O "Triplo A" de Bolsonaro e o Acordo do Clima

Amazônia, região perto de Manaus. Foto: Neil Palmer | CIAT

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30 Novembro 2018

O que vem a ser exatamente o ‘Triplo A’? A expressão vem sendo repetida pelo presidente eleito toda vez que justifica alguma prevenção em relação ao Acordo do Clima. Fiz uma breve pesquisa. Encontrei alguns vídeos no YouTube produzidos por militares ou entidades ligadas a militares que abordam o assunto como um grande ameaça nacional.

O comentário é de André Trigueiro, jornalista, publicado por Mundo Sustentável, 29-11-2018.

O vídeo com mais visualizações (185 mil), assinado por “Hoje no mundo militar”, cita um post no Twitter do Comandante do Exército, General Villas Boas, de 19/9, que reproduzo abaixo:

Não há mais detalhes sobre o assunto no twitter do General. O vídeo do YouTube com mais visualizações conta a seguinte história: a Fundação Gaia (baseada em Londres e supostamente apoiada pelo governo britânico) em parceria com a Fundação Gaia Amazonas (baseada em Bogotá) defenderiam a criação de uma ampla área de proteção ambiental denominado Triplo A que viria dos Andes, alcançaria parte da Amazônia seguindo até o Atlântico. Essa área equivaleria aos territórios da Alemanha, França e Espanha. O narrador informa que seria a maior área de proteção do mundo, e que o plano das ONGs internacionais seria influenciar as comunidades indígenas situadas nesse perímetro, ameaçando a soberania nacional.

Nunca havia ouvido falar, nem remotamente, sobre esse Triplo A. Em nenhum dos relatos sobre o Triplo A que eu acessei (não são muitos, e a maioria deles carece de fonte confiável) vi qualquer relação com o Acordo do Clima, o que seria um absurdo completo, já que as propostas que constituem o Acordo foram apresentadas voluntariamente pelos governos de cada nação, sem qualquer ingerência externa. A meta do Brasil foi criticada por inúmeros ambientalistas por ser considerada tímida, muito aquém das nossas possibilidades.

Ao citar o Triplo A na coletiva de ontem em Brasília em que assume a responsabilidade por ter sugerido a não realização da COP 25 no Brasil, o presidente eleito deu gigantesca publicidade a essa história. Ninguém sabe explicar direito como essa ONG teria tanto poder para ameaçar a soberania brasileira. O fato é que a proposta do Brasil para o Acordo do Clima não tem nada a ver com o tal do Triplo A, nem justificou em 2015 (ano em que o Acordo foi celebrado em Paris) qualquer reação parecida com a deste momento no meio militar. Reproduzo abaixo a proposta oficial do Brasil, apresentada em Paris, e chancelada pelo nosso Congresso Nacional (fonte: Ministério do Meio Ambiente);

“O Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa subsequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até 2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030”.

Como se vê, não é possível comparar o Acordo do Clima com o propalado Triplo A. Seria ótimo se alguém pudesse explicar melhor o que uma coisa teria a ver com a outra. Em havendo qualquer evidência, baseada em fatos concretos e devidamente embasados, abrirei generosamente esse espaço para a devida divulgação.

Enquanto isso, reservo-me o direito de pensar que a desistência do Brasil em sediar a COP 25 apequena o país, além de sinalizar um rumo sombrio em relação às excelentes oportunidades que a chamada economia de baixo carbono traz para nós.

Quanto ao Triplo A, em não havendo mais explicações do que as que circulam por aí, corre o risco de ficar marcado como fake news.

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