Quase sublime. Leonardo Fróes na oração inter-religiosa desta semana

Reprodução de parte da obra de Filippo Lippi, Mãe com a criança e dois anjos, ca. 1460-1465, Galleria degli Uffizi, Florence. | Wikimedia Commons

18 Junho 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora.

 

Quase sublime

 

Inocência e malícia
nos traços de um rosto
que nem tem gênero.

A confusão de sentimentos
que ele instala em mim ao sorrir-me.

Eu, velho jogral, jovem arauto
de Deus, que terei feito de bonito
para merecer contemplá-lo?

Claro como o rosto do Sol,
com batimentos lunares e textura de pétala,
sua atração se exerce agora
sem que eu me habitue a entendê-lo.

É o viço da juventude que o torna
na confusão desse desejo, sagrado.

Não ouso querer tocá-lo,
mesmo que esteja latejando em meu íntimo.
Nem ouso mais sonhá-lo ainda,
por temer que se esfume.

 

Fonte: Leonardo Fróes. Trilha. Rio de Janeiro: Azougue, 2015, p. 95

 

Leonardo Fróes (Foto: Revista Caliban)

Leonardo Fróes (1941):  Poeta, tradutor, jornalista, naturalista e crítico literário brasileiro. Aos 18 anos já atuava como jornalista no Jornal do Brasil, com passagens pelo O Globo e pela Encyclopaedia Britannica. Já no Jornal da Tarde foi um dos pioneiros na produção de conteúdo direcionado ao tema da sustentabilidade.  Sua construção poética é marcada por uma conexão entre as energias do corpo e da terra. Traduziu diversos autores, entre eles, William Faulkner, Malcolm Lowry, D. H. Lawrence, Tagore, George Eliot e Helmut Sick. 

Em 1995 Fróes publicou o livro de poemas Argumentos invisíveis (Rocco) pelo qual foi agraciado com o prêmio Jabuti. Entre suas demais obras, destacamos: Um Mosaico Chamado a Paz do Fogo (1997), Quatorze Quadros Redondos (1998) e Chinês com Sono Seguido de Clones do Inglês (2005).