14 Julho 2016
A ativista hondurenha Lesbia Yaneth Urquía foi encontrada morta no último dia 06-07-2016 em Marcala, a oeste da capital do país, Tegucigalpa. O assassinato faz parte de uma série de homicídios de integrantes do Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras – Copinh, que defende as causas ambiental e indígena em Honduras.
Em março, Nelson García foi morto. Berta Cáceres, co-fundadora do Copinh, foi assassinada a tiros, em casa, no mesmo mês. Tomás García, que era líder do conselho, havia sido morto por um militar durante um protesto em 2013.
Lesbia Yaneth Urquía. Foto: Twitter
Os ativistas mortos faziam campanha contra um projeto de uma hidrelétrica impulsionado pelo governo do país. O departamento de La Paz, onde fica Marcala, é um foco de conflitos ambientais e indígenas. Há reservas e aldeias na região.
De acordo com um comunicado do Copinh, “a morte de Lesbia Yaneth constitui um feminicídio político que busca calar as vozes das mulheres que com coragem e valentia defendem seus direitos contra o sistema patriarcal, racista e capitalista, que cada vez mais se aproxima da destruição do nosso planeta”.
Ativistas em perigo
Honduras é considerado o país mais inseguro para ativistas ambientais em termos per capita. Em um relatório de 2015, a ONG britânica Global Witness publicou um relatório em que afirma que, entre 2010 e 2014, 101 ativistas foram mortos. Organizações de direitos humanos denunciam que, via de regra, os crimes ficam impunes.
A situação gera riscos inclusive para estrangeiros. O ativista mexicano Gustavo Castro Soto, que foi testemunha do assassinato de Berta Cáceres e ficou ferido no ataque, foi detido pelas autoridades hondurenhas, mas conseguiu retornar ao seu país no início de abril.
Em 2009, houve no país um golpe de Estado que removeu do poder o presidente Manuel Zelaya. O atual presidente é o conservador Juan Orlando Hernández. O Copinh responsabilizou diretamente o governo de Honduras pelo assassinato de Lesbia Urquía.
Violência
Honduras é um dos países mais violentos do mundo. Em 2011, a taxa de homicídios no país era de 86,5 a cada 100 mil habitantes, superior à de qualquer outro país. Em 2015, esse número diminuiu para 59,5 por 100 mil habitantes, segundo o Observatório da Violência da Universidad Nacional Autónoma de Honduras – UNAH.
De acordo com um relatório de 2010 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, há no país, bem como em toda a América Central, um alto número de armas em circulação, a maioria ilegal. O governo do presidente Hernández aposta em uma estratégia de militarização para reduzir os índices de violência.
Ameaças na América Latina
As ameaças e assassinatos a ativistas das causas ambiental e indígena na América Latina não se resumem a Honduras. Tampouco a impunidade é uma exclusividade desse país. Em um caso célebre no Brasil, a missionária Dorothy Stang foi morta no Pará em 2005. A luta no Brasil profundo continua sendo combatida por meio de homicídios. Em junho de 2016, um indígena Guarani-Kaiowá foi morto no Mato Grosso do Sul.
Por João Flores da Cunha / IHU – Com agências
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Em Honduras, assassinatos de ativistas se repetem - Instituto Humanitas Unisinos - IHU