Um convite a Diogneto: pôr-se na acolhida do Advento

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20 Dezembro 2024

“A Carta a Diogneto, como a apresenta Dom Fernando A. Figueiredo, OFM, ‘é um convite a Diogneto’ – e a tantos que ainda não conhecem a fé cristã – 'para pôr-se na acolhida do Advento do ‘Hoje Divino’ e, assim, tornar-se Seu imitador’”.

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos. 

Como os cristãos cultuam a Deus?”, “Quem é esse Deus em quem depositam confiança?”, “Como se explica que todos os seus adoradores desdenham o próprio mundo e desprezam a morte?”, “Por que não consideram deuses aqueles que os gregos têm por tais?”, “Qual a razão de não observarem a superstição dos judeus?”, “Que significa a viva afeição que mutuamente se dedicam?”, “Por que esse novo gênero ou estilo de vida só começou a existir agora e não antes?”

A resposta a estas perguntas é a motivação da Carta a Diogneto, publicada, possivelmente, entre o fim do século II e início do século III, por um autor desconhecido, cuja finalidade era introduzir Diogneto, personagem descrente, na fé cristã.

A carta, como a apresenta Dom Fernando A. Figueiredo, OFM, na edição publicada pela Editora Vozes, “é um convite a Diogneto” – e a tantos que ainda não conhecem a fé cristã – “para pôr-se na acolhida do Advento do ‘Hoje Divino’ e, assim, tornar-se Seu imitador”.

Na segunda leitura deste domingo, a Igreja responde à segunda pergunta de Diogneto:  

“Irmãos: Ao entrar no mundo, Cristo afirma: ‘Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Por isso eu disse: ‘Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’. Depois de dizer: ’Tu não quiseste nem te agradaram vítimas, oferendas, holocaustos, sacrifícios pelo pecado’ – coisas oferecidas segundo a Lei – ele acrescenta: ‘Eu vim para fazer a tua vontade’. Com isso, suprime o primeiro sacrifício, para estabelecer o segundo. É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (Hb 10,5-10).

Nas palavras do autor da Carta a Diogneto, a vinda do Filho de Deus, que vamos celebrar neste Natal, é narrada assim: “Ele, que é desde o princípio, apareceu… como sendo novo… e sempre recém-nascido nos corações dos santos. Ele que é sempre e hoje é declarado Filho, por quem a Igreja se enriquece. Desdobra-se e multiplica-se nos santos a graça, a qual se apresenta à mente, manifesta os mistérios, anuncia os tempos, alegra-se a respeito dos fiéis, doa-se aos que o procuram e que não infringem os limites da fé, nem transgridem os marcos estabelecidos pelos pais”.  

A Carta a Diogneto foi mencionada na Carta do Papa Francisco sobre a renovação do estudo da história da Igreja, publicada em novembro deste ano pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Este texto dos primórdios do cristianismo, segundo o pontífice, está entre aqueles aos quais “aos estudantes raramente são dadas as condições para que leiam”. O convite do pontífice “para que se promova, nos jovens estudantes de teologia, uma verdadeira sensibilidade histórica”, parte da “constatação de que há, na formação dos futuros sacerdotes, uma educação ainda inadequada no que diz respeito às fontes”. O Papa realça, para além da necessidade do “rigor” e da “exatidão”, outros elementos fundamentais no fazer teológico: “paixão e envolvimento: com aquela paixão e aquele envolvimento, pessoal e comunitário, próprios de quem, comprometido na evangelização, não escolheu um lugar neutro e desconexo, porque ama a Igreja e a acolhe como Mãe tal como ela é”.  

Que possamos, neste Natal, reconhecer e dar graças, junto com São Paulo, a quem o mistério foi revelado a caminho de Damasco: “Caríssimo: Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens”. E salmodiar com a Igreja: “Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor”.

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