"É hora de a Igreja pedir perdão ao mundo sobre os gays." Entrevista com Michael Cuningham

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08 Outubro 2015

O prêmio Pulitzer é homossexual de família cristã e está acompanhando atentamente o Sínodo no Vaticano, especialmente depois da "saída do armário" de Charamsa.

A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada no jornal La Repubblica, 07-10-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Foi uma declaração polêmica, é claro. Mas o padre Charamsa escolheu o momento certo para o seu coming out, especialmente depois do encontro do papa com Kim Davis, a funcionária norte-americana que tinha se oposto ao registro civil dos casamentos gays. A mudança no Vaticano só poderá acontecer a partir de dentro. E a Igreja deveria pedir desculpas ao mundo, como fez pelos padres pedófilos."

Prêmio Pulitzer graças ao seu best-seller The Hours, Michael Cunningham é um dos maiores romancistas norte-americanos vivos. Homossexual declarado, 62 anos, ele é de família cristã, e um dos seus livros favoritos são as orações de uma autora muito católica, Flannery O'Connor.

Cunningham está acompanhando com atenção o Sínodo no Vaticano, especialmente depois da "saída do armário" de Charamsa, que, em uma coletiva de imprensa, com o seu jovem companheiro ao lado, confessou a própria homossexualidade.

Eis a entrevista.

Para você, Charamsa não "prejudicou a todos", incluindo os homossexuais, como disse o próprio ex-aluno gay do papa, Grassi?

Não. Não há dúvida de que, desse modo, ele obteve muito mais visibilidade. Mas era necessário depois do encontro entre o Papa Francisco e Kim Davis. Disse-se que Bergoglio aprovou as ações da funcionária dos Estados Unidos. Não é verdade.

Mas, no voo de retorno para a Itália, poucas horas depois do encontro com Davis, Francisco declarou que a "objeção de consciência" é um direito humano. O que você acha?

Mas, de fato, esse não é um "direito humano" para um funcionário, que fique claro. A história, porém, nos ensinou que tais gestos de desobediência, como os contra a segregação racial nos Estados Unidos, podem ser justos, em retrospecto. É a isso que Francisco se referia. Posso ser um romântico, mas não consigo me irritar com esse papa, que, pela primeira vez, abriu o caminho para os direitos aos homossexuais, além de ter expressado posições extraordinárias pelo ambiente e contra a corrupção no Vaticano. Infelizmente, aos heróis e às grandes personalidades, todas as minúcias são jogadas na cara: esse é o seu destino.

Você realmente acredita que a Igreja pode reformar a sua posição sobre os direitos gays?

Vai levar muito tempo. Há uma evidente homofobia nos ambientes eclesiásticos. Mas a história demonstrou que a doutrina católica é sólida, mas não implacável. O exemplo de Charamsa deve ser um exemplo para os gays cristãos: eles devem permanecer dentro da Igreja, mudá-la de dentro. Só assim poderão demonstrar que a sua humanidade é a mesma dos heterossexuais.

Você é católico?

Não, a minha mãe era. Depois, ela se casou com o meu pai, e todos passamos para a Igreja Episcopal. Eu me defino não tanto como religioso, mas como "espiritual". E sem a religião vivida na minha infância, sem as suas crenças, o seu sobrenatural, a minha imaginação nunca seria a de hoje. E talvez eu não teria me tornado um escritor.