06 Abril 2016
Cerca de quatro meses atrás, o Papa Francisco inaugurou o Ano Jubilar da Misericórdia atualmente em andamento. Ele pediu que este tempo se constitua num momento para recordarmos que a Igreja é uma “casa para todos”, e que pode ser um lugar “onde todos possam se sentir acolhidos, amados, perdoados”. Os católicos de todo o mundo estão participando de muitas maneiras deste Jubileu Extraordinário da Misericórdia, e um bispo maltês, Dom Mario Grech, chegou mesmo a demonstrar a esperança de que este Ano “começaria uma nova era para a Igreja”.
O comentário é de Bob Shine, publicado por New Ways Ministry, 04-04-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Neste Domingo da Divina Misericórdia, vale a pena se perguntar sobre o impacto que o Ano da Misericórdia está tendo, de fato, junto aos fiéis LGBTs, aos seus entes queridos e apoiadores de suas lutas.
Momentos positivos de expansão da misericórdia e inclusão têm ocorrido. Em vários casos, os bispos vêm usando o Ano da Misericórdia para dar boas-vindas especiais a comunidades LGBTs.
Por exemplo, Dom Terry Steib, da Diocese de Memphis, em sua carta intitulada “Uma resposta compassiva”, exortou os católicos a associar a misericórdia com a humildade e a se abrirem ao encontro e diálogo de modo que questões LGBTs possam avançar. Em sua mensagem quaresmal sobre a misericórdia, Dom Mitchell Rozanski, da Diocese de Springfield, Massachusetts, procurou o perdão daqueles a quem a Igreja tem magoado, incluindo as pessoas LGBTs. Em Nova Orleans, Dom Gregory Aymond realizou uma missa para o Domingo da Divina Misericórdia que inclui um ritual de perdão e ressureição que reconhece:
“Que nós, como indivíduos, como membros da arquidiocese e sociedade como um todo temos decepcionado as pessoas (...) Este rito busca o perdão e a reconciliação com aqueles que foram magoados ou afastados pela Igreja, seja via institucional, seja via delitos individuais”.
Embora não se tenham aqui especificadas quais comunidades, as pessoas LGBTs estão certamente incluídas entre os que a Igreja tem magoado, e Aymond, no passado, falou em termos mais positivos sobre temas em torno da sexualidade.
Os católicos leigos estão participando do Ano da Misericórdia também. Muitos pedem uma Igreja e sociedade mais justa e inclusiva. Como uma forma de marcar este ano especial, os católicos de Kentucky marcharam até o centro de Lousiville e se postaram do lado de fora da catedral para demonstrar apoio às iniciativas de proteção à comunidade LGBT. Católicos de outras partes dos EUA, incluindo pelo menos dois governadores, estão resistindo ativamente contra a proposta de lei que “permite discriminar”, atualmente sob consideração nas legislaturas estaduais em todo o país. E dois católicos transgêneros compartilharam suas histórias durante uma oficina no maior evento católico da América do Norte, o Congresso de Educação Religiosa de Los Angeles.
Apesar destas boas notícias, momentos negativos também têm ocorrido. Um número demasiado grande de autoridades eclesiásticas estão ou evitando o Ano da Misericórdia ou parece que eles não entendem bem deste assunto. Os bispos do Malawi usaram uma carta pastoral sobre a misericórdia para pedir que o governo prenda as pessoas LGBTs. Um pastor interrompeu um funeral por causa de sua oposição a questões LGBTs. Um outro fechou um ministério LGBT de sua paróquia. Até agora o Vaticano tem se recusado a intervir para deter os ataques crescentes dos bispos da República Dominicana contra o embaixador gay americano James Brewster. Aos líderes eclesiásticos cujos corações permanecem fechados à comunidade LGBT, nós podemos rezar estas palavras tiradas da oração do Papa Francisco para o Ano da Misericórdia:
“Vós quisestes que os Vossos ministros fossem também eles revestidos de fraqueza para sentirem justa compaixão por aqueles que estão na ignorância e no erro: fazei que todos os que se aproximarem de cada um deles se sintam esperados, amados e perdoados por Deus.”
Quando se trata das preocupações da comunidade LGBT, o próprio envolvimento do Papa Francisco no Ano da Misericórdia é ambíguo. No momento, pergunta que não quer calar é qual o impacto que a sua exortação apostólica que está por vir, documento intitulado “Amoris Laetitia”, terá junto aos católicos LGBTs. O papa consistentemente prega a misericórdia em suas audiências de quarta-feira no Vaticano, em suas viagens internacionais... Porém ele fez uma dura crítica à igualdade matrimonial em janeiro, e o seu envolvimento no debate sobre as uniões civis na Itália até agora não ficou claro.
Ainda precisamos esperar para ver se o Ano da Misericórdia, visto como um todo, será bom ou não para as pessoas LGBTs e outros católicos que apoiam a igualdade matrimonial. Há sinais de esperança entre o Povo de Deus, mas também muita intransigência em instituições eclesiais.
O que você acha? O Ano da Misericórdia tem beneficiado os fiéis LGBTs? Se ainda não, acha que ele poderá beneficiar em algum momento? Quais podem ser as formas de mostrar uma maior misericórdia àqueles que a Igreja exclui e machuca? Você pode deixar os seus pensamentos na seção “Comentários” logo abaixo.
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Como os católicos LGBTs estão vivendo o Ano da Misericórdia? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU