16 Abril 2021
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Lucas 24,35-48, que corresponde ao 3° Domingo de Páscoa, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Há muitas maneiras de colocar obstáculos à verdadeira fé. Há a atitude do «fanático», que se agarra a um conjunto de crenças sem nunca se deixar interrogar por Deus e sem jamais ouvir ninguém que possa questionar a sua posição. A sua é uma fé fechada, onde falta acolhimento e escuta do Mistério e onde sobra arrogância. Esta fé não liberta da rigidez mental nem ajuda a crescer, pois não se alimenta do verdadeiro Deus.
Há também a posição do «cético», que não procura nem se interroga, pois já não espera nada de Deus, nem da vida, nem de si mesmo. A sua é uma fé triste e apagada. Falta nela o dinamismo da confiança. Não vale a pena. Tudo se resume a continuar a viver, sem mais.
Há também a posição do «indiferente», que já não se interessa nem pelo sentido da vida nem pelo mistério da morte. Sua vida é pragmatismo. Só lhe interessa o que lhe pode proporcionar segurança, dinheiro ou bem-estar. Deus diz-lhe cada vez menos. Na verdade, para que pode servir acreditar nele?
Há também quem se sinta «proprietário da fé», como se esta consistisse num «capital» recebido no batismo e que está aí, não se sabe muito bem onde, sem ter que se preocupar muito. Esta fé não é fonte de vida, mas «herança» ou «costume» recebida de outros. Podia livrar-se dela sem sentir sua falta.
Há também a «fé infantil» daqueles que não acreditam em Deus, mas sim naqueles que falam dele. Nunca tiveram a experiência de dialogar sinceramente com Deus, de procurar seu rosto, ou de se abandonar no seu mistério. Basta-lhes acreditar na hierarquia ou confiar «nos que sabem dessas coisas». Sua fé não é experiência pessoal. Falam de Deus «de ouvir dizer».
Em todas estas atitudes falta o mais essencial da fé cristã: o encontro pessoal com Cristo. A experiência de caminhar pela vida acompanhados por alguém vivo com quem podemos contar e em quem podemos confiar. Só Ele nos pode fazer viver, amar e esperar apesar dos nossos erros, fracassos e pecados.
Segundo o relato do evangelho, os discípulos de Emaús contavam «o que lhes tinha acontecido no caminho». Caminhavam tristes e desesperançados, mas algo novo se despertou neles ao encontrarem-se com um Cristo próximo e cheio de vida. A verdadeira fé sempre nasce do encontro pessoal com Jesus como «companheiro de caminho».
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Companheiro de caminho - Instituto Humanitas Unisinos - IHU