18 Abril 2016
Representantes dos 13 mil indígenas da etnia Munduruku, distribuídos em 120 aldeias do Pará, divulgaram na manhã desta quinta-feira (14),na sede do Ministério Público Federal, em Belém, uma carta do povo indígena ao Governo Federal. O documento pede a demarcação de terras indígenas, investimentos em saúde e educação nas aldeias e, principalmente, o fim dos projetos de construção de hidrelétricas no Estado. O G1 solicitou um posicionamento do Ministério de Minas e Energia e aguarda retorno.
A reportagem foi publicada pelo portal G1, 15-04-2016.
A carta foi elaborada no início deste mês durante a assembleia geral da nação Munduruku no Pará, que reuniu 550 caciques, pajés e guerreiros no município de Jacareacanga, município do sudoeste paraense.
“Queremos a paralisação destes projetos que interferem no nosso território e prejudicam nossos filhos. A carta é também para o povo brasileiro e do mundo todo porque essa luta não é apenas nossa. O povo Munduruku não vai aceitar nenhuma hidrelétrica nos rios da região!”, explicou Maria Leusa Munduruku, durante a coletiva de imprensa.
De acordo com os indígenas, há pelos menos mais cinco projetos de hidrelétricas previstos para serem construídas nos rios Tapajós e Jamanxim, áreas ocupadas pelos indígenas há milhares de anos. São elas: São Luiz do Tapajós, Jatobá, Cachoeira do Caí, Jamanxim e Cachoeira dos Patos.
Maria Leusa denuncia os problemas enfrentados pelas tribos no Pará e reforça a falta de diálogo sobre os projetos de geração de energia. Ela afirma que são as lideranças indígenas que se mobilizam e buscam informações e que não há um canal de diálogo sobre os projetos e seus impactos para os indígenas da Amazônia. “Vemos ou ouvimos falar de algo e os líderes [indígenas] nos reúnem e conversamos, ninguém vai na aldeia conversar com a gente. Eles estão violando as leis e mudando leis para poder construir esses empreendimentos”, conta.
Para os indígenas, a ameaça aos seus territórios é uma ameaça contra sua própria cultura e identidade. “A preocupação é grande, vemos que já conteceu com nossos parentes e outros povos com a construção de Belo Monte. Eles morreram! Às vezes é difícil até olhar nossos filhos com essa preocupação com nossa ‘mãe’, que é o nosso território. Sem a terra não somos nada, não temos futuro. Nós fazemos o possível para protegê-la e cuidar dela. Vamos continuar na luta e não vamos parar, independente do que o governo responder, somos ‘cortadores de cabeça’ [guerreiros] e vamos proteger nossa terra e nosso filhos!”, garantiu a Munduruku.
Greenpeace
A preocupação mais eminente dos Munduruku, a construção da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, prevista para iniciar ainda em 2016, é um dos focos de um relatório divulgado pelo Greenpeace na última quarta-feira (13).
Os ambientalistas reuniram um grupo de pesquisadores para mostrar cenários alternativos à geração de energia no Brasil, sem a construção de hidrelétricas e usando fontes mais limpas e menos prejudiciais ao meio ambiente, em uma combinação de matriz de energia eólica, solar e de biomassa.
Eles garantem que é possível gerar a energia necessária sem comprometer a Amazônia e falam ainda dos impactos ambientais e humanos de obras como essa, incluindo a questão dos Munduruku.
Entre as recomendações do Greenpeace ao Governo Brasileiro está duas demandas indígenas: a paralisação de construção de novas hidrelétricas na Amazônia e a demarcação imediata da terra indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku.
O relatório e vídeo explicativo do documento também insistem para que o Governo Federal respeite os direitos humanos, dos povos indígenas, dos trabalhadores, os direitos relativos à proteção do meio ambiente e que acabe com a corrupção no setor energético do país. Além de garatir a proteção das áreas de conservação na bacia do Tapajós, no Pará.
“A aposta em novas hidrelétricas na Amazônia tem causado enorme destruição e se mostrado um erro desastroso para o país e para o mundo”, afirma Danicley de Aguiar, representante da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
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Índios Munduruku pedem o fim da construção de barragens no Pará - Instituto Humanitas Unisinos - IHU