Por: André | 28 Abril 2015
São três sírios e um tunisiano (foto) que chegaram a Montevidéu em dezembro e que exigem do governo norte-americano uma reparação. Tabaré Vázquez disse que o governo de Obama deve garantir aos ex-presos uma vida digna.
Fonte: http://bit.ly/1b7UDrG |
A reportagem é publicada por Página/12, 27-04-2015. A tradução é de André Langer.
Quatro dos seis ex-prisioneiros de Guantánamo, que chegaram ao Uruguai na qualidade de refugiados em dezembro de 2014, exigem do governo dos Estados Unidos uma compensação econômica pelos 13 anos de cativeiro que passaram na prisão que Washington manteve em solo cubano. Os sírios Ali Husein Shabaan (33 anos), Abd al Hadi Faraj (39) e Ahmed Adnan Ahjam (37) e o tunisiano Abdul Bin Mohammed Abis Ourgy (49) disseram estar dispostos a permanecer em frente à embaixada estadunidense em Montevidéu até que suas demandas sejam atendidas. “Dois, três, quatro meses, ficaremos aqui o tempo que for necessário”, disse Abis Ourgy, que indicou que se os protestos pacíficos não forem frutíferos, “faremos uma greve de fome, o que for necessário para que nos escutem”.
Os ex-presos publicaram no domingo um comunicado em inglês em sua página na internet https://exguantanamorefugeesinuruguay.wordpress.com/ para ratificar seu agradecimento ao governo uruguaio e precisar que sua demanda econômica é dirigida ao país do Norte, que consideram responsável pela atual situação que atravessam. “Decidimos protestar em frente à Embaixada dos Estados Unidos no Uruguai porque queremos que eles e o mundo inteiro ouçam as nossas vozes. Não é algo que pedimos, mas ao que lamentavelmente fomos forçados. Fizemos tudo o que esteve ao nosso alcance, falamos com vários representantes do governo, mas a nossa situação não mudou”, diz o texto.
Ao agradecer ao ex-presidente José Mujica e ao povo uruguaio pelo gesto de tê-los acolhido, os ex-réus esclareceram que os Estados Unidos não podem simplesmente “jogar seus erros sobre outros, eles (Washington) deveriam nos ajudar com moradia e apoio econômico”. “Não pedimos algo impossível, eles que nos mantiveram presos durante 13 anos e deveriam nos ajudar pelo futuro próximo. Acreditamos que é o mínimo que podem fazer e que nós podemos pedir”, acrescenta o comunicado. E afirmaram que querem permanecer no Uruguai e que estão dispostos a trabalhar como parte de sua adaptação ao país, mas alertam que isso demanda um processo que leva tempo.
“Eles (a embaixada norte-americana) não nos disseram nada diretamente, mas tomamos conhecimento por meio de amigos e vizinhos que foi divulgado um comunicado em espanhol dizendo que deveríamos entrar em contato pelas vias oficiais nos dias de funcionamento da embaixada”, contou Ali Shabaan. “Não acredito que tenham o direito de dizer isso, porque não se trata somente de ontem ou de hoje; tentamos comunicar-nos com a embaixada desde que chegamos ao Uruguai, inclusive tentamos um contato com a embaixada através de um advogado e eles prometeram que as nossas condições melhorariam, mas já se passaram quatro meses e nada mudou”, acrescentou o refugiado sírio. Os outros ex-réus que se encontram em Montevidéu, o sírio Jihad Diyab, de 43 anos, e o palestino Mohammed Tahamatan, de 35 anos, não se juntaram ao protesto.
Os quatro ex-prisioneiros estão acampados em frente ao edifício da sede diplomática em Montevidéu desde sexta-feira à noite. Durante as duas noites que passaram ali, dormiram no jardim externo que cerca a embaixada e foram assistidos com cobertores e alimentos pelos vizinhos da moradia que o sindicato nacional de trabalhadores uruguaios PIT-CNT ofereceu para alojá-los em Montevidéu. Os refugiados comentaram que passaram frio, mas que enfrentaram situações muito piores no passado, razão pela estão dispostos a permanecer no local até que o governo norte-americano lhes dê uma resposta.
Os quatro homens decidiram manifestar-se depois que a embaixada se pronunciou através de um comunicado no qual assinalou que todo pedido de audiência deve ser tramitado durante o horário de funcionamento da representação diplomática, e após receber a notícia de que o governo não pagaria mais o hotel que em que estavam hospedados.
“O gerente ofereceu-lhes alojamento sem custo para que ficassem o tempo necessário, mas eles decidiram sair porque queriam uma solução definitiva, o que é compreensível”, contou uma funcionária do hotel que preferiu não revelar sua identidade. “Gostaríamos de esclarecer que nesses quatro meses em que estiveram aqui eles foram sempre muito corretos e partiram com boa relação conosco”, acrescentou a mulher.
No começo do mês, o presidente uruguaio Tabaré Vázquez declarou à imprensa que embora o seu país tenha dado asilo a estes homens, os Estados Unidos tinham que proporcionar todos os meios para que a vida desses cidadãos fosse digna. “Temos a informação de que a Acnur (Agência das Nações Unidas para os Refugiados) conta com os recursos necessários para atender os requerimentos destes ex-presos e que em breve cada um deles terá sua moradia”, manifestou o presidente uruguaio em 10 de abril na VII Cúpula das Américas, que aconteceu no Panamá, e após encontrar-se com seu par Barack Obama.
O ex-presidente Mujica, que estimulou a acolhida dos ex-réus como refugiados durante o seu mandato, disse recentemente que eles talvez necessitem de maior ajuda econômica que aquela que lhes é oferecida pelo Uruguai. Nesse sentido, Mujica considerou que Washington tem que criar uma forma de ajudá-los economicamente, já que, na sua opinião, é o responsável pela sua situação.
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Ex-presos de Guantánamo pedem ajuda econômica aos Estados Unidos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU