Que o Deus venha. Clarice Lispector na oração inter-religiosa desta semana

Foto: Helio Carlos Mello | Jornalistas Livres

15 Julho 2022

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.

 

Que o Deus venha

 

O Deus tem que vir a mim

já que não tenho ido a Ele.

Que o Deus venha: por favor.

Mesmo que eu não mereça. Venha.

Ou talvez os que menos merecem

mais precisem.

Sou inquieta e áspera e desesperançada.

Embora amor dentro de mim eu tenha.

Só que não sei usar amor.

Às vezes me arranha como se fossem farpas.

Se tanto amor dentro de mim recebi

e no entanto continuo inquieta

é porque preciso que o Deus venha.

Venha antes que seja tarde demais.

Corro perigo como toda pessoa que vive.

E a única coisa que me espera

é exatamente o inesperado.

 

Fonte: Clarice Lispector. Água viva. Rio de Janeiro: Rocco, 2019, p. 63

 

Clarice Lispector (Foto: Acervo Instituto Moreira Sales - Wikimedia Commons)

 

Clarice Lispector (1920 - 1977): Escritora e jornalista ucraniana, naturalizada no Brasil. É vista como uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, de grande influência na literatura nacional e no modernismo. Escreveu diversos romances, contos e ensaios, Clarice publicou uma vasta obra literária, com mais de 20 livros. Além de livros infantis, como, O mistério do coelho pensante (1967) e A mulher que matou os peixes (1968), é autora de Perto do coração selvagem (1943); O lustre (1946); A cidade sitiada (1949); A maçã no escuro (1961), A paixão segundo G. H. (1964), Água viva (1973), Um sopro de vida (1978), entre outros. 

 

Leia mais