09 Agosto 2016
Entre os dias 23 e 24 de maio, cerca de 70 famílias viveram uma madrugada de angústia à espera de serem despejadas do prédio onde moram desde dezembro de 2015. Felizmente, para eles, o forte aparato da Brigada Militar foi desmobilizado de última hora por determinação da Justiça. A história da desocupação que não aconteceu é o tema do documentário “Lanceiros Negros estão vivos: uma ocupação por moradia e liberdade”, que será lançado oficialmente na próxima quinta-feira (11).
A reportagem é de Luís Eduardo Gomes, publicada por Sul21, 07-08-2016.
Um dos diretores do filme, Tiago Rodrigues afirma que o Coletivo Catarse já vinha fazendo imagens da ocupação para uma matéria, mas que a operação de desocupação, posteriormente abortada, os incentivou a produzir o documentário. “Ainda durante a noite e a madrugada em que a ocupação estava sitiada pela polícia, postamos nas redes sociais vídeos que recebemos de dentro do prédio, com depoimentos dos moradores gravados por celular. Chegamos na ocupação por volta das 4h e acompanhamos até o amanhecer, quando a reintegração foi suspensa. A partir daí, resolvemos contar a história sobre a vitória daquele dia, porque nos pareceu muito importante e significativa, não apenas para as famílias diretamente envolvidas, mas também para o conjunto dos movimentos que lutam por moradia em Porto Alegre”, diz.
Além de abordar os acontecimentos daquela madrugada, o filme também busca fazer uma reflexão sobre o papel da Justiça na disputa por moradia. “Seria um despejo em desacordo com as convenções internacionais de que o Brasil é signatário, já que não havia alternativas para os moradores que não fosse a rua. A partir dos depoimentos, se problematiza também o direito à moradia.
Rodrigues explica que foram ouvidos moradores que passaram a noite na ocupação, mas também outros que foram obrigados a passar a noite na rua porque chegaram ao local após o cerco policial já ter sido formado. “Conversamos também com os advogados que conseguiram interromper a reintegração de posse na Justiça, com um procurador regional da república, com o procurador do estado que pediu a reintegração de posse e com uma ex-relatora especial da ONU para direito à moradia”, diz.
Filme traz depoimentos de moradores sobre a noite em que aguardaram para ser despejados | Foto: Divulgação/Coletivo Catarse
O diretor salienta ainda que contar a história da Lanceiros é relevante porque é um caso que representa a “luta popular pela garantia de direitos humanos básicos”. “Também representa a resistência das pessoas em relação à opressão do Estado e de um sistema que muitas vezes coloca negócios e bens materiais como prioridade, ao invés das pessoas. A vitória, mesmo que pontual, naquele dia, foi um momento marcante em que a polícia, pronta para agir com a violência costumeira contra pessoas pobres e marginalizadas, teve que ir embora empurrada pelos apoiadores que estavam na rua para prestar solidariedade aos moradores da ocupação”, explica.
Ele diz que o documentário tem como objetivo inspirar outras mobilizações por direitos e humanos e, “sonhando alto”, ajudar as famílias a obterem uma decisão favorável na Justiça.
O Coletivo Catarse já realizou uma série de outros documentários no Estado com temáticas semelhantes, como A Copa que o Mundo Perdeu em Porto Alegre, sobre os impactos nas comunidades populares da Capital que ficaram no caminho das obras envolvendo o megaevento; Cinturão Verde de Porto Alegre: Território em Disputa, sobre o avanço da especulação imobiliária pressionando áreas de preservação ambiental e da produção agroecológica de alimentos na cidade; entre outros.
O lançamento do documentário será realizado na próxima quinta (11), em sessão na sede do Sindbancários (Rua General Câmara, 424), a partir das 21h. Senhas para acompanhar a estreia serão distribuídas no mesmo dia na própria Ocupação Lanceiros Negros, a partir das 18h30.
Ficha técnica:
Filme: Lanceiros Negros estão vivos: uma ocupação por moradia e liberdade
Produção: Coletivo Catarse
Direção e imagens: Tiago Rodrigues e Jefferson Pinheiro
Direção de trilha original e som direto: Marcelo Cougo
Trilha sonora original: Marcelo Cougo e Sandré Sarreta (Eu Acuso), Billy Valdez e Bodão Artenula (Hempadura), Richard Serraria (Bataclã FC), Mário Pirata, Domício Grillo (Kalunga), Lucas Kinoshita (Trem Imperial), Igor Assunção (Cartel da Cevada) e Filipe Burgdurff.
Edição: Tiago Rodrigues
Arte: Ruben Castillo
Finalização de som: Bruno klein
Imagens adicionais cedidas por Douglas Freitas, Tharcisio Rocha e moradores da Ocupação Lanceiros Negros.
Tempo de duração: 55 min.
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Porto Alegre. Desocupação suspensa da Lanceiros Negros vira documentário - Instituto Humanitas Unisinos - IHU