Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações, músicas e versos de diferentes espiritualidades e religiões, mergulhamos no Mistério que são a absoluta transcendência e a absoluta proximidade.
Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Vem
Vem e traz a taça, copeiro, derrama e circula esse vinho!
Porque o amor parecia fácil, mas logo veio o descaminho.
A brisa sopra em seu rosto, traz o almíscar dos seus cabelos:
Como sangram os corações, por esse momento tão ínfimo.
Tinge com vinho o teu tapete, se assim disser o velho mago.
Deve entender, o peregrino, as leis e estâncias do caminho.
Na estância do meu bem-amado, como posso encontrar alento?
Ora já bradam os cincerros: a caravana está partindo.
As trevas e as ondas ferozes, o vendaval e o turbilhão! Que sabe desse nosso estado, quem vê da terra o mar bravio?
Desejos guiaram meus feitos, e meu bom nome foi desfeito!
Como manter esse segredo, se nos saraus já é sabido?
Se ainda queres sua presença, ó Hafiz, não te escondas dele!
Quando lograres encontrá-lo, faz do mundo um desconhecido.
Fonte: OLIVEIRA, Nicolas Thiele Voss de. Paraíso e embriaguez: tradução comentada de gazéis de Hafiz de Xiraz. Dissertação de Mestrado no Programa de Estudos de Linguagem da PUC-Rio, 2020, p. 43.
Hafiz de Xiraz (Foto: Wikimedia Commons)
"Shams-ud-Din Muhammad Hāfez-e Širāzi (c. 1315-1390), Hafiz de Xiraz: poeta persa do século XIV que viveu na cidade de Xiraz, no sudoeste do atual Irã. Sua obra, que é absolutamente central no cânone literário persa, consiste principalmente em gazéis, uma forma lírica que possui como temática central o amor, a separação e o vinho. Em seus poemas, Hafiz desenvolve uma poética caracterizada pela ambiguidade e polissemia, misturando significados profanos e místicos de uma maneira inédita até então. É, infelizmente, pouco conhecido no Brasil, mas seus versos já foram elogiados por Manuel Bandeira em Gazal em louvor de Hafiz, poema que adota estrutura formal semelhante à do gazel." (Texto de Nicolas Voss).