19 Janeiro 2016
Disse o Papa durante o encontro com os membros do Movimento de Trabalhadores Cristãos, MCL em italiano, a quem convidou a construir uma economia que “serve ao homem e não se sirva do homem”, e a um “novo humanismo do trabalho”. “É urgente que se eduque a recorrer ao caminho, brilhante e difícil, da honestidade, evitando os atalhos de favoritismos e das predileções”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 16-01-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch.
“Devemos formar um novo ‘humanismo do trabalho’, porque vivemos em um tempo em que se explora aos trabalhadores, e onde o trabalho não está a serviço da pessoa, existe trabalho escravo”. É necessário que “o homem, e não as ganâncias, seja o centro”. Disse o Papa Francisco aos membros do Movimento de Trabalhadores Cristãos (MCL em italiano), que foram recebidos em uma audiência no Salão Paulo VI do Vaticano. Muitos vieram a Roma, e milhares não puderam entrar no grande salão de audiências, de modo que se seguiu o encontro de fora e graças às grandes telas da Praça de São Pedro. Havia muitas famílias e crianças.
Em sua saudação ao Papa, o presidente da MCL, Carlo Costal, definiu a audiência como “uma maneira de recuperar o oxigênio” e recordou o compromisso do movimento “a serviço das pessoas que trabalham, e das pessoas negligenciadas pela sociedade, da pobreza real”. Costal garantiu a constante busca de “soluções reais” para aqueles sem trabalho e incluiu sua intervenção lembrando que ele, assim como o Papa, também faz aniversário em 17 de dezembro.
Francisco falou da “vocação para o trabalho”. O trabalho é uma vocação, “porque vem de um chamado que Deus ordenou desde o início ao homem, para que ‘cultivasse e resguardasse’ a casa comum”. Papa Bergoglio sugeriu ao MCL três palavras: a primeira é educar. “Temos de formar – disse – a um novo ‘humanismo do trabalho’, em que o homem, e não suas ganâncias, seja o centro; em que a economia sirva o homem e não se sirva do homem”. Educar, acrescentou, “ajuda a não ceder aos enganos daqueles que querem fazer acreditar que o trabalho, o compromisso diário, o doar de si próprio e o estudo não têm nenhum valor”.
“É urgente que se eduque a recorrer ao caminho, brilhante e difícil, da honestidade, evitando os atalhos de favoritismos e das predileções. Sempre existem essas tentações, pequenas ou grandes, mas se trata sempre de ‘compras morais’, indignas do homem: devem ser rejeitadas, acostumando o coração a permanecer livre. Do contrário, geram uma mentalidade falsa e nociva que deve ser combatida: a da ilegalidade, que leva à corrupção da pessoa e da sociedade. A ilegalidade é como um polvo gigante que não se vê: está escondida, submersa, mas com os seus tentáculos se agarra e envenena, contaminando e causando muito dano”. Devemos ajudar as gerações mais jovens “a descobrir a beleza do trabalho verdadeiramente humano”.
A segunda palavra é “compartilhar”. O trabalho “deveria unir as pessoas, não afastá-las, tornando-as fechadas e distantes. Ao ocupar tantas horas do dia, nos oferece também a oportunidade de compartilhar o cotidiano, para nos interessarmos por quem está ao nosso lado, para receber como um presente e como uma responsabilidade a presença dos demais”. Francisco citou os “projetos de Serviço Civil”, que “permitem aproximar as pessoas e novos contextos, tornando seus os seus problemas e as suas esperanças. É importante que os outros não sejam apenas destinatários de um pouco de atenção, mas verdadeiros projetos. Todos fazem projetos para si mesmos, mas projetar para os outros permite dar um passo à frente: coloca a inteligência a serviço do amor, fazendo com que a pessoa seja mais íntegra e que a vida seja mais feliz, porque tem a capacidade de doar”.
A última palavra é “testemunho”. O Papa citou as palavras de São Paulo: “Quem não quer trabalhar que tão pouco coma!”, e disse: “Mesmo naquela época, havia aqueles que faziam os demais trabalhar para comer do que era deles”. Falando sobre os desempregados como “novos excluídos do nosso tempo”, citou as estatísticas do desemprego juvenil: “O que faz um jovem que não trabalha?”, cai, “nas dependências, nas doenças psicológicas, nos suicídios, e nem sempre se publicam as estatísticas dos suicídios dos jovens. Este é o drama dos novos excluídos do nosso tempo, que são privados de sua dignidade”. “A justiça humana – disse Francisco – exige o acesso ao trabalho para todos. A misericórdia de Deus também nos chama: diante das pessoas em dificuldades e situações extenuantes (estou pensando nos jovens para quem se casar ou ter filhos é um problema, porque eles não têm um trabalho suficientemente estável ou uma casa) não basta fazer pregações; devemos levar esperança, conforto com a presença, apoiar com ajuda concreta”.
O Papa concluiu pedindo perdão por ter chegado com meia hora de atraso, por causa do tempo que duraram as audiências anteriores, e animou os membros do MCL a “dar testemunho a partir do estilo de vida pessoal e associativo; testemunho de gratidão, de solidariedade, do espírito de serviço”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco sobre o trabalho: a ilegalidade é um polvo gigante que agarra e envenena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU