Domingo da Sagrada Família - Ano B - Subsídio exegético

Foto: Thai Hamelin | Unsplash

28 Dezembro 2023

"O trecho que lemos nesta liturgia é composto por quatro cenas: na primeira (vv. 22-24), José e Maria levam o menino ao Templo de Jerusalém; depois (vv. 25-35), o velho Simeão toma o menino nos braços e bendiz a Deus; em seguida (vv. 36-38), chega a profetisa Ana torna-se anunciadora da boa nova; por fim (vv. 39-40), um sumário conclusivo fala da volta para Nazaré e do crescimento do menino. Vejamos cada cena individualmente."

A reflexão é do grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF: Dr. Bruno Glaab – Me. Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló – Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno

Leituras do dia

Primeira Leitura: Eclo 3,3-7.14-17a
Salmo: 127,1-5
Segunda Leitura: Cl 3, 12-21
Evangelho: Lc 2,22-40

O Evangelho

O evangelho deste domingo é Lucas 2,22-40. Estes versículos compõem o chamado “Evangelho da Infância” (Lc1,5–2,52), que é um grande prólogo cristológico, isto é, uma grande profissão de fé no messianismo de Jesus. As narrativas da infância que iniciam o evangelho de Lucas têm um colorido muito especial. O autor apresenta três casais justos e obedientes à Lei. Em primeiro lugar, Zacarias e Isabel (1,5-25); depois, José e Maria (1,26-27 e 2,1-24); por fim, Simeão e Ana (2,25-38).

O trecho que lemos nesta liturgia é composto por quatro cenas: na primeira (vv. 22-24), José e Maria levam o menino ao Templo de Jerusalém; depois (vv. 25-35), o velho Simeão toma o menino nos braços e bendiz a Deus; em seguida (vv. 36-38), chega a profetisa Ana torna-se anunciadora da boa nova; por fim (vv. 39-40), um sumário conclusivo fala da volta para Nazaré e do crescimento do menino. Vejamos cada cena individualmente.

A primeira cena (vv. 22-24) deve ser compreendida à luz da legislação do Antigo Testamento. Mais especificamente ao que está determinado em Ex 13,2. O primogênito é como que as primícias de uma mulher e a consagração é um modo de agradecer a Deus pelo dom da fertilidade e da maternidade. Ao cumprir esta lei, José e Maria demonstram que reconhecem a presença de Deus em todos os acontecimentos de sua família.

A segunda cena (vv. 25-35) apresenta o testemunho de Simeão, um ancião fiel e que esperava a consolação de Israel. Esta afirmação liga Simeão à promessa feita no início da segunda parte do livro do profeta Isaías. O assim chamado “Segundo Isaías” foi um profeta anônimo que atuou cerca de 550 anos antes do nascimento de Jesus, na cidade da Babilônia, durante o período conhecido como “exílio” e durante o qual a fé e a esperança do povo judeu foram colocadas à prova. Simeão, portanto, simboliza as famílias de todo o povo de Israel que, nos tempos de Jesus, sofrem sob a dominação romana. Novamente, as famílias enfrentam um momento duro em sua história. Mas as palavras de Simeão professam a certeza de que Deus cumprirá as promessas: Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus; (Is 40,1). Neste trecho do evangelho, Simeão proclama que esta consolação está se realizando bem na sua frente, na pessoa do menino Jesus (vv. 29-32).

A terceira cena (vv. 36-38) fala da profetisa Ana. O Novo Testamento fala de vários profetas e profetisas, mas esta é a única profetisa da qual sabemos o nome. Não é à toa. O nome “Ana” significa “graça”, tanto no sentido de “beleza”, como no sentido de “favor”. Ou seja, Ana é uma mulher graciosa e agraciada. O texto também diz que ela é filha de Fanuel, nome que significa “face de Deus”. E mais: ela é da tribo de Aser, palavra que em hebraico significa “felicidade, feliz, bem-aventurado”. Logo se vê que é uma pessoa que simboliza tudo o que se pode desejar de Deus. Por isso, ela é a agraciada que proclama com alegria a chegada da redenção para as famílias que mantêm sua esperança e fidelidade a Deus.

Por fim, a última cena (vv. 39-40) nos fazem ver o dia a dia da família de Jesus, Maria e José. Não só de grandes emoções vive a família que chamamos de “sagrada”. Ao contrário, é uma família bem normal e que enfrenta os desafios e as situações banais do cotidiano: trabalhar, cuidar da casa, educar filhos.

Todos os três casais – Zacarias e Isabel, José e Maria, Simeão e Ana – devem ser vistos não como personalidades diferentes do que somos; mas, ao contrário, como pessoas normais e muito semelhantes a nós. Eles têm dúvidas, incertezas e medos. Eles passam por situações difíceis que exigem paciência e coragem. A vida deles não se resume a atos religiosos extraordinários, mas o evangelho os apresenta como pessoas que souberam enxergar a manifestação de Deus no que é habitual, rotineiro e até doloroso.

 

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