20 Dezembro 2019
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno
Evangelho: Mt 2,13-15.19-23
Primeira Leitura: Sir (Eclo) 3,3-7.14-17a
Segunda Leitura: Cl 3,12-21
Salmo: 128,1-2.3.4-5
1 – Mt 2,13-15.19-23 - Situando o texto
O texto está teologicamente construído sobre o pano de fundo do Antigo Testamento. Um novo Êxodo inicia. Em Jesus as Escrituras se realizam (vv.15.17.23): a perseguição e a fuga para o Egito lembram o nascimento de Moisés (Ex 2,1ss). A matança dos meninos lembra Ex 1,15ss. Como nesta ocasião, diante da morte dos recém-nascidos, Moisés conseguiu ser salvo, também Jesus não é trucidado por Herodes. A fuga para o Egito também tem por base a fuga de Moisés diante da ameaça de faraó (Ex 2,14-15) e sua volta, depois da morte do mesmo (Ex 4,19ss). A volta do Egito lembra também Os 11,1 (Jesus é filho de Deus e ao mesmo tempo, personificação do povo de Deus). Há controvérsias sobre o v. 23, o nazireu/nazoreu. Para alguns biblistas, seria uma referência ao juiz Sansão, que em Jz 13,5-7 é chamado de nazireu, que significa separado, ou consagrado (cf. Nm 6,2), ou ainda no rebento de Is 11,1 (nazir). Pode, também ter algo a ver com a residência, agora, em Nazaré, daí nazireu, talvez corruptela de nazareno.
A morte de Herodes, pelos conhecimentos atuais, é fixada para o ano 4 a.C. Isto aponta para o fato de Jesus supostamente ter nascido uns 6 ou 7 anos antes da data hoje celebrada. A figura de José liga o menino com a dinastia de Davi para se realizar a promessa de Deus à descendência deste rei (2Sm 7,11ss).
Jesus, Maria e José, como outrora a família de Jacó migrou para o Egito (Gn 46,1ss), também migram para esta terra. Ao retornar para Israel, a sagrada família lembra o retorno dos israelitas à Terra Prometida, depois da estadia no Egito (Js 2,1ss). Assim, o início da vida de Jesus é ilustrado com as cores do início do povo de Israel.
O que no antigo povo foi pré-anunciado, vai se realizar plenamente na pessoa de Jesus.
Jesus é visto como o novo Moisés que trará a nova lei e formará o novo povo de Deus (Mt 5-7). É também o descendente de Davi, o primeiro grande rei que unificou Israel. Assim Jesus é o novo Israel que refaz a história do antigo povo de Deus e a leva à plenitude. Jesus é a total novidade, mas plantada sobre a história do povo de Israel.
Levando em conta todos estes dados, deve-se afirmar: muito mais do que uma crônica histórica do nascimento de Jesus, que nos tempos de Mateus certamente não era conhecida, está aqui um tratado teológico, ou cristológico da novidade trazida por Jesus, desde sua origem. Como, outrora, o povo de Israel, perseguido, oprimido, com Deus faz o caminho de libertação, agora Jesus que irá formar o novo povo de Deus, passará por situações iguais, e no germe desta nova realidade tem o caminho da libertação, da escravidão, do pecado e da morte. Pode-se então afirmar, o que se experimentou na história do povo de Israel de forma incipiente, desde a origem, vai se realizar com plenitude na pessoa de Jesus e do novo povo que ele formará: a Nova e Eterna Aliança. Ou seja, velho povo dará lugar ao novo povo (Mt 21,41-43). Segundo a cristologia de Mateus, este menino é o messias, pois nele se realizam plenamente as profecias do AT.
2 – Relacionando com Sir 3,3-7.14,17
Deus, ao se encarnar na história humana, realizando os desígnios já antevistos no AT, quis precisar de um homem e uma mulher. Em outras palavras, tudo isto se realizou numa família. Nos planos de Deus, para as novas gerações, que devem, hoje e no futuro realizar o reino instaurado por Jesus, a família tem um papel fundamental. Como no passado, Deus quis contar com a participação de homens e mulheres para realizar seus desígnios eternos, agora, na pessoa de Jesus, novamente um homem e uma mulher são escolhidos para levar a efeito o que Deus quer realizar em Jesus. A sagrada família, é por excelência, o lugar da realização do início da nova história do povo de Deus. Por isto mesmo, na liturgia da Igreja, José e Maria, com Jesus, têm um papel de destaque. Se, por um lado, toda esta novidade se realiza na pessoa de Jesus, por outro lado, José e Maria, formam com ele a família onde Jesus pode realizar os desígnios do Pai.
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