17 Janeiro 2020
Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF: Dr. Bruno Glaab, Me. Carlos Rodrigo Dutra, Dr. Humberto Maiztegui e Me. Rita de Cácia Ló. Edição: Dr. Vanildo Luiz Zugno.
Evangelho: Jo 1,29-34
Primeira Leitura: Is 49,3.5-6
Segunda Leitura: 1Cor 1,1-3
Salmo: 39, 2.4.7-8a. 8b-9.10
O evangelho de João não narra a cena do batismo de Jesus. O evangelista parece supor que todos já conhecessem a história: ele se preocupa com a relação de João Batista com a sua missão, que é dar testemunho de Jesus ao povo.
João Batista já tinha dado um primeiro testemunho diante dos enviados pelas autoridades judaicas para saber se era ele o Messias (Jo 1,19-28). João Batista confessa que não é o Messias, mas alguém enviado para preparar o caminho do Messias. Mais do que humildade, João Batista demonstra fidelidade ao seu compromisso: ele não pode assumir uma autoridade que não lhe compete.
No texto de hoje, João continha o seu testemunho com duas novas revelações: Jesus é o Cordeiro de Deus e também o Filho de Deus. Por duas vezes, João Batista diz que não tinha maiores detalhes de sua tarefa, mas que a assumiu com fidelidade e disposição porque sabia que Deus lhe mostraria, em cada momento, o que deveria falar e fazer (vv. 31-33a).
Para falar de Jesus, João Batista usa uma frase enigmática: Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (v. 29). A expressão cordeiro de Deus não é fácil definir, porque, no Antigo Testamento, quem simbolicamente carregava o pecado da comunidade era um bode. Era um sacrifício expiatório: Deus não perdoava, mas castigava o bode no lugar da comunidade. Jesus não é um bode, é um cordeiro: ele carrega o pecado não simbolicamente, mas efetivamente, isto é, em Jesus, Deus perdoa.
Depois, João Batista fala como reconheceu Jesus: o Espírito, como pomba, identificou Jesus aos seus olhos (v. 32). A figura da pomba recorda os meios de comunicação de antigamente: pombo-correio. Ao usar esta figura, João Batista afirma que estava atento para captar a mensagem de Deus e sem preconceitos para acolhê-la.
A outra revelação feita por João é que Jesus é o Filho de Deus. João Batista não está dizendo que Jesus é a segunda pessoa da Santíssima Trindade. O que ele quer dizer é que Jesus tem a mesma autoridade e o mesmo poder de Deus e, por isso, o batismo que Jesus veio trazer é superior ao que ele, João, praticava.
Por duas vezes, João Batista diz que Jesus é superior a ele: primeiro, ele diz que Jesus passou à sua frente, isto é, tornou-se mais importante do que ele; depois, João diz que o batismo de Jesus, com água e com Espírito, é superior ao que ele praticava, só com água. João Batista sabe qual é a sua missão e qual é o seu lugar: tudo o que ele faz só tem sentido e razão de ser se for para que as pessoas acolham a salvação que Jesus traz.
Deste modo, o evangelho de hoje apresenta João Batista como alguém que cumpre em tudo a ordem recebida de Deus, mesmo quando não a compreende nem sabe o que Deus pretende com ela. O evangelista João faz de João Batista um modelo que a comunidade deve seguir: um mensageiro dedicado e servo fiel.
Também a primeira leitura fala de alguém, que por sua dedicação e fidelidade, se torna luz para as nações (Is 49,3.5-6). O profeta Isaías se dirige ao povo de Israel que foi deportado para a Babilônia. O que poderia ser visto só como um castigo, o profeta considera uma oportunidade para dar testemunho do amor e da fidelidade de Deus e, assim, anunciar a salvação até o extremo da terra. O povo de Israel tinha perdido uma guerra por causa de sua infidelidade. O profeta convida as pessoas a olhar além da crise e renovar a esperança: Deus se recordará de seu povo e o restaurará.
Tanto João Batista como o povo exilado na Babilônia são testemunhas de que a promessa de Deus se cumpre, por vezes de maneiras que não compreendemos. É exatamente por isso, que a ação de Deus sempre nos surpreende e desafia.
Este texto pode ser compartilhado e reproduzido com a devida indicação dos autores.
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Segundo domingo do tempo comum - Ano A - Subsídios exegéticos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU