Por: Jonas | 13 Abril 2016
A verdade é um ato de amor que deve chegar aos que são diferentes. Começou nesta manhã, no edifício histórico da Universidade de Salamanca, o Congresso “Alma Mater, a Universidade ontem e hoje. 800 anos dos Dominicanos e as universidades”. O ato inaugural foi presidido pelo reitor da Universidade de Salamanca, senhor Daniel Hernández Rupérez, que recordou a vinculação da Universidade com a Ordem dos Pregadores e pelo prior provincial da Província Hispânica frei Jesús Díaz Sariego. Foi o próprio prior quem realizou a apresentação do primeiro conferencista, frei Timothy Radcliffe, diretor do Instituto de Las Casas de Blackfriars, Oxford, ex-mestre da ordem dos pregadores.
A reportagem é de Juan Antonio Mateos Pérez, publicada por Religión Digital, 09-04-2016. A tradução é do Cepat.
Frei Timothy intitulou sua exposição ‘A Universidade e sua função social em seus inícios e hoje’. Partindo de sua experiência pessoal, situou o lema da Ordem “Veritas” no eixo de sua exposição, alternando e interatuando, de forma conjunta, a verdade como experiência profética e como tarefa da razão e conhecimento a partir do estudo e docência. Para isso, foi alternando alguns dos personagens mais importantes da Ordem que deram lugar ao mais genuíno da mesma e ao nascimento de seu carisma.
Nessa pergunta pela verdade, começou com Domingos de Gusmão e Tomás de Aquino. Domingos buscador da verdade nos caminhos e Tomás na Universidade, com uma grande obra teológica. A Ordem buscou a verdade interatuando nessas duas realidades, em que uma serviu de apoio para a outra. A espiritualidade dominicana tem sido (frei Martínez) uma espiritualidade de olhos abertos, não deixar passar nada, não perder detalhes e estar com os que mais sofrem para que os olhos se tornem sábios.
Domingos desceu do cavalo, colocou-se no mundo, comeu com os albigenses e tentou compreender seu mundo e suas necessidades. Compreendeu que para ser pregador da misericórdia era necessária formação e enviou seus freis às principais universidades da Europa. Para ver bem, exige pensar claramente. Tomás de Aquino, nasceu um pouco depois da morte de Domingos, seu pensamento e teologia supôs um grande apoio à missão que Domingos havia iniciado. A Graça não destrói a natureza, entendendo o homem como uma unidade, de corpo e alma. Seguindo o pensamento de Aristóteles, viverá como ele no mundo, com uma forte intensidade, entendendo que não há nada na mente, se antes não passou pelos sentidos, sendo o tato o mais profundo dos sentidos. Na Encarnação, a humanidade sente o tato de Deus, Jesus toca os mais arrasados, leprosos, enfermos, mendigos e, além disso, não teme ser tocado. O tato está muito relacionado com a vista, já que o que não toca não vê. Nosso conhecimento de tudo não é abstrato e distante, mexemos com as coisas. Aqui confluem Domingos e Tomás, a teologia chama à experiência de tocar o mundo. A vista clara e os olhos abertos necessitam do tato, do compromisso. Alguns são mais como Domingos, outros como Tomás, mas na busca da verdade há uma comunidade que se apoia nessas duas realidades que interatuam entre si.
Na ilha A Espanhola, Bartolomé de Las Casas é Domingos e Francisco de Vitória é Tomás. António de Montesinos, em nome da comunidade, denuncia a situação dos índios com seu famoso sermão: “Como os mantêm tão oprimidos e abatidos, sem lhes dar de comer, nem curá-los em suas enfermidades?... Estes, não são homens?” Bartolomé de Las Casas reuniu, com todos os detalhes, as injustiças cometidas aos indígenas, foi testemunha do que estava acontecendo, vendo Jesus Cristo maltratado mil vezes e, assim como São João, o que temos visto, o que tocamos, nós anunciamos. Assim, Bartolomé de Las Casas enviou uma carta ao rei da Espanha. Anos depois, Gustavo Gutiérrez comentava que a experiência é a chave, é mestra de todas as coisas, vê o sofrimento dos índios através de seus olhos. Contudo, para ver claramente, a experiência desnuda não é suficiente, é preciso estudar e aprofundar para ser boa testemunha. Bartolomé de Las Casas levava com ele, para todos os lados, seus livros, sua biblioteca viajante, que utilizava para defender os direitos dos homens, que pertencem a todos os seres humanos pelo fato de ser humanos, assim como defendeu Francisco de Vitória. A partir deste direito, Vitória nega o direito ao rei e ao Papa de domínio sobre os índios. Complementam-se a teologia de Vitória e a ação profética de Bartolomé de Las Casas.
O mundo do trabalho da metade do século XX foi tão estranho como o mundo de Colombo e os conquistadores. Nesse momento, a Igreja havia abandonado os trabalhadores e estava ausente de sua proximidade, razão pela qual os dominicanos Chenu e Congar quiseram entrar nas fábricas e conhecer seu mundo. Era necessário conhecer sua vida, as pessoas, sua forma de viver, de trabalhar e a Igreja tinha que se fazer presente na vida dessas pessoas. Muitos sacerdotes tiram suas batinas e se tornam padres operários, mas essa presença no mundo precisava de uma reflexão teológica. Assim, Chenu e Congar, assim como Domingos e Tomás, Bartolomé e Francisco de Vitória, buscaram a partir da razão, do pensamento. O Aquinate era o mestre, não porque tivesse todas as respostas, mas porque sua teologia se encarnava no mundo, na América do século XVI e na França da metade do século XX.
Nossas Universidades têm relação nesse âmbito, na sociedade, contra os fundamentalismos religiosos, apoiando os refugiados ou com outros desafios do mundo ou vive em sua torre de marfim? O ser humano tem uma inclinação natural a buscar a verdade, sem a verdade os seres humanos se murcham, não só está nos grandes manuais, também na poesia, nos filmes, nos blogs. A Universidade existe não só para educar o intelecto, mas também para combater uma economia de mercado que só busca a produção. O ser humano não pode sobreviver sem trabalho, sem poder levar um presente para seus filhos, sem poder comer todos os dias. Buscar a verdade é um ato espiritual, um ato de amor para chegar àqueles que são diferentes e distintos de nós, mas não somos o centro do mundo. Nossa sociedade teme o que é diferente e a Universidade deverá nos ensinar a nos envolver com os que não são como nós, com aqueles que são diferentes.
À tarde, Manuel José López Pérez, excelentíssimo senhor reitor da Universidade de Zaragoza, ex-presidente da Confederação de Reitores das Universidades Espanholas e catedrático de Bioquímica e Biologia molecular continuou com a conferência “Vocação intelectual da universidade espanhola e sua função educativa e social”. Finalizando o dia com Antonio Basanta, diretor geral da Fundação Germán Sánchez Ruipérez e diretor do grupo editorial Anaya, centrando sua exposição em “A responsabilidade da universidade e a criação de cidadania”, defendendo a importância da leitura que nos permite sair do labirinto, navegar, compreender, transformar a realidade, sentir-se em comunidade. A paixão da leitura deveria ser o padrão de aprendizagem, onde não só o saber, mas também os parâmetros éticos nos levem a uma aprendizagem da acolhida, da responsabilidade e do sentido da profissão.
Assista a Conferência, em espanhol:
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Timoty Radcliffe: “Buscar a verdade é um ato de amor para chegar àqueles que são diferentes e distintos de nós” (com vídeo) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU