A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus , que corresponde ao 29º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Então os fariseus se retiraram, e fizeram um plano para apanhar Jesús em alguma palavra. Mandaram os seus discípulos com alguns partidários de Herodes, para dizerem a Jesús: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e que ensinas de fato o caminho de Deus. Tu não dás preferências a ninguém, porque não levas em contas as aparências.
Dize-nos, então o que pensas: “É licito ou não é, pagar imposto a César?
Jesus percebendo a maldade deles, e disse: “Hipócritas! Por que vocês me tentam? Mostrem-me a moeda do imposto”. Levaram então a ele a moeda, E Jesus perguntou: ”De quem é a figura e a inscrição nesta moeda?” Eles responderam: “É de César.” Então Jesus disse: “Pois deem a Cesar o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Ouvindo isso, eles ficaram admirados. Deixaram Jesus, e foram embora.
No Evangelho deste domingo, aparecem em cena dois grupos que tentam desacreditar Jesus e suas atitudes. A questão que eles vão levantar é a obrigação, a legalidade de pagar o imposto ao César. Por motivos diferentes, os dois grupos pagavam esse imposto. Os fariseus, para não ter problemas com os romanos e, assim, realizar suas práticas religiosas. Pagar o imposto era uma forma de submissão a César e, por esse motivo, até mesmo entre os próprios fariseus havia atitudes diferentes, pois isso poderia ser considerado uma atitude de idolatria; César era considerado um deus. Os herodianos mantinham boas relações com Roma e consideravam necessário o pagamento desse tributo.
Mas, nesse ponto, fariseus e herodianos unem forças com o objetivo de preparar uma armadilha para Jesus. Uma resposta afirmativa poderia ser vista como uma contradição às suas palavras em defesa dos mais humildes, em sua ação em favor da liberdade de toda escravidão interna e externa. Uma resposta negativa criaria problemas com as autoridades romanas.
Esses líderes religiosos abordam Jesus com uma intenção clara: tentar desacreditar suas palavras, mostrar suas contradições, virar as pessoas simples e pobres contra ele, criar conflito com os romanos. Para atingir esse objetivo, eles não hesitam em destacar algumas das características de Jesus relacionadas à sua capacidade pedagógica. Em primeiro lugar, eles dizem que ele é verdadeiro, ou seja, alguém que é transparente, autêntico e sincero. Em segundo lugar, destacam que ele é um mestre que "ensinas de fato o caminho de Deus".
O ensino de Jesus é simples e pode ser entendido por todos que o ouvem. Suas palavras são fundamentadas em seu modo de vida, ele é direto e autêntico. Os líderes religiosos com quem Jesus dialoga agem de maneira oposta. Suas interpretações das leis religiosas complicavam a possibilidade de viver a fé de tal forma que ela permanecia nas mãos de um pequeno grupo: fariseus, sacerdotes, anciãos do templo e, assim, discriminavam o povo em geral.
"O senhor não olha para a condição do povo porque é imparcial". Eles enfatizam essa abertura que Jesus tem para com todos, ele não discrimina ninguém de acordo com sua condição porque todos são amados por Deus, Pai e Mãe. É impressionante que esse grupo que se volta para Jesus reconheça sua lealdade, sua sinceridade, a atitude que ele tem em relação aos outros, sua franqueza e a liberdade com que ele age sem discriminar ninguém. Eles veem isso e, nesse momento, usam esse fato para bajulá-lo e tentar desacreditá-lo. Em outras ocasiões, foram essas mesmas atitudes de Jesus que suscitaram críticas, insultos e discriminação por curar no sábado, por estar com os mais pobres e marginalizados - independentemente de sua condição -, por "não respeitar a lei" e escolher curar no sábado.
Jesus, adivinhando a má intenção deles, dirige-se a eles, chamando-os de hipócritas e dizendo: "hipócritas, por que me tentais?" Jesus não se deixa enganar pelas palavras lisonjeiras com as quais eles tentam envolvê-lo. Ele conhece as dificuldades de seu povo, que é submetido a um regime de escravidão. Ele conhece as dificuldades de seu povo sujeito ao pagamento de impostos, taxas, pedágios, que os judeus tinham de pagar e também o tributo a César, que, como dissemos antes, era uma forma de reconhecer sua superioridade, quase como um deus. É por isso que, mesmo neste momento, Jesus falará francamente, como os discípulos dos fariseus e dos herodianos costumavam lhe dizer. Ele conhece o problema que toda essa situação causa e as consequências que ela gera.
É por isso que ele pede a moeda do tributo. E responde com uma nova pergunta: "De quem é esta imagem e inscrição? A resposta é clara: "De César". E Jesus encerra o diálogo com uma frase clara e contundente: "Portanto, dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Reconhecer o curso legal da moeda é entrar no sistema econômico deles e, então, eles devem aceitar suas consequências. Jesus aceita, assim como seus contemporâneos, que o domínio de um rei é aquele em que sua moeda tem valor. Se o denário é aceito na terra de Judá, isso significa que nesse território César governa.
Essa resposta de Jesus foi às vezes mal interpretada. Ela foi usada para justificar a separação de dois mundos: um profano e outro religioso. Como se esse reino divino fosse o espaço onde Deus está e pertence a Ele e não tivesse nada a ver com o profano, que seriam as coisas da terra. A moeda tem a imagem de César e pertence a ele como tributo, mas todo ser humano é a imagem de Deus e nos convida a crescer em configuração com ele e, assim, nos tornarmos mais semelhantes a ele.
O texto deste domingo nos convida a refletir sobre "as coisas de Deus". O que significa "dar a Deus o que é de Deus"? O que é de Deus e nos convida a dar a ele? Talvez seja o convite para deixar que sua palavra ressoe profundamente dentro de nós e mude nossas vidas.
Pedimos ao Senhor que nos permitamos ser transformados interiormente pelo Espírito Santo para que Cristo possa habitar plenamente em nosso coração e refletir sua presença em nossas ações e em nosso modo de vida.