03 Julho 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Mateus capítulo 11,25-30 que corresponde ao 14° Domingo do ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Jesus não teve problemas com as pessoas simples dos povoados. Sabia que o entendiam. O que o preocupava era se algum dia, os líderes religiosos, os especialistas da lei, os grandes mestres de Israel, chegariam a compreender sua mensagem. Cada dia era mais evidente: o que ao povo simples enchia de alegria, a eles deixava-os indiferentes.
Os camponeses, que viviam defendendo-se da fome e dos grandes proprietários de terras, entendiam-no muito bem: Deus queria vê-los felizes, sem fome nem opressores. Os doentes confiavam nele e, encorajados pela sua fé, voltavam a acreditar no Deus da vida. As mulheres que se atreviam a sair de casa para escutá-lo intuíam que Deus tinha que amar como dizia Jesus: com as entranhas de uma mãe. As pessoas simples do povo sintonizavam com Ele. O Deus que lhes anunciava era aquele que desejavam e necessitavam.
A atitude dos «entendidos» era diferente. Caifás e os sacerdotes de Jerusalém viam-no como um perigo. Os mestres da lei não entendiam que se preocupasse tanto com o sofrimento das pessoas e se esquecesse das exigências da religião. Por isso, entre os seguidores mais próximos de Jesus, não houve sacerdotes, escribas ou mestres da lei.
Um dia, Jesus mostrou a todos o que sentia no seu coração. Cheio de alegria, orou assim a Deus: «Te dou graças, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas de sábios e entendidos e as revelaste às pessoas simples».
É sempre igual. O olhar das pessoas simples é geralmente mais límpido. Não há no seu coração tanto interesse distorcido. Vão ao essencial. Sabem o que é sofrer, sentir-se mal e viver sem segurança. São os primeiros a entender o evangelho.
Estas pessoas simples são o melhor que temos na Igreja. Deles têm de aprender bispos, teólogos, moralistas e entendidos em religião. A eles Deus mostra algo que a nós nos escapa. Nós eclesiásticos corremos o risco de racionalizar, teorizar e «complicar» demasiado a fé. Apenas duas perguntas: por que há tanta distância entre a nossa palavra e a vida das pessoas? Por que a nossa mensagem resulta quase sempre mais obscura e complicada do que a de Jesus?
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Aprender com os simples - Instituto Humanitas Unisinos - IHU