31 Janeiro 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 2,22-40, que corresponde à Festa da Apresentação do Senhor, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
O relato do nascimento de Jesus é desconcertante. Segundo Lucas, Jesus nasce numa terra onde não há lugar para acolhê-lo. Os pastores tiveram de procurá-lo por toda Belém até que o encontraram num lugar afastado, deitado numa manjedoura, sem outras testemunhas além de seus pais.
Aparentemente, Lucas sente necessidade de construir um segundo relato em que a criança é resgatada do anonimato para ser apresentada publicamente. Que lugar mais apropriado do que o Templo de Jerusalém para Jesus ser acolhido solenemente como o Messias enviado por Deus ao seu povo?
Mas, de novo, o relato de Lucas vai ser desconcertante. Quando os pais se aproximam do Templo com a criança, não saem ao seu encontro os sumos sacerdotes nem os outros líderes religiosos. Dentro de uns anos, eles serão aqueles que o entregarão para ser crucificado. Jesus não encontra acolhimento nessa religião segura de si mesma e esquecida do sofrimento dos pobres.
Tampouco vêm a recebê-lo os mestres da Lei que predicam as suas «tradições humanas» nos átrios daquele Templo. Anos mais tarde rejeitarão Jesus por curar os doentes violando a lei do sábado. Jesus não encontra acolhimento em doutrinas e tradições religiosas que não ajudam a viver uma vida mais digna e saudável.
Quem acolhe Jesus e o reconhece como Enviado de Deus são dois anciãos de fé simples e de coração aberto, que viveram as suas longas vidas esperando a salvação de Deus. Os seus nomes parecem sugerir que são personagens simbólicos. O ancião chama-se Simeão («o Senhor ouviu»), a anciã chama-se Ana («oferenda»). Eles representam tantas pessoas de fé simples que, em todos os povos de todos os tempos, vivem com a sua confiança colocada em Deus.
Os dois pertencem aos ambientes mais saudáveis de Israel. São conhecidos como o «Grupo dos Pobres do Senhor». São pessoas que não têm nada, apenas a sua fé em Deus. Não pensam na sua fortuna nem no seu bem-estar. Só esperam de Deus a «consolação» que o seu povo necessita, a «libertação» que seguem procurando geração após geração, a «luz» que ilumine as trevas em que vivem os povos da terra. Agora sentem que as suas esperanças se cumprem em Jesus.
Esta fé simples que espera de Deus a salvação definitiva é a fé da maioria. Uma fé pouco cultivada, que se concretiza quase sempre em orações lentas e distraídas, que se formula em expressões pouco ortodoxas, que se desperta sobretudo em momentos difíceis. Uma fé que Deus não tem nenhum problema em entender e acolher.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Fé simples - Instituto Humanitas Unisinos - IHU