04 Setembro 2020
«Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão. Se ele não lhe der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas. Caso ele não dê ouvidos, comunique à Igreja. Se nem mesmo à Igreja ele der ouvidos, seja tratado como se fosse um pagão ou um cobrador de impostos.
Eu lhes garanto: tudo o que vocês ligarem na terra, será ligado no céu, e tudo o que vocês desligarem na terra, será desligado no céu. E lhes digo ainda mais: se dois de vocês na terra estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está no céu. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles».
Leitura do Evangelho segundo Mateus 18,15-20 (Correspondente ao 23° Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste domingo continua-se com a leitura do evangelho de Mateus, e Jesus segue ensinando seus discípulos a viver o espírito do Reino. Lembremos que o evangelho de Mateus foi escrito para uma comunidade que sofria as perseguições e isso gerava divisões entre seus membros. Na comunidade havia problemas de convivência entre os diferentes grupos; muitos eram judeus convertidos e tentavam manter as práticas do judaísmo.
Mateus tenta dar luz sobre a pessoa de Jesus, como segui-lo, e nesse momento procura apresentar um novo estilo de vida, como viver em comunidade. No começo do capítulo 18 o evangelista apresenta quem é o mais importante e destaca a atenção pelos menores e a importância do perdão como eixo da vida cristã. Desenvolve-se assim um novo estilo de vida onde brilham os valores do Reino. A pessoa não é importante pelo serviço que deva realizar ou pela tarefa que lhe foi atribuída, senão que cada pessoa tem o seu valor e a sua originalidade e deve receber o mesmo respeito e amor que a pessoa fisicamente mais próxima.
Na narrativa deste domingo, um membro da comunidade é nomeado como o irmão ou a irmã. Jesus continua instruindo seus discípulos sobre as relações entre os integrantes da comunidade. Previamente lhes tinha falado sobre quem é o mais importante, destacando a importância do pequeno, do simples, da pessoa que “não é ninguém” para a sociedade da época.
Logo depois remarcou a necessidade da coerência entre o agir e o pensar e continuou ressaltando quem é o verdadeiro pastor, relatando a parábola da ovelha perdida. Jesus procura ensinar seus discípulos a ter um coração como seu Pai, que não exclui ninguém, senão pelo contrário, que procura sempre e continuamente novas oportunidades para andar pelo caminho verdadeiro. O bom pastor sai à procura dessa ovelha perdida e quando a encontra volta cheio de alegria ao seu rebanho.
Neste domingo o texto vai nos comunicar um ensino fundamental sobre a relação com nossos irmãos e irmãs. Se um irmão comete um erro, que devemos fazer? Corrigi-lo diante de toda a comunidade? Até onde temos de preocupar-nos com cada um dos membros da comunidade, das pessoas que estão ao nosso redor? Somos responsáveis por suas atitudes? Quando é preciso que entremos na vida das pessoas que nos rodeiam e tentemos mudar sua atitude, seu agir, sua conduta? Até onde devemos imiscuir-nos?
Os integrantes da comunidade são nomeados como irmãos e irmãs! Mas quais são as consequências destas palavras? Neste domingo somos convidados a aprofundar um pouco mais nestas expressões e assim acolher as implicações e as conotações que trazem no modo de agir e viver.
“Se o seu irmão pecar, vá e mostre o erro dele, mas em particular, só entre vocês dois. Se ele der ouvidos, você terá ganho o seu irmão.”
O cenário é claro: Jesus se dirige aos ouvintes considerando-os todos filhos e filhas do mesmo Pai. O vínculo que os une é a fraternidade profunda, esse é o laço que inter-relaciona cada uma e cada um deles. Um membro da comunidade, que é nosso irmão ou irmã, pode pecar e, ainda mais, vai pecar porque é parte da nossa humanidade.
O importante é a atitude diante do erro cometido: “vá e mostre o erro dele, mas em particular”. A tarefa do irmão da comunidade não é deixar passar, como se nada tivesse ocorrido ou criticá-lo pelas costas. Jesus convida-nos a ter um compromisso mais profundo: ir à procura da pessoa e dialogar com ela para que possa mudar sua conduta. Os membros da comunidade e especialmente os responsáveis não podem permanecer indiferentes diante das atitudes dos irmãos, senão pelo contrário, devem procurar a mudança da pessoa.
E se a pessoa rechaça a correção? E assim Jesus disse: “Se ele não lhe der ouvidos, tome com você mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas.”
Caso ela não queira ouvir correção, não pode ser abandonada no imediato, pelo contrário. Jesus sugere ir à procura de outras pessoas para tentar ajudar a pessoa a mudar sua atitude. Jesus continuamente enfatiza a possibilidade da conversão, da mudança, de ganhar a pessoa e não deixar que fique atrapalhada no seu próprio erro!
Neste texto somos convidados a procurar sempre a luz, a saída, e não permitir que a obscuridade do pecado, do erro, do descuido, da imperfeição, da falha ganhe a vida do nosso irmão/ã. Somos responsáveis pela vida dos nossos irmãos e irmãs. Ninguém pode salvar-se sozinho!
Como disse o Papa Francisco: “Somos todos irmãos e não devemos de forma alguma subjugar os outros. Irmãos e irmãs, um defeito frequente naqueles que têm a autoridade, tanto a autoridade civil como a eclesiástica, é o de exigir dos outros coisas, ainda que justas, que eles não praticam pessoalmente. Nós, discípulos de Jesus, não devemos buscar títulos de honra, de autoridade ou de supremacia. Digo-lhe que pessoalmente me dói ver pessoas que vivem psicologicamente correndo atrás da vaidade das honrarias. Nós, discípulos de Jesus, não devemos fazer isso, pois deve haver entre nós uma atitude simples e fraterna. Somos todos irmãos e não devemos de forma alguma subjugar os outros e olhá-los de cima para baixo. Não. Somos todos irmãos. Se recebemos qualidades do Pai celeste, devemos colocá-las a serviço de nossos irmãos, e não tirar proveito delas para nossa satisfação e interesse pessoal. Não devemos nos considerar superiores aos outros; a modéstia é essencial para uma existência que quer se conformar com o ensinamento de Jesus, que é manso e humilde de coração e veio não para ser servido, mas para servir”.
Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz;
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvidas, que eu leve a fé;
Onde houver erros, que eu leve a verdade;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei com que eu procure mais consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado;
Pois é dando que se recebe;
É perdoando, que se é perdoado;
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
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Uma comunidade de irmãos e irmãs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU