreja – toda a Igreja – pensar e rezar sobre as diaconisas. Elas eram ordenadas em cerimônias idênticas às usadas para os homens? Sim. Esse sempre foi o caso? Quem sabe? As suas cerimônias de ordenação incluíam a epiclese – a invocação da descida do Espírito Santo – e a imposição das mãos? Sim. Elas tinham as mesmas tarefas e obrigações dos diáconos homens? Não. Elas tinham alguns. Mas os diáconos homens também não partilhavam as suas tarefas e obrigações, incluindo a unção das mulheres doentes e das recém-batizadas. A história sozinha não pode decidir isso. Espera-se que o Espírito Santo esteja nos detalhes.
Eu não posso lhes dizer como as coisas vão ser resolvidas, ou quando. Eu só posso dizer que parece que o Papa Francisco vai tomar uma decisão. Eu genuinamente acredito que a sua decisão, qualquer que seja, será a certa.
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Diaconisas: e agora? Artigo de Phyllis Zagano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU