Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, colaborador do Instituto Humanitas Unisinos - IHU e do canal Paz Bem.
O observador observado
Quando eu me largo, porque achei
no animal que observo atentamente
um objeto mais interessante de estudo
do que eu e minhas mazelas ou
imoderadas alegrias;
e largando de lado, no processo,
todo e qualquer vestígio de quem sou,
lembranças, compromissos ou datas
ou dores que ainda ficam doendo;
quanto, hirto, parado, concentrado,
para não assustá-lo, com o animal me confundindo,
já sem saber a qual dos dois
pertence a consciência de mim –
- qualquer coisa maior se estabelece
nesta ausência de distinção entre nós:
a glória, a beleza, o alívio,
coesão impessoal da matéria, a eternidade.
Fonte: Leonardo Fróes. Poesia reunida (1968-2021). São Paulo: Editora 34, 2021, p. 331.
Leonardo Fróes (Foto: Revista Caliban)
Leonardo Fróes (1941): Poeta, tradutor, jornalista, naturalista e crítico literário brasileiro. Aos 18 anos já atuava como jornalista no Jornal do Brasil, com passagens pelo O Globo e pela Encyclopaedia Britannica. Já no Jornal da Tarde foi um dos pioneiros na produção de conteúdo direcionado ao tema da sustentabilidade. Sua construção poética é marcada por uma conexão entre as energias do corpo e da terra. Traduziu diversos autores, entre eles, William Faulkner, Malcolm Lowry, D. H. Lawrence, Tagore, George Eliot e Helmut Sick.
Em 1995 Fróes publicou o livro de poemas Argumentos invisíveis (Rocco) pelo qual foi agraciado com o prêmio Jabuti. Entre suas demais obras, destacamos: Um Mosaico Chamado a Paz do Fogo (1997), Quatorze Quadros Redondos (1998) e Chinês com Sono Seguido de Clones do Inglês (2005).