29 Julho 2016
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 12,13-21 que corresponde ao 18° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
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O protagonista da pequena parábola do «rico insensato» é um proprietário de terras como aqueles que Jesus conheceu na Galileia. Homens poderosos que exploravam sem piedade os camponeses, pensando só em aumentar o seu bem-estar. As pessoas temiam-lhes e invejavam-lhes: sem dúvida eram os mais afortunados. Para Jesus, são os mais insensatos.
Surpreendido por uma colheita que ultrapassa as suas expectativas, o rico proprietário vê-se obrigado a refletir: “O que vou fazer?”. Fala com ele mesmo. No seu horizonte não aparece ninguém mais. Não parece ter esposa, filhos, amigos nem vizinhos. Não pensa nos camponeses que trabalham as suas terras. Só o preocupa o seu própio bem-estar e a sua riqueza: a minha colheita, os meus celeiros, os meus bens, a minha vida...
O rico não se dá conta de que vive encerrado em si mesmo, prisioneiro de uma lógica que o desumaniza esvaziando-o de toda a dignidade. Só vive para acumular, armazenar e aumentar o seu bem-estar material: “Vou construir celeiros maiores, e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens”. “Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma boa reserva para muitos anos; descansa, como e beba, alegre-se”.
De repente, de forma inesperada, Jesus faz Deus intervir. O seu grito interrompe os sonhos e ilusões do rico: «Louco!». «Neste mesma noite vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou para quem será?». Esta é a sentença de Deus: a vida deste rico é um fracasso e uma insensatez.
Aumenta os seus celeiros, mas não sabe engrandecer o horizonte da sua vida. Acrescenta a sua riqueza, mas despreza e empobrece a sua vida. Acumula bens, mas não conhece a amizade, o amor generoso, a alegria nem a solidariedade. Não sabe dar nem partilhar, só acumular. Que há de humano nesta vida?
A crise econômica que estamos sofrendo é uma «crise de ambição»: os países ricos, os grandes bancos, os poderosos da terra... Escolhemos viver acima das nossas possibilidades, sonhando com acumular bem-estar sem limite algum e esquecendo cada vez mais os que se afundam na pobreza e na fome. Mas, de repente, a nossa segurança veio abaixo.
Esta crise não é uma mais. É um «sinal dos tempos» que temos de ler à luz do evangelho. Não é difícil escutar a voz de Deus no fundo das nossas consciências: «Basta já de tanta insensatez e tanta falta de solidariedade cruel». Nunca superaremos as nossas crises econômicas sem lutar por uma mudança profunda do nosso estilo de vida: temos que viver de forma mais austera; temos de partilhar mais o nosso bem-estar.
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Desmascarar a insensatez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU