20 Julho 2016
“Como é bom partilhar emoções e esperança, caminhar no compasso dos mártires e profetas. Abraçar velhos e novos lutadores e guerreiros no calor da fé embalados pelas canções de vida e luta. Pedro, fica Pedro! nos corações e mentes da multidão, ansiosa em vê-lo, apesar de sua saúde debilitada. Ir a Ribeirão Cascalheira nesses dias é animar o caminho da libertação”, escreve Egon Heck, do secretariado nacional do Conselho Indigenista Missionário - CIMI, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.
Eis o artigo.
Foto: Laila Menezes / Cimi |
Os quase cinco mil romeiros, participantes das celebrações da vida e da esperança – Profetas do Reino - ouviram estarrecidos e indignados a denúncia da bárbara situação de violência contra os Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul. Representantes desse povo, participantes da Romaria, narraram o rosário de violências que estão passando na incansável luta por seus direitos, por suas terras tradicionais (tekoha).
Em tom dramático, mostraram as marcas da violência. Pedro mostrou onde penetrou a bala que se encontra alojada perto de seu coração. Leila, de Yvy Katu, na fronteira com o Paraguai, expressou a dramaticidade da luta que enfrentam na reconquista de seus territórios. Clamou por socorro, por solidariedade.
Na roda de conversa sobre a defesa do cerrado, contra o uso dos agrotóxicos e transgênicos na produção de alimentos, foi aprovada uma nota de repúdio e moção de solidariedade ao povo Guarani-Kaiowá do Mato Grosso do Sul (veja íntegra da nota/moção). Foi feito um minuto de silêncio em homenagem aos que tombaram, aos que se tornaram sementes do futuro.
A doce rebeldia e a sagrada teimosia
Momento de memória, amor e compromisso. A noite foi chegando na dança dos estandartes dos mártires presentes, ao clarão da lua e o tom suave do “luar do sertão”. Melodia conectando os corações no fogo da memória perigosa dos mártires da caminhada. Chega Pedro, chega Maria, chega a multidão de lutadores e guerreiros na suave brisa da utopia.
Com os corações incendiados pelos desmandos, corrupção e opressão, foram inevitáveis os gritos incontidos de “Fora Temer”. Em sintonia profunda com os profetas e profetizas, a multidão marchou ao som de hinos de libertação e esperança, transformação, luta, fé e união.
Foto: Laila Menezes / Cimi |
Muito canto, muita esperança na esquina de cada abraço, de emocionados reencontros, de históricos e novos lutadores. Nas pegadas de João Bosco e Pedro, os passos da vida e dos profetas, a esperança dá o compasso da semente lançada ao chão, do “Fica Pedro” no coração grande e se expande ao infinito do novo dia de luta.
6ª Romaria dos Mártires da Caminhada
Ribeirão Cascalheira- MT – Prelazia de São Felix do Araguaia
Egon Heck
Fotos Laila/Cimi
Eis a nota.
Nota de repúdio e moção de solidariedade
Foto: Laila Menezes / Cimi |
Os participantes da 6ª Romaria dos Mártires, vindos de todas as regiões do Brasil e de três continentes, a Ribeirão Cascalheira-MT, queremos denunciar o genocídio contra os índios Guarani-Kaiowá no estado do Mato Grosso do Sul, proporcionado pelos jagunços do agronegócio, acobertados pelas autoridades estaduais e federais.
O mais grave é que isso acontece na total impunidade estimulando uma verdadeira guerra contra esse povo.
Exigimos a punição dos responsáveis por esse extermínio e a demarcação imediata de suas terras.
Ribeirão Cascalheira, 17 de julho de 2016.
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O grito de socorro dos Guarani-Kaiowá na Romaria dos Mártires - Instituto Humanitas Unisinos - IHU