Marta acolhe, Maria colhe. Breve reflexão para cristãos ou não. Comentário de Chico Alencar

Foto: Wikimedia Commons

21 Julho 2025

"Marta, Maria e Jesus: um encontro singelo, despretensioso, mas carregado de afeto e lições do cotidiano", escreve Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, comentando a passagem dominical de Lucas 10, 38-42.

"Imagino a canção "Paciência", de Lenine, - comenta Chico Alencar - como trilha desse colóquio amoroso: "Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/ até quando o corpo pede um pouco mais de alma/ (...) a vida não para/a vida é tão rara...". O desafio para nós é equilibrar contemplação e ação, prática e meditação, reflexão e trabalho digno e bom. Silêncio e som".

Eis o comentário.

É um presente dominical lindo essa passagem de Lucas (10, 38-42), relatando a visita de Jesus a Marta e sua irmã Maria, a convite da primeira (por sinal, as mulheres têm grande protagonismo no Novo Testamento, mas até hoje a cultura patriarcal em muitas igrejas as relegam a um papel subalterno...).

Marta, Maria e Jesus: um encontro singelo, despretensioso, mas carregado de afeto e lições do cotidiano.

Marta é como tanto(a)s de nós: no afã de receber bem o Amigo, aflige-se com os afazeres, não para, fica estressada, ansiosa para que tudo corra bem.

Maria quer receber do Mestre o que ele tem de melhor: sua sabedoria, suas palavras de vida eterna. Leve, escolhe o que considera o essencial, a "melhor parte", a mais perene: ouvi-lo, refletir, vivenciar a arte do encontro.

"Marta, Marta, você se preocupa e se agita com tantas coisas... No entanto, poucas são necessárias, talvez uma só" - pondera Jesus (v. 41 e 42).

Imagino a canção "Paciência", de Lenine, como trilha desse colóquio amoroso: "Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/ até quando o corpo pede um pouco mais de alma/ (...) a vida não para/a vida é tão rara...".

O desafio para nós é equilibrar contemplação e ação, prática e meditação, reflexão e trabalho digno e bom. Silêncio e som.

O mundo veloz do "time is money" e da blogosfera escraviza, neurotiza e mediocriza. Enfrentá-lo não é refugiar-se numa "espiritualidade" desencarnada e autocentrada, alheia às dores dos semelhantes e às guerras genocidas. Nem ter uma religiosidade do ego, da "salvação" individual, distante dos clamores por justiça, direitos coletivos e por um mundo menos desigual e devastado.

Encontrar o equilíbrio entre tarefas diárias e oração nos faz crescer em fraternura e ter paz interior, imprescindível para lutar por Paz na Terra.

Atualizando o encontro no vilarejo de Betânia, vejo Jesus dizendo para Marta: "Obrigado, querida, mas desligue o celular, vamos conversar...".

PS: Hoje, 20/7, é o DIA DO AMIGO, no Brasil e em alguns outros países. Sugestão do médico argentino Enrique Febbraro feita há 59 anos, quando da chegada do homem à Lua ("com ciência, afeto e vontade, nada nos é impossível" - afirmou).

Amiga(o) é aquela(e) irmã(o) que a gente escolhe e gesta na vida. Sou grato a Deus por ter encontrado tant@s, que me ajudam a ser. Ainda que os que já "partiram fora do combinado" - e são cada vez mais - deixem um vazio de doída saudade...

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