24 Março 2015
A homilia proferida na manhã dessa segunda-feira pelo Papa Francisco na Capela de Santa Marta, onde o pontífice reside desde o início do seu magistério, poderia parecer uma adequada extensão do discurso feito em Scampia, Nápoles, no sábado de manhã.
A reportagem é de Alessandro Notarnicola, publicada no sítio Il Sismografo, 23-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
De fato, depois que boa parte das publicações italianas, na manhã dessa segunda-feira, colocaram na primeira página o grito lançado pelo Santo Padre no bairro periférico de Nápoles, "a corrupção fede", Francisco centrou a sua homilia matinal justamente no contraste vigente entre o verdadeiro rosto da Igreja, que é santa, pecadora e necessitada, e a existência da rígida corrupção que faz parte daqueles homens que vivem uma vida dupla e que condenam sem ser misericordiosos.
Partindo das leituras do dia propostas pela liturgia (tiradas do livro de Daniel (13 1-9.15-17.19-30.33-62) e do Evangelho de João (8, 1-11), o Santo Padre focou as meditações no relato de três mulheres e de outros três juízes: uma mulher inocente, Susana, uma pecadora, a adúltera, e uma pobre viúva necessitada: "Todas as três", disse o pontífice, "segundo alguns padres da Igreja, são figuras alegóricas da Igreja: a Igreja santa, a Igreja pecadora e a Igreja necessitada".
"Os três juízes são maus" e "corruptos", observou, referindo-se ao julgamento dos escribas e dos fariseus, que levaram a adúltera a Jesus. "Eles tinham dentro do coração a corrupção da rigidez", explicou, "sentiam-se puros porque observavam 'a letra da lei'. Mas estes não eram santos, eram corruptos, porque uma rigidez desse tipo só pode seguir em frente em uma vida dupla, e estes que condenavam essas mulheres, depois, iam buscá-las por trás, às escondidas, para se divertirem um pouco. Os rígidos são – uso o adjetivo que Jesus lhes dava – hipócritas: têm vida dupla. Aqueles que julgam, pensamos na Igreja – todas as três mulheres são figuras alegóricas da Igreja –, aqueles que julgam com rigidez a Igreja têm vida dupla. Com a rigidez, não se pode nem respirar."
Referindo-se aos hipócritas e, portanto, também aos negociantes e aos viciosos, Francisco comentou que eles não conheciam a mais bela palavra que lemos hoje nos Evangelhos, misericórdia, e que ainda hoje – como naquela época – há "juízes" que condenam com sentenças severas, sem ser misericordiosos e honestos: "Onde não há misericórdia, não há justiça".
E assim, "quando o povo de Deus se aproxima voluntariamente para pedir perdão, para ser julgado, quantas vezes, quantas vezes, encontra alguns destes".
Um cristão não tem vias de comprometimento: se não se deixar tocar pela misericórdia de Deus e, por sua vez, ama o próximo, acaba sendo um hipócrita que arruína e dispersa, em vez de fazer o bem: essa é uma mensagem reiterada em várias ocasiões pelo pontífice argentino, que considera que a hipocrisia é um grave crime que não deixa espaço – justamente – à santidade da Igreja e da própria fé, que une cada pessoa a Deus.
Também na manhã dessa segunda-feira, o papa voltou a dizer que a hipocrisia é a linguagem própria da corrupção e que os cristãos não devem se inclinar à hipocrisia. Ao contrário, devem ser porta-vozes da "verdade do Evangelho, com a mesma transparência das crianças".
Isso, no entanto, Francisco disse pela primeira vez no dia 4 de junho de 2013, celebrando a missa em Santa Marta com a participação da cúpula da rede italiana Rai.
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''Aqueles que julgam com rigidez...'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU