Confissões de um andarilho. Leonardo Fróes na oração inter-religiosa desta semana

Foto: PxHere

05 Agosto 2022

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.

 

Confissões de um andarilho

 

No fim da noite, homens aflitos,

sorrindo para disfarçar, mas

cada qual com algum problema

pesando na consciência,

acercam-se de um andarilho que chega

de longe, nas primeiras horas do dia,

quando a cidade toda acesa

ainda custa a acordar,

e fazem confissões para ele

- inesperadas e até acabrunhantes

para qualquer um,

mas que em sua condição de andarilho

curtido ao sabor da estrada

em noites de lua e fome ou

perfeitas manhãs vazias,

ele ouve ali sem pressa alguma e, no fundo,

sem maior interesse, não julgando nem

se espantando com nada e, sim, deixando

sua orelha ao dispor, distribuindo

apenas

sua próprias migalhas de compreensão sobre a dor.

 

Fonte: Leonardo Fróes. Poesia reunida (1968-2021). São Paulo: Editora 34, 2021, p. 330.

 

Leonardo Fróes (Foto: Revista Caliban)

 

Leonardo Fróes (1941):  Poeta, tradutor, jornalista, naturalista e crítico literário brasileiro. Aos 18 anos já atuava como jornalista no Jornal do Brasil, com passagens pelo O Globo e pela Encyclopaedia Britannica. Já no Jornal da Tarde foi um dos pioneiros na produção de conteúdo direcionado ao tema da sustentabilidade.  Sua construção poética é marcada por uma conexão entre as energias do corpo e da terra. Traduziu diversos autores, entre eles, William Faulkner, Malcolm Lowry, D. H. Lawrence, Tagore, George EliotHelmut Sick

 

Em 1995 Fróes publicou o livro de poemas Argumentos invisíveis (Rocco) pelo qual foi agraciado com o prêmio Jabuti. Entre suas demais obras, destacamos: Um Mosaico Chamado a Paz do Fogo (1997), Quatorze Quadros Redondos (1998) e Chinês com Sono Seguido de Clones do Inglês (2005).

 

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