12º Domingo do Tempo Comum - Ano C - Subsídio Exegético

Foto:everyonesapostolic.com

17 Junho 2022

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF:


Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

 

Leituras do dia

Primeira Leitura: Zc 12,10-11
Segunda Leitura: Gl 3,26-29
Salmo: 13, 1 62,2-6.8-9 (R. 2b)
Evangelho: Lc 9,18-24

 

O Evangelho

 

No Evangelho segundo Lucas, o autor diz o que pretende apresentar: “uma narrativa organizada” (Lc 1,1a). Por causa disso, mesmo nos trechos já narrados nos outros “sinóticos”, o faz de forma mais compreensível para as pessoas de matriz não-judaica. O Evangelho deste Domingo tem paralelos em Mc 8,27-31 e Mt 16,13-21. Isto não significa que Lucas leu e propositalmente modificou a narrativa, mas pode ter acessado boa parte deste material de forma indireta, a partir do uso nas comunidades, em especial a de Antioquia (cf. At 11,26).

 

O momento da pergunta: “Quem as multidões dizem que eu sou?”

 

Enquanto Mc e Mt colocam esta pergunta no caminho, Lc o faz na “oração” – “enquanto Jesus estava aparte/em particular, orando”. A pergunta emerge de um diálogo “intra-trinitário”. Algumas traduções dizem que Jesus orava “sozinho”, mas o próprio texto diz que, bem próximos dele, estavam os discípulos, o que o torna um momento “intra-comunitário”. Jesus vive sua relação pessoal com Deus no meio da comunidade do discipulado. É deste contexto que emerge a pergunta.

 

A dialética das perguntas: “Quem as multidões/vocês dizem que eu sou?” (v.18b e 20b)

 

A palavra grega para “multidão” é óxloi (multidões, massa de gente) se refere ao que hoje chamaríamos de “população de massa”, e o que as “massas” pensam ou dizem é frequentemente aquilo que se entende como “senso-comum”, isto é, “possíveis verdades” aceitas pelo conjunto da população. A pergunta a “vocês” (umeis), isto é, à comunidade do discipulado, mostra a diferença substancial entre o “senso-comum” e “senso-comunitário”. Não pergunta sobre o que “pensam”, mas, o que “comunicam” ou “dizem” para outras pessoas.

 

Quem que eu sou?

 

O “que” indica uma função social e não apenas identidade pessoal. No entanto, as respostas do “senso-comum” não conseguem distinguir entre uma coisa da outra. João Batista ou Elias (Mateus mencionará Jeremias), confundem a identidade pessoal com a função social. O senso-comum fala de algum profeta “ressuscitado”(para evitar a ideia de “reencarnação”; cf. Lc 9,19b; Mc 8,28b e Mt 16,14b). O “senso-comum” aponta para o passado. Pedro, então, representa o grupo que, sinodalmente ou comunitariamente, afirma, na versão de Lucas: “O Cristo de Deus” (Tón Xriston tou Teou). Lucas apresenta uma comunicação direta, clara, do “princípio messiânico”, mais completa que a de Marcos que não menciona Deus (“Tu és o Cristo”) e mais simples que a de Mateus (“Tu és o Cristo o Filho de Deus Vivo”). Lucas, comunica o sentido sócio-político-teológico de Jesus numa fórmula com duas partes: “Cristo” (aquele ungido por Deus para levar adiante o projeto de libertação, vide Lc 4,18-19) e de “Deus” (a presença transcendental que une tudo em todos).

 

A advertência: quando e como comunicar?

 

Lucas segue a mesma linha de completar Marcos e simplificar Mateus. Marcos, e coloca a advertência, indo além do “que não dissessem isso a ninguém” (Mc 8,30), e não entrando nos meandros de Mateus que estabelece a liderança de Pedro sobre a “Igreja” (Mt 16,18-19). A preocupação de Lucas é dar a base material para afirmar que Jesus é o Cristo de Deus. Esta base é a Cruz e Ressurreição. A Cruz, em toda sua crueldade repressora, assassina, violenta, como instrumento de pessoas que agem em nome do mesmo Deus (anciãos, sacerdotes, escribas) e Ressurreição como vitória sobre tudo isso. É sobre esta base que o senso-comum pode virar senso-comunitário, ou senso-sinodal. Sobre esta base não se volta ao passado, mas é possibilitada a construção de um novo presente e de um futuro para as pessoas antes excluídas (cf. Lc 9,22b).

 

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